XXIV

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Minha mala não estava muito pesada, embora a cada passo que eu dava, parecia que seu peso ia aumentando. Por algum motivo, era assustador voltar. Eu já não era a mesma pessoa que tinha ido embora e, ainda que tenha sido apenas por uma semana, eu não era a mesma Sina Deinert que havia fugido de Nova York depois de um beijo.

Um beijo que ainda me mantinha acordada à noite, mas mesmo assim, um beijo.

Peguei minha chave e percebi que minha mão tremia. Respirei fundo e tentei me controlar o bastante para girar a chave na fechadura. Finalmente, entrei no apartamento que dividia com Noah. Casa. Broome Street, Manhattan. Nova York.

Ir para Parsons tinha sido bom. Educativo. Definitivo. Eu sempre teria uma casa lá com meus pais, isso era verdade, e seria difícil deixar de me referir àquele lugar como casa. Mas ele não era mais. Minha casa agora era ali, exatamente onde eu estava, parada no vestíbulo do apartamento, percebendo com apenas um olhar que o lixo estava acumulado e que havia louça suja na pia. Eu sorri. Depois ri. Eu me sentia leve e feliz como não me lembrava de ter estado em muito tempo.

Nunca havia imaginado que pratos sujos e embalagens vazias de cup noodles podiam me fazer tão bem, mas a verdade era que faziam. E o motivo para isso era apenas um. Era o habitat do cara mais sexy daquela ilha – o cara cuja falta eu sentira a cada segundo, como se tivéssemos passado meses separados e não apenas alguns dias.

O apartamento estava vazio e, depois de fechar a porta, eu fui com minha mala até meu quarto. A desfiz rapidamente, colocando minhas roupas com cuidado no armário. Depois fui até a janela e a abri completamente, sentindo o vento frio do outono atingir meu rosto e tingir minhas bochechas de vermelho. Era como eu sempre ficava no frio, rosada como uma maçã. Tirei meu cachecol e minhas botas e girei no meio do quarto, com os braços bem abertos, os olhos fechados. O sorriso não abandonando meus lábios nem por um segundo.

Eu havia feito a coisa certa.

Dizer não para Joel havia sido mais fácil e, ao mesmo tempo, mais difícil do que eu havia imaginado. Foi fácil recusar, porque eu não me sentia nem um pouco tentada. Eu não queria me casar com ele. Eu não queria me casar e pronto. E foi difícil, porque eu não queria magoá-lo. Mas eu também havia jurado não me magoar deliberadamente. E era isso que eu faria se tivesse dito sim.

Era o que eu faria se continuasse com ele.

Não foi bonito. Não foi limpo. Não foi fácil. Quebrou um pouquinho do meu coração, o pouquinho que sempre pertenceria a Joel.

– Como... como você pode dizer que não está apaixonada por mim depois de... depois de me amar desse jeito, Sina? – ele havia perguntado, vestido apenas com a calça, logo depois que eu dissera que não podia me casar com ele porque não o amava mais. Não como antes.

Eu havia me coberto com o lençol, embora achasse um pouco ridículo. Ele havia estado dentro de mim minutos antes, por que a modéstia? Talvez porque fizesse as coisas um pouco mais fáceis para nós dois.

– Esse é o problema, Joel – eu respondera, ainda sentada na cama. – Isso que acabou de acontecer entre nós não foi amor. E se você não conseguiu ver a diferença, só faz com que minha decisão pareça mais certa. Nós não podemos continuar com isso.

E aí havia sido quando eu resolvi contar toda a verdade para ele. Sobre Noah e como eu morava com ele havia meses. Sobre o beijo. Sobre como eu me sentia sobre ele.

E Joel, que nunca havia me tocado com violência, nem mesmo quando eu o traí com Kenneth, agarrara-me pelos braços com força suficiente para me assustar. Não havia chegado a me machucar, mas eu podia ver o quanto ele estava se controlando e mesmo assim, não parecia ser suficiente.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora