– Acorde querido.
Sentia que estava deitado em uma superfície dura, fria, desconfortável. Sentia frio. Sentia calor. Sentia que o seu corpo estava pesado. Sua cabeça estava pesada. Parecia que havia água em seus ouvidos, pois escutava os barulhos abafados. Parecia passos. Tinha alguém correndo. A respiração da pessoa estava desregulada, ofegante, sofrida.
– Acorde querido.
Abriu os olhos, o céu estava vermelho. O céu não era vermelho. Era azul. Tecnicamente azul. E as nuvens não eram pretas, e sim brancas. Não tinha um sol, mas algo que se assemelhava com uma lua toda rachada e se despedaçando.
– Acorde querido.
Estava deitado no que parecia ser um lago. A água vermelha cobria todo o seu copo, exceto sua cabeça. Isso explicava o motivo de escutar os sons como se estivesse debaixo d'água. Aquela água era pesada, densa, tinha um cheiro doce. Um cheiro que o inebriava.
– Acorde querido.
A voz de alguém o chamava. Quem era? De onde vinha? Sentia que conhecia aquela voz. Que sentimentos aquela voz o trazia? Ele não sabia responder.
– Acorde querido.
Quem era ele? Aonde estava? Estava vivo? Estava morto? Não sentia nenhum dos seus membros.
Estou morto.
Mas conseguia respirar, ouvia os batimentos do seu corpo, sentia o sangue em suas veias.
Estou vivo
– Acorde querido.
Quem era esse querido? Era ele? Quem deveria acordar? Era ele? Estava dormindo? Mas onde? Aquilo era um sonho? Como?
– Acorde querido.
Uma figura feminina. Era uma mulher? Sim. Uma mulher. Cabelos grandes e ondulados, mais negros que a própria escuridão. Olhos vermelhos. Vermelhos como rubis. Não tinha uma pupila humana. Tinha fendas, assim como as cobras. Sua pele era branca, como a neve. Como os cadáveres.
– Acorde querido.
Sua voz carregava uma falsa inocência. Mas o seu olhar transmitia toda a malícia daquele ser feminino. Suas curvas eram esbeltas. Estava nua. Assim como ele. Nu. Ela flutuava em cima de si.
– Acorde querido.
Não estava deitado. Não mais. Estava em pé. Sobre a água. Aquilo não era água. Não. Era sangue. Fresco. Velho. Morto. Sangue de vampiro. Sangue de humanos. Sangue de culpados. Sangue de inocentes. Seu sangue.
– Acorde querido.
Abriu os olhos, vendo o espetáculo macabro que se desenrolava na sua frente. Aos seus pés, estavam os corpos de Genya, Muichiro, Rengoku e Shinobu. Todos mortos. Mutilados. Sem alguns membros. Apodrecendo. Se decompondo. Crânios abertos. Cérebros espalhados pelo chão.
– Acorde querido.
Três cruzes. Três crucificados. Giyuu estava sem suas pernas. Uzui estava sem nada do peito para baixo. Dava para ver os seus pulmões trabalhando, em busca de oxigênio. Kanae estava sem a pele, em algumas partes, podia ser vista os seus ossos.
– Acorde querido.
Gritos. Alguém estava gritando. Alguém estava gritando de dor. Tanjirou. Sendo devorado por cães. Três cães brancos, sujando sua pelagem albina com o sangue de Tanjirou.
– Acorde querido.
Não conseguia se mover. Quem era ele? Quem era aquela mulher? Onde estava? O que estava acontecendo ali? Por que não conseguia se mover?
– Sanemi!
Um grito. Alguém estava correndo. Alguém estava correndo na sua direção. Uma mulher. Calos longos e negros. Olhos rosados. Pele clara. Não era aquela mulher no céu, sobre ele. Aquela mulher o chamava de Querido. Não era Querido, não daquela mulher de olhos ofídicos.
– Sanemi!
Conhecia aquela voz. Podia se passar séculos. Anos. Poderia se esquecer quem era, mas nunca aquela voz.
– Sanemi!
Nezuko. Estava vestindo um vestido de baile de época amarelo. Mas por que estava vestida assim? Ela não gostava de coisas extravagantes.
– Sanemi!
Mudou. Usava uma blusa social branca, calça jeans e um tênis. Seus cabelos, agora mais curtos, estavam presos em um rabo de cavalo alto.
– Sanemi!
Tinha que correr até ela. Tinha que abraçá-la. Dizer que amava. Que ainda a ama. Que quer ter uma família com ela. Viver a sua eternidade com ela. Sentir novamente o sabor do seu beijo. Ser feliz de verdade.
– Sanemi!
Começou a correr em direção a Nezuko. Mas parecia que não saia do lugar. Por mais que tentasse, não conseguia alcançá-la.
– Sanemi!
Um último grito. Antes da mulher com olhos de cobra aparecer atrás de Nezuko. Atravessar o corpo frágil da humana com o seu braço. Presas surgiram de sua boca. Se afundando no pescoço imaculado de Nezuko. Ela gritava. De dor. De horror. De pavor. Se debatia, tentando escapar. Braços estendidos para Sanemi. Pedindo socorro. Suplicando ajuda. Suplicando pelo seu socorro. Pela sua ajuda.
– Sa...ne...mi...
O copo caiu no chão. Sem vida. Com um buraco no peito. Onde se localizava o coração. Que agora, batia nas mãos ensanguentadas da mulher de pele pálida. Seu sorriso alcançava as orelhas. Seus olhos se tornaram negros. Devorava o coração de Nezuko lentamente. Sanemi caiu de joelhos no chão. Sem forças. A mulher caminhou até ele. Passando por cima do corpo falecido de Nezuko. Chegou perto do seu ouvido, e sussurrou, antes de morder o seu pescoço com as grandes presas afiadas. Pressas de uma cobra.
– Acorde...querido.
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Fragmentos
FanficNo auge dos seus vinte e sete anos, Tanjirou decide se mudar com a irmã mais nova, para uma cidade turística no interior do país. Onde esperava encontrar um pouco de paz e respostas. Tanto para a sua vida, quanto para os sonhos malucos que sempre te...