XXI

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– Nero, é a última vez que falo com você – a irritação coloria minha voz enquanto eu apertava os olhos para aquele gato gordo e folgado. – Sai daí.

Era o dia seguinte ao casamento de Heyoon. Eu não havia dormido, mas não estava mais vestindo meu ridiculamente caro vestido de madrinha – trocara-o por jeans e duas camisetas com um moletom por cima, já que era uma manhã muito fria. Boa parte das minhas outras roupas estava agora em duas malas grandes e, em uma delas estava Nero, esparramado, mas com as unhas agarradas em um dos meus suéteres favoritos.

E ele não queria sair de lá por nada.

Eu estava me segurando para não dar simplesmente um chute naquele felino mal amado. Qual era o problema dele, afinal? Ele me odiava, não devia estar feliz por eu estar finalmente indo embora?

– Nero! – gritei. – Some!

Talvez o grito tenha sido demais, porque logo em seguida eu pude escutar uns ruídos na sala e, antes que eu pudesse correr e trancar a porta do meu quarto, ela foi aberta.

Noah estava, surpreendentemente, vestido com uma calça de flanela e uma camisa branca de mangas compridas, com gola em v, tão velha que eu podia reparar que tinha alguns furos na barra. Mas benção das bênçãos, ele não estava com o peito nu.

Então até ele estava sendo afetado pelo frio daquela manhã. Bom.

– Que gritaria é essa? – ele perguntou, esfregando um olho da maneira mais fofa, quase infantil, os cabelos parecendo um redemoinho em sua cabeça.

Afastei os olhos e os fixei na minha cômoda, que era o móvel mais perto de mim.

– Seu gato não quer sair das minhas roupas – falei, seca.

Urrea piscou, finalmente parecendo reparar no estado do meu quarto. Minhas coisas estavam espalhadas por todo o canto, caixas estavam abertas, algumas meio montadas, pelo chão do quarto. E é claro, as duas malas transbordando com roupas e um gato laranja e gordo numa delas.

– O que significa isso? – ele perguntou, subitamente desperto.

Continuei sem encará-lo.

– Você me expulsou daqui essa madrugada – lembrei-o. – Ou já esqueceu?

Eu não o vi nem o ouvi se mexer. Só senti quando, de repente, suas mãos agarraram meus ombros e me fizeram virar para ele. E ele não me soltou, pelo contrário, suas mãos deslizaram para meus braços, logo acima do cotovelo, e me apertaram como se ele estivesse se segurando para não me chacoalhar.

– Será que você pode tentar não ser tão maluca? – falou, soando tão zangado que eu quase não notei a ironia da pergunta.

Não tentei me soltar porque, quando finalmente fitei aqueles olhos de tempestade, toda a fúria que parecia ter fugido de mim ontem à noite, resolveu aparecer.

– Não sou maluca! – afirmei.

– Absurda, então – ele retrucou.

– Absurdo é você! Você me expulsou!

– Eu tinha bebido!

– E isso é desculpa para ser um babaca? Porque você não precisa realmente da ajuda da bebida pra isso, você nasceu com um talento natural!

Noah me soltou tão abruptamente que eu quase perdi o equilíbrio por um momento. Quando me estabilizei, voltei a fitá-lo e vi que ele tinha me dado às costas.

– Ok, eu fui um babaca noite passada, mas você foi uma vadia completa – falou, passando os dedos furiosamente pelos cabelos bagunçados.

– Você me deixou plantada no casamento da minha melhor amiga – argumentei, porque aquele tinha sido a primeira ofensa.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora