O corpo humano era o receptáculo da alma. Na verdade, qualquer corpo era um tipo de receptáculo para qualquer tipo de alma ou sentimento. Amélie teve muito tempo para aprender sobre isso. Por muito tempo, sobreviveu pela raiva das pessoas, se alimentou do desespero que as guerras provocavam por toda a Europa. Mas isso não era o suficiente. Nunca era o suficiente. Não para se ter um corpo físico, mas para manter a sua alma. As coisas começaram a ficar difíceis quando um ceifador foi designado para recolher a sua alma. Nunca havia se sentido tão desesperada em sua vida, nem quando foi guilhotinada publicamente. Mas havia uma salvação, sua única salvação. Uma alma desesperada, suplicando por ajuda. E por ironia do destino, a alma que suplicava por ajuda, estava prestes a ser ceifada por Sanemi. Foi fácil se apossar daquele corpo sem alma, mas com vida. Sentia tudo, todas as dores dos cortes e ferimentos daquele corpo masculino. Depois de se arrastar pela floresta, Amélie conseguiu chegar próxima do vilarejo, que ardia em chamas. Começou a rir histericamente, estranhando a voz grave e masculina que saia de sua garganta. Assim que as coisas se acalmaram, ela, ou melhor, ele foi resgatado pelo que era, a suposta esposa daquele homem. Demorou muito tempo para que o seu corpo se recuperasse, e entender como tudo estava funcionando.
A sede por sangue era incontrolável, ao ponto de não hesitar em morder e sugar todo o sangue de sua "filha". A pobre criança acabou não resistindo e falecendo. Durante um bom tempo, planejou em como teria a sua vingança e começou a fazer experimentos. Percebeu que era mais fácil tomar o corpo de quem tinha o seu sangue, por isso, começou uma caçada em busca das melhores mulheres. Sempre procurando as mais ricas, as mais poderosas, as que tinham mais a oferecer. Não sentia pena de nenhuma delas, não passavam de meras reprodutoras, ferramentas para a sua vingança. Amélie valia mais do que a vida daquelas mulheres. Aquela família era amaldiçoada, e Amélie se sentia extremamente satisfeita por ser a causadora de toda a desgraça da dinastia Kibutsuji. E por isso, atormentar o seu último herdeiro, seu último filho, era o seu passatempo favorito.
– Confortável?
Muzan não falou nada, continuou de cabeça baixa. O homem estava acorrentado, de joelhos em meio ao que seria um pequeno lago. Sabia que estava dentro de sua mente, um lugar onde Amélie o mantinha trancado e longe do controle do seu corpo.
– Você deveria ser mais educado com o seu pai.
– Você não é o meu pai. Não sou filho de um monstro como você.
– Ah, se engana. Mas não se preocupe, vou lhe dar um propósito grandioso.
– Desgraçada...
– Não se preocupe, seu adorável Kagaya Ubuyashiki está seguro, e vivo. Por enquanto.
Muzan se levantou, ficando a centímetros do rosto de Amélie. Seu verdadeiro rosto, onde um sorriso maligno estava estampado. Muzan estava enfurecido, não se importava com as feridas em seus pulsos que se abriam, à medida que ele forçava as correntes, para se aproximar de Amélie.
– Não se atreva, a encostar um dedo nele!
– Ora, não se preocupe criança. Eu honro os meus acordos. E esse foi o trato, não foi? Você me dava o controle do seu corpo, e eu deixava o seu namoradinho viver, além de salvar a vida dele, é claro.
– Salvar? Foi você mesma que causou aquele acidente.
– Eu não teria que tomar medidas extremas, se você não tivesse fugido de mim. Não entende? Você só serve como uma casca para mim. Não tem o direito de ser feliz. Saiba o seu lugar.
E desapareceu, deixando o homem sozinho. Muzan rezou. Rezou para que algum ser ou entidade o escutasse, e desse um fim aquele sofrimento todo.
– Meu senhor, tudo está ocorrendo conforme o planejado.
Muzan, ou melhor, Amélie abriu os olhos. Estava em seu escritório, e na sua frente, curvado em sinal de respeito, estava o seu lacaio. Os grandes cabelos loiros estavam presos em uma trança lateral. Se ajeitou na cadeira, bebendo uma dose de Gin, que repousava no copo em cima da mesa.
– Os corpos estão posicionados de maneira certa?
– Sim senhor. Só falta mais um corpo, quem o senhor deseja? Um dos irmãos Kamado? Alguém da família Hashira?
– Não, os irmãos vivem, por enquanto. E não vamos fazer muito alarde com os Hashira. Ainda não é a hora. Akaza não tinha informado, que Tengen estava se envolvendo com alguém?
– Sim senhor, temos todas as informações sobre ele. Deseja que ele seja a próxima oferenda?
– Sim. Faça de maneira lenta, dolorosa. Quero que esse garoto sofra uma morte lenta. Grave tudo e mande de presente para aquele desgraçado do Tengen.
– Vamos deixar tudo nas mãos de Akaza?
– Não, dessa vez você pode ir se divertir Douma. E leve o garoto com você, vamos testar se ele é tão leal como se diz.
– Sim senhor.
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Fragmentos
FanfictionNo auge dos seus vinte e sete anos, Tanjirou decide se mudar com a irmã mais nova, para uma cidade turística no interior do país. Onde esperava encontrar um pouco de paz e respostas. Tanto para a sua vida, quanto para os sonhos malucos que sempre te...