Em algumas culturas, o sangue é algo sagrado, e na cultura dos vampiros, o sangue é algo vital. É o sangue o principal componente para o contrato que torna uma pessoa em vampiro, é o sangue que torna a ligação das famílias fortes. É o sangue que guia as vontades dos seres. E é o sangue que guia as almas das pessoas, por isso que os descendentes de uma família são importantes, já que as almas que não conseguirem fazer a passagem para o outro plano, reencarnam nos seus descendentes. Por isso, quando um companheiro de alma falecia, a família do vampiro enlutado se responsabilizava por cuidar dos descendentes, esperando que a alma do companheiro voltasse em algum momento. Isso poderia levar anos, ou séculos. E era algo muito raro de ocorrer. Havia exceções, em que a alma reencarna em outra família. Mas esse fator era tão mais raro do que a reencarnação por descendência.
– Giyuu... promete me achar?
Havia contado o fator da reencarnação para Tanjirou, que ficou maravilhado com aquela história, tanto que se lembrou dela nos seus últimos de vida. E ouvir da boca de Rengoku, que os últimos Kamados haviam falecido há quase dez anos, era um baque forte. Não iria mais achar a sua flor de lírio branco. Nunca mais.
– Não contamos antes, por receio de você ter uma recaída.
Rengoku havia o chamado para ter uma conversa séria naquela manhã em seu escritório, sozinhos. Pela cara séria, Tomioka achou que ele havia feito algo muito grave. Só havia visto aquela expressão três vezes em todos os seus anos como vampiro, quando havia salvo Kanae de ser morta, quando Tanjirou foi morto na rebelião em Monte Arimã e quando uma guerra entre as famílias quase estourou há setenta anos. O escritório tinha paredes em tons de amarelo vibrante, dando uma alegria no local. Giyuu se sentia anestesiado com a fala de Rengoku, sentia como se o chão tivesse virado uma geleia.
– Tudo bem Giyuu?
– Acho que sim...acho que sim...eu só, preciso de um tempo, sabe?
– Você tinha a esperança de encontrá-lo?
– Sempre. Mesmo sabendo que eu não vou mais encontrá-lo, eu ainda tenho esperanças sabe?
– Entendo...
O loiro deu um pequeno sorriso culpado. Havia conversado com Sanemi e Shinobu naquela manhã, e decidido que contaria as coisas aos poucos, para não causar muitos estragos. Dariam tempo ao tempo.
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O cheiro de café inundava os seus sentidos. Sentia o seu corpo pesado, um pouco dolorido, mas nada que o impedisse de se mover. Sentia muita preguiça, e o cheiro dos lençóis e dos travesseiros lhe eram atraentes. Estava em um sono leve, meio acordado, meio dormindo. Mas foi uma voz masculina grave cantando que o fez acordar. Levantou em um pulo, se arrependendo logo em seguida, ao sentir uma pontada na coluna e o ardor de sua entrada. Ele havia transado? É lógico que havia transado. Estava nu, todo marcado e dolorido. Tentava se lembrar do que havia acontecido, sua cabeça latejava pela quantidade de bebidas que havia ingerido na noite passada, seu estômago revirava, indicando que a qualquer momento o que tinha em seu estômago sairia. Seus olhos correram rapidamente pelo quarto, focando na porta entreaberta do banheiro; correu na direção do vaso sanitário, colocando tudo para fora. Seu cabelo atrapalhava na hora do vômito, ouviu passos apressados e mãos tirando o cabelo loiro de perto do vaso sanitário.
– Calma anjo, eu te ajudo.
Uzui juntou as longas madeixas loiras em um coque, usando a xuxinha que prendia os seus cabelos cinzas. Se agachou ao lado do loiro, que dava pequenos solavancos a cada golfada dentro do vaso. O loiro sentia sua garganta doer, ao sentir o líquido que estava em seu estômago, que lutava para subir até a sua boca. Não soube muito bem quanto tempo ficou naquela posição, mas sentia um conforto quando Uzui alisava as suas costas e dizia palavras de incentivo e tranquilidade. Assim que pôs tudo para fora, Uzui o ajudou a se sentar no chão frio. O albino fechou a tampa do vaso, dando descarga logo em seguida. Caminhou em direção a banheira, enchendo-a com água morna e colocando alguns sais aromáticos de banho. Pegou o loiro no colo, colocando-o dentro da banheira. Zenitsu relaxou no instante em que esteve dentro completamente dentro da banheira, deitando a cabeça na parede fria do banheiro. Olhou para o grande homem que estava agachado do lado de fora da banheira, o olhando com carinho.
– Bom dia – sua voz saiu meio rouca por causa do esforço que teve mais cedo. Tentou dar um sorriso, mas não saiu mais do que um pequeno levantar de músculos da face.
– Bom dia. Está melhor?
– Um pouco...que horas são?
– Quase duas da tarde. Quer comer algo?
– Não sei se aguento.
– Vou fazer algo bem leve. Vou trazer uma muda de roupas para você. Leve o tempo que você precisar.
Disse dando um beijo carinhoso na testa do loiro, que sentiu seu rosto arder em vergonha. Ele só não sabia se era pelo pequeno gesto de carinho, ou pelos vários arranhões que o mais velho tinha nas costas e nos braços. Passaria o resto de sua vida naquele banheiro.
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– Tanjirou! Você viu a caixa com os meus livros? – gritava Nezuko, dentro do seu quarto, terminando de desempacotar as suas coisas.
– Deve estar no meu quarto, procure lá!
Tanjirou terminava de colocar o orégano na lasanha, abrindo a tampa do forno e colocando a travessa dentro. Olhava para o seu celular, esperando Zenitsu responder às suas mensagens. Estava preocupado, desde que o loiro havia saído de mãos dadas com o homem que havia visto na escola, não havia mais recebido nenhum sinal de vida por parte do Agatsuma. Estava preocupado com o amigo. Viu a Kamado saindo do seu quarto com uma grande caixa nas mãos, colocando no próprio quarto. O ruivo caminhou até a porta do quarto da irmã, vendo-a abrir a grande caixa de papelão.
– Quer ajuda?
– Quero sim. Nenhuma notícia do Zeni?
– Nada. Será que ele está bem?
– Aposto que sim. Você viu o cara que ele foi embora? Uma gracinha.
– Nezuko! Ele pode ser um assassino, ou um abusador, ou...ou...
– Ah, qual é Tan! Você é bem careta às vezes. Relaxa! Você deveria ser menos responsável. Pelo ou menos de vez em quando. É divertido, sabe?
– Eu tenho é medo.
A mulher riu da cara de desespero do irmão. Era sempre assim, Tanjirou sentindo que deveria ser responsável por todo mundo e Nezuko tentando fazer com que o irmão relaxasse mais. Aquela mania começou após o acidente que levou a vida dos seus pais. Tanjirou não reclamava de nada, sempre encarando a reabilitação de cabeça erguida, se preocupando em fazer a irmã se sentir bem e continuar os estudos. O ruivo dificilmente pedia ajuda para alguém, nem quando tinha as dores fantasmas na sua perna esquerda, que eram quase insuportáveis, mesmo com os remédios. E essa mania de guardar tudo para si, que fazia com que Nezuko se preocupasse com o irmão e tentasse fazê-lo ter uma vida mais leve, normal, como qualquer pessoa por aí.
– E como vai o seu plano com os sonhos?
– Fiz uma lista dos lugares que eu venho sonhando. Vou me encontrar com o Inosuke hoje, para saber onde são esses lugares.
– E depois?
– Eu não faço a menor ideia.
– Eh?
– Eu...espero me lembrar de algo. Como o nome dele.
– Esqueci que você não consegue ouvir o nome dele.
O ruivo concordou, tinha esperanças de saber quem era o moreno dos seus sonhos. Se soubesse o nome, poderia ter um norte de onde procurar. Já sabia qual era a cidade dos sonhos, só faltava saber quem era aquele homem. Não acreditava muito em vidas passadas, mas com as coisas que estavam acontecendo na sua vida, ficava difícil não acreditar.
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Fragmentos
FanfictionNo auge dos seus vinte e sete anos, Tanjirou decide se mudar com a irmã mais nova, para uma cidade turística no interior do país. Onde esperava encontrar um pouco de paz e respostas. Tanto para a sua vida, quanto para os sonhos malucos que sempre te...