XXII

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Apertei o cinto da minha poltrona. Eu odiava voar sozinha. Com alguém ao meu lado para conversar, pelo menos eu ficava distraída do fato mais importante...

Eu odiava voar. Ponto.

Não importava que eu fosse uma jovem razoavelmente inteligente de 23 anos que havia frequentado uma excelente universidade. Eu nunca iria entender a lógica que permitia que um avião que pesava toneladas ganhasse os céus.

Se fosse natural sair voando por aí, eu teria nascido com asas.

Mas eu não podia negar que era conveniente poder atravessar milhas e milhas em apenas algumas horas. E era exatamente disso que eu precisava. Colocar o maior espaço entre mim e Nova York.

Bom, pensei durante a decolagem, pelo menos o meu nervosismo por voar me impedia de pensar do que eu estava fugindo. Quer dizer, quase. E quando a aeronave se estabilizou a trinta mil pés do chão – se é que eu podia considerar aquilo estável – apenas uma pequena parte da minha mente se preocupava com todos os acidentes possíveis – e alguns nem tão possíveis assim – enquanto a maior parte repassava as últimas doze horas da minha vida como um filme atrás dos meus olhos.

Um filme bem ruim, para ser honesta.

Eu chorei depois que Noah me beijou. Não imediatamente, eu não ia me permitir ser tão patética. Primeiro saí da escada de incêndio e atravessei a multidão que abarrotava a sala – um cara beliscou minha bunda e eu chutei as bolas dele sem fazer alarde – para me trancar no meu quarto. Coloquei meus fones com o volume no máximo, fazendo meus ouvidos arderem e minha cabeça doer. Peguei uma caixa em meu armário onde eu guardava o antigo jogo de talheres que eu comprara quando me mudei com Heyoon – Noah tinha talheres decentes o suficiente, então eu nunca usava os meus. Peguei um garfo e o limpei com álcool em gel e um lenço de papel – as lágrimas silenciosas já riscando meu rosto.

Finalmente, sentei-me no chão com as costas apoiadas na cama e peguei a caixa com a torta. Ver o glacê cor de rosa e os pequenos morangos vermelhos intercalados por fatias de maçã em meia lua me fez soltar um soluço abafado. Noah nem gostava de doces. E mais um fluxo de lágrimas escorreu por meu rosto até o queixo, pingando em minhas mãos trêmulas.

Comi a torta. E chorei.

Eu não estava chorando porque Noah me beijou e depois me largou sozinha. Nem era o fato de que ele estava provavelmente trocando saliva – e outros fluidos, eca – com alguma outra mulher por aí, e que os meus foram apenas outros lábios para ele.

Mesmo que isso fosse o bastante para abalar a autoestima de uma garota.

Não que eu fosse feia ou mesmo comum. Eu sabia que era bonita.

E também sabia que beleza nunca seria o suficiente para Noah Urrea.

Inferno, não era o suficiente para mim.

Também não era culpa por ter traído Joel de novo. Não no início, pelo menos. Eu nem consegui lembrar do meu namorado naquele momento e, de certa maneira, um beijo deveria parecer pálido em comparação com o que eu havia feito antes. Eu não me deitei com Noah. Eu não achava que estava grávida dele.

E, principalmente, ele não era casado.

Mas, contrariando tudo o que era lógico, aquele único beijo me pareceu – quando eu finalmente consegui pensar nisso – uma falta maior. A culpa, porém, não me consumiu de imediato. E não havia sido a razão das minhas lágrimas.

Eu estava chorando por finalmente ser obrigada a encarar uma verdade que tentava ignorar há muito tempo.

Eu não estava mais apaixonada por Joel Clarke.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora