XVII

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Enquanto eu limpava o que podia do tapete destruído – com luvas e máscara cirúrgica – e enrolava-o para mandar à lavanderia no dia seguinte, ponderei sobre meu triste destino.

Ok, não era tão triste quando você pensava que existiam pessoas no mundo que desconheciam a importância do álcool em gel. Mas mesmo assim era bem triste.

Eu podia estar tendo uma noite maravilhosa. Eu podia estar rolando pelo chão – antes de ele ter sido vomitado – com meu namorado, tendo horas de sexo extraordinário e selvagem. Não que Joel fosse exatamente selvagem – mas era extraordinário.

Mas não. Eu estava ajoelhada no chão – e nem era pra fazer nada sexual, e sim para limpar o vômito do meu colega de trabalho e do cara com quem, infelizmente, eu morava. Limpar. Vômito.

Quando estavam distribuindo desgraça, eu devo ter entrado duas vezes na fila.

Coloquei o material contaminado em um saco plástico grande e o amarrei bem, apenas para colocá-lo em mais dois sacos. Tudo para ficar o mais longe possível do alcance daquele cheiro horrível. Joguei minhas luvas no lixo e, aproveitei que estava só de toalha e fui tomar outro banho. Eu sabia que estava limpa, e sabia que a sala estava limpa – eu tinha passado a última meia hora esfregando o chão – mas eu ainda sentia um cheiro de vômito imaginário, então fui, infeliz, gastar mais um terço do meu shampoo de pera e do meu óleo corporal de flor de cerejeira.

Não demorei muito e, quando saí, coloquei um short e uma camisa grande o suficiente para cobri-lo, com a estampa do Tom, de Tom e Jerry, e velha o bastante para já ter ido para o lixo. Penteei meu cabelo com os dedos, já que ele quase não fazia nós depois que eu o cortara e abri a porta para ir para a sala, mas dei de cara com um Krys com o punho levantado, prestes a bater.

– Ahn – ele começou, parecendo miserável. Ficar sóbrio em um instante faz isso com você. – O Urrea já está dormindo, então eu acho que já vou...

Depois que Joel foi embora, Krys me ajudou a carregar um Noah muito bêbado e muito sortudo por estar bêbado. Se ele estivesse sóbrio, estaria a caminho da sala de cirurgia – com um martelo enfiado no cérebro. Enfim, eu o deixei sozinho para colocar meu colega de apartamento na cama depois que o desgraçado fez outra de suas insinuações.

– O idiota está bem? – me obriguei a perguntar.

Krys passou os dedos pelos cabelos e apertou um pouquinho os olhos, que estavam avermelhados.

– Ele vomitou um pouco mais – falou.

Gemi.

Oh não.

Krys percebeu meu drama e se apressou em me acalmar.

– Não se preocupe – falou –, eu limpei tudo enquanto você estava no banho.

Eu teria que inspecionar essa limpeza depois, mas... que diabos? Eu não teria que inspecionar merda nenhuma! Era o quarto daquele demente, se ele quisesse decorar com bosta de elefante, o problema era dele. Contanto que o cheiro não atingisse outras partes do lugar, eu não me importava com o que acontecia naquele quarto nojento.

Não muito.

Quer dizer, sempre existiam emergências. E se um dia eu precisasse dormir no quarto dele de novo?

Oh Deus, eu não podia acreditar que tinha acabado de pensar aquilo.

Mas... tinha acontecido uma vez... e não dava para prever as desgraças que podiam acontecer comigo, desde que eu perdi a última gota de sorte que tinha no corpo. E se um cano estourasse no banheiro e alagasse meu quarto? Ele era do lado do banheiro, ia ser a destruição máxima. Aí eu poderia precisar dormir no quarto do Noah... então era melhor que estivesse limpo...

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora