XV

401 41 10
                                        

Mal percebi quando o motorista parou em frente ao prédio. Ele precisou chamar "moça!" pelo menos umas três vezes antes que eu piscasse e percebesse que havíamos chegado. Forcei um sorriso e paguei, antes de sair do carro enrolada em dois casacos. Apressei-me para dentro, mas quando estava dentro do elevador, comecei a pensar se não seria melhor eu dar meia volta e sair correndo. Eu podia ir para a Groelândia...ou para a China...

E se Joel estivesse acordado?

A China era realmente uma boa opção.

Respirei fundo quando as portas do elevador finalmente se abriram e caminhei vagarosamente até a porta. Se era para a merda ser jogada no ventilador, melhor que fosse agora. Girei a chave na porta e entrei no apartamento silencioso. Tudo parecia exatamente como eu tinha deixado, mas meu coração quase parecia saltar do peito enquanto eu me esgueirava para dentro. Meus joelhos quase fraquejaram quando eu tive uma visão completa da sala de estar.

Joel estava esparramado no sofá, dormindo quietamente, a manta que eu tinha usado para cobri-lo estava no chão, a TV ainda ligada no canal de esportes. Seu cabelo castanho caía em seus olhos e, enquanto eu o fitava, ele se mexeu um pouco.

Rapidamente, fechei a porta e corri para o quarto, livrando-me dos casacos e daquela fantasia ridícula. Coloquei tudo no fundo do meu cesto de roupa suja e fui tomar um rápido banho. Eu me sentia muito estranha. Uma grande parte de mim estava finalmente respirando com alívio, feliz por Joel não ter acordado, feliz por ter conseguido, mais uma vez, enganá-lo.

Mas havia uma pequenina parte de mim que não queria mais mentir. Uma pequena parte de mim que sussurrava baixinho no meu ouvido, que dizia coisas que eu não queria escutar. Eu não deveria ser capaz de mentir para o homem que eu amava daquele jeito. Eu não deveria ser capaz de deixá-lo depois de tanto tempo sem vê-lo. Eu não deveria ser capaz de não me importar se ele tinha me levado para a cama ou não.

Essa parte de mim meio que desejava que Joel estivesse acordado quando eu abri aquela porta. Queria que ele me visse chegando, que me confrontasse, que me obrigasse a dizer onde estava e o que estava fazendo. Eu não o havia traído fisicamente com ninguém, mas o havia feito de todas as outras maneiras.

Eu havia mentido, enganado. E o pior, o havia tirado do meu pensamento com uma facilidade que me assustava. Ninguém que estivesse tão profundamente dentro do meu coração deveria poder sair da minha cabeça daquele jeito.

Apoiei minha cabeça sobre a parede fria e quis chorar.

Não fiz isso. Desliguei o chuveiro e me sequei, recompondo-me. Enrolei a toalha em volta do corpo e saí. Quando abri a porta do banheiro, a primeira coisa que vi foi que Joel havia acordado. Ele assistia a um jogo de futebol americano com olhos sonolentos e eu podia ver que ele não estava prestando muito atenção.

No segundo seguinte, ele se virou para mim e deu um sorriso meio envergonhado.

– Eu não percebi que estava com tanto sono – disse, parecendo realmente triste. – Desculpa, Sina. Eu não estou sendo o melhor dos namorados, não é?

As lágrimas que não caíram no banheiro ameaçaram cair naquele momento, mas eu engoli e novamente as impedi de riscarem meu rosto.

– Você é o namorado perfeito – falei, com a voz meio trêmula.

Eu que era uma vadia completa.

Ele desligou a TV e se virou completamente para mim. A sala ficou numa semi escuridão, iluminada apenas levemente pela luz da rua que se esgueirava pela janela, num ponto onde a cortina não estava totalmente fechada.

– Me deixa provar isso? – pediu.

Eu só assenti e perguntei, num fio de voz:

– Como?

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora