Capítulo XXXV - Conversas

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– Uzui, eu posso muito bem comer sozinho.

Tal fala começou a se tornar rotineira para Zenitsu no terceiro dia, quando finalmente tinha controle do seu corpo. Ser vampiro era uma coisa estranha, ao mesmo tempo em que era incrível. Os sentidos ficavam mais aguçados, você não sentia frio, já que o seu corpo já era uma pedra de gelo. Você não tinha muito controle da sua força, e sua garganta ficava constantemente seca e dolorida, até beber um pouco de sangue, e tudo melhorar. A casa do lago foi rapidamente arrumada e adaptada para a estadia sem data de retorno de Zenitsu na sociedade.

O loiro sentia muita saudade dos amigos, embora conversassem por telefone, não era a mesma coisa. O contato corporal era muito melhor do que o virtual. Quando soube de sua condição por Shinobu, várias coisas passaram pela sua cabeça. Quanto tempo eu dormi? Eu realmente fui morto, ou quase morto? Eu virei um vampiro? Eu tenho poderes, como os de Crepúsculo? O que vai acontecer com o meu avô? Kaigaku realmente tentou me matar? Ele virou um mostro? Eu virei um mostro como o Kaigaku?

A crise de choro não demorou muito para vir. E se ele machucasse as pessoas que gostava e amava? Seu avô, Tanjirou, Nezuko, Inosuke, Aoi... ele ainda poderia dar aulas? Amava lecionar. E se ele não conseguisse mais tocar nenhum instrumento musical? Seu ouvido estava mais sensível do que o normal, ao ponto de Uzui ser obrigado a sussurrar em alguns momentos.

– Pode até conseguir. Mas eu gosto de te mimar.

Não teve como Zenitsu não corar, sem jeito com a forma em Uzui o tratava, com muito carinho e atenção. Por vezes, o loiro achava que aquele tratamento todo que estava recebendo, era culpa. Culpa que os membros da família Hashira sentiam, por tudo o que o Agatsuma teve que passar e suportar. Mas, Uzui fazia questão de esclarecer tudo, e retirar qualquer dúvida que pudesse aparecer na cabecinha de Zenitsu.

– Está ansioso por hoje à noite?

– Muito! Mal posso esperar para ver Tanjirou e os outros.

Fazia alguns dias que todos estavam em estado de alerta. Mesmo contra o que foi decidido na reunião do conselho – que tudo estava no seu devido lugar e eles estavam seguros, segundo o ceifador que apareceu na reunião, causando certo alívio em alguns e desconfiança em outros – Rengoku preferia manter a sua família em alerta. Não cometeria o mesmo erro de séculos atrás, onde acreditou que Tanjirou estava a salvo daquele homem, para no fim, o pobre humano acabar morto e sua família, quase que completamente destruída.

Mas, Kyojuro não iria manter seus familiares em cárcere, apenas pedia para que redobrassem a atenção. Para ele, sim, estavam em guerra. Uma guerra silenciosa. E essas eram mais perigosas do que as guerras barulhentas. Em guerras silenciosas, você não sabia quem era o inimigo. Onde o inimigo se encontrava e como ele agia. Você não sabia que tipo de armas ele usava, os truques, nem seus pontos fortes e fracos. Somente que, quando atacava, o estrago era enorme, e a morte, quase certa. Por isso, a despedida de solteiro de Inosuke e Aoi ocorreria na mansão dos Hashira, naquela noite em específico.

Haviam combinado tudo, Tanjirou, com a ajuda de Giyuu e Kanae, conseguiu fazer tudo o que seria consumido naquela noite, enquanto os outros vampiros ajudavam a organizar o jardim dos fundos – onde ocorreria a festa – e arranjar as bebidas. Nezuko preferiu fazer companhia para Aoi, que estava em sua casa escolhendo sua roupa para aquela noite. Tudo indicava que seria calmo, tranquilo. Como deveria estar.

Akaza não sabia o que estava acontecendo. Se sentia bem, ver o sorriso de Nezuko sempre o acalmava. Fora isso que despertou o seu interesse na Kamado. Claro que ela era bonita, gentil e simpática, mas foi o sorriso que o cativou. Mas agora, ver a alegria da mulher, lhe trazia uma raiva quase que incontrolável. Ao ponto de não confiar mais em si para ficar sozinho com a morena, e isso lhe matava por dentro. Sabia que havia algo de errado consigo, sentia isso! Os apagões estavam mais recorrentes, e quando recobrava a consciência, ou estava em algum local suspeito e assustador, ou estava de frente para o corpo de alguma pessoa.

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