Agente Cooper estava no Twede's Cafe com o xerife Harry, tomando uma xícara de café. Não havia um só episódio em que ele não tomasse café, o cara adorava aquilo. E Heyoon era ligeiramente apaixonada por ele. Ok, muito apaixonada. Não por café, mas pelo agente Cooper.
Eu sempre podia contar com minha melhor amiga para se apaixonar por personagens fictícios.
Mas eu não podia culpá-la. Não era como se ela fosse a única. Eu não podia negar minha ligeira paixão pelo príncipe Andrei Bolkonsky de Guerra e Paz – principalmente interpretado pelo Mel Ferrer, no filme de 1956 –, pelo doutor Derek Shepherd – mais conhecido como McDreamy – de Grey's Anatomy e – embora fosse mais fácil eu mastigar vidro a admitir isso em voz alta para alguém – pelo Angel, de Buffy, a caça vampiros.
E claro, que garota não era pelo menos um pouquinho apaixonada pelo Sr. Darcy, de Orgulho e Preconceito?
Mas pelo menos eu não ficava suspirando apaixonadamente como se tivesse treze anos cada vez que um deles aparecia na tela, como Heyoon fazia em cada cena de close do agente Cooper.
E, honestamente, o cara tinha sonhos bizarros com anões e gigantes. Ele era totalmente pirado.
Não que eu não curtisse a série preferida da minha melhor amiga. Era até interessante – mas da primeira vez, apenas. Quando você já sabia quem diabos tinha matado Laura Palmer, a coisa meio que perdia o ponto.
Bom, pelo menos para quem não hiperventilava à mera visão daquele policial pirado.
– Vou fazer mais pipoca – anunciei, levantando do sofá com o balde de pipoca vazio. Heyoon apenas assentiu, sem tirar os olhos da TV. Eu fui para a cozinha e bocejei enquanto os milhos explodiam dentro do micro-ondas. A pipoca tinha sido apenas uma desculpa para me levantar e não acabar dormindo no sofá. Heyoon odiava quando as pessoas dormiam na frente da TV, principalmente durante uma maratona da sua série preferida. Mas a verdade era que eu estava acabada e precisava de um descanso.
Uma noite mal dormida, ter Noah Urrea me dando lição de moral, trabalhar no sábado – a galeria abria de terça a sábado então sim, eu era escravizada até no final de semana – e precisar ouvir a indignação de Krys por causa dos meus "calçados inaceitáveis" durante seis horas direto meio que tinha me detonado.
Ah, e ser acusada de assassinato também não tinha sido legal. Krys havia dito que usar crocs era a mesma coisa que enfiar uma adaga no coração de Christian Louboutin.
E eu já estava há três horas vendo TV com Heyoon.
Eu só queria ir para casa.
Mesmo que a ideia de que eu estava pensando no apartamento do Urrea como casa fosse meio perturbadora.
– Ei, por que você está demorando tanto? – Heyoon perguntou, entrando na cozinha usando shorts de moletom e um suéter velho do Josh. – Vai perder a melhor parte!
Suspirei e dei de ombros.
– Estou esgotada, Heyoon – respondi, soando tão cansada como me sentia. – Acho que vou para casa.
Ela franziu o cenho.
– Se está tão cansada, você sabe que pode dormir aqui. Eu não quero ficar sozinha mesmo e o Josh só vai chegar amanhã.
Eu sabia, ela já tinha me falado que Josh precisara fazer uma pequena viagem de trabalho. Mas eu não queria ficar ali. Podia ser egoísta, mas eu só queria muito dormir na minha cama.
– Sinto muito, mas eu realmente quero ir para casa – insisti.
Heyoon ainda tentou me convencer a ficar e, é claro, jogou um pouco com a chantagem emocional "você vai abandonar a sua amiga grávida sozinha e desamparada", mas eu fui firme. Tá, talvez eu estivesse sendo mais do que apenas egoísta, talvez eu estivesse sendo fria e agindo com descaso com minha melhor amiga. Mas eu sempre era a melhor pessoa do mundo para ela e só queria, por uma vez, fazer o que eu sentia vontade de fazer e pronto.

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Perfectly Wrong | Noart
Fanfiction"Noah Urrea é o pior tipo de todos, com uma beleza quase obscena e uma moral muito duvidosa. O tipo de cara que você nunca poderia levar para casa e apresentar para os seus pais. O tipo que vai te deixar louca na primeira oportunidade. Que é um atra...