O som da campainha tocando repetidamente me acordou do meu torpor. Cobri o celular com a mão e gritei:
– Já vou!
Voltei a colocar o aparelho na orelha a tempo de escutar Joel dizer:
– Sina? Você ainda está aí?
– Estou sim, Joel, mas eu realmente preciso desligar – não sei como, mas consegui dizer num tom de voz quase normal. – O entregador já está ficando impaciente. Depois nos falamos, ok?
Ele concordou e voltamos a nos despedir. Desliguei o celular e o deixei no balcão, depois fui atender a porta. O entregador estava de fato impaciente e nem esperou pela gorjeta. Peguei minha comida e a coloquei sobre o balcão, mas havia perdido a fome.
O que diabos eu iria fazer?
Não podia mais pedir o apartamento da Heyoon emprestado porque ela havia se mudado – eu até havia mencionado isso para Joel em uma de nossas conversas –, o que me deixava meio sem opções. Era evidente que eu não podia trazê-lo para cá, não sem correr o risco de um Noah, vestido só com uma toalha ao redor dos quadris, aparecer me perguntando sobre suas chaves ou qualquer coisa assim.
Joel me mataria, eu não tinha nem dúvida.
Estava tão ferrada que decidi que não me preocuparia com isso ainda. Eu era muito boa em adiar os assuntos nos quais não queria pensar. Eu só precisava me distrair, depois, com certeza, teria uma ideia brilhante que me tiraria dessa confusão.
Voltei à sala e coloquei no meu canal preferido. Candelabro Italiano começaria em 45 minutos, então deixei a TV no mudo, pequei meu notebook e meu yakissoba e me esparramei no sofá, me forçando a comer enquanto respondia a um e-mail da minha mãe.
A Sra. Pam Deinert era, sem dúvida, uma mulher moderna.
Ela basicamente queria saber se eu estava comendo direito, se meus colegas de trabalho eram gentis comigo, como iam Heyoon e Josh e se meu colega de quarto continuava sendo um babaca completo.
É claro que eu nunca poderia nem pensar em esconder a verdade dela. Minha mãe conseguia detectar uma mentira num raio de mil milhas.
Eu respondi que sim, eu estava comendo muito bem, se comer muito bem significava muitos litros de café e comida para viagem a maior parte do tempo. Krys continuava sendo o mesmo descarado de sempre, mas era impossível não amá-lo e Cherry era uma bruxa vingativa. Mas eu também não conseguia desgostar dela, até porque era ela quem assinava meus cheques. Heyoon e Josh estavam cada dia mais felizes juntos, mas a gravidez não deixou minha melhor amiga florescendo como uma flor na primavera como todos dizem que deve acontecer. Pelo contrário, parecia que ela tinha adquirido TPM eterna. Noah era um filho da puta maldito, mas ela já sabia disso. Preferi não comentar com ela o incidente da noite anterior e, ao invés disso, perguntei sobre o papai e se ela sabia que o Joel viria me visitar em duas semanas.
Depois que fechei meu notebook e terminei de comer, o filme já estava começando. Enrolei-me no cobertor e minha atenção foi totalmente tomada pelo filme que eu já tinha visto umas vinte vezes, mas que continuava a amar. Troy Donahue estava simplesmente irresistível como Don Porter.
No meio do filme, meu celular tocou, mas eu o ignorei porque era Heyoon, provavelmente com o intuito de me xingar e me ameaçar de morte. Ela tentou mais duas vezes e depois desistiu. Depois eu ligaria para ela, me desculpando. A garota era minha melhor amiga há anos e bem sabia que eu jamais atenderia o celular para ser xingada bem no meio de Candelabro Italiano nem de qualquer filme com o Cary Grant.
Quando o filme acabou, eu estava meio sonolenta. Outro filme começou, um que eu não conhecia, mas não conseguiu prender minha atenção e, pouco tempo depois, eu acabei dormindo.

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Perfectly Wrong | Noart
Fanfiction"Noah Urrea é o pior tipo de todos, com uma beleza quase obscena e uma moral muito duvidosa. O tipo de cara que você nunca poderia levar para casa e apresentar para os seus pais. O tipo que vai te deixar louca na primeira oportunidade. Que é um atra...