O Rei dos Reis

22. Isandra

"Essa vitória será lembrada pelo nosso povo por gerações. A quinta e última invasão dos selvagens ao Portão das Aves!", exclamou lorde Avaro Hugh enquanto abraçava o príncipe Rojo com seus braços. "Os Hugh têm uma dívida eterna para com vossa alteza."

Apesar dos ânimos aflorados da corte na sala do trono mais cedo, o conselho não parecia tão animado com a presença de Rojo agora que estavam diante da távola com exceção do acalorado senhor da guerra. As cadeiras permaneceram desocupadas desde que chegaram porque ninguém tinha braveza o suficiente para relaxar em um assento diante da presença de um felino predador do tamanho de Sombra, a fiel pantera negra que se sentava nas patas traseiras ao lado de seu tutor. Mesmo Isandra não teve coragem de ocupar a cadeira que lhe era direito como regente do reino, a de seu pai, mas era porque temia a reação do homem e não a do animal.

Já Rojo era o oposto de todos os outros. Parecia estonteante em seu sorriso vitorioso. Tinha se despedido da armadura um pouco antes, mas mesmo no simples gibão que vestia o corpo os machados da casa Garbando estavam bordados no peitoral estufado com orgulho. Seus olhos claros desfrutavam da idolatria que tinha conquistado de alguns, mas havia um brilho insaciável neles quando olhava para os que temiam suas ações. A princesa o conhecia bem, talvez mais do que qualquer outro ali, e sabia que o homem que havia sido controlado pelo seu pai por tantos anos estava pronto para desabrochar com o poder e os homens ao seu lado. Se sentia muda pelo medo, incapaz de falar qualquer coisa desde a chegada do marido na sala do trono e até agora.

Era nítido que ninguém ali sabia o que esperar de Rojo, e como Isandra, todos permaneceram duradouros no silêncio quase constrangedor. Apesar da recepção nada calorosa, o príncipe foi amigável com Avaro como se fossem irmãos de batalha embora nunca tivesse estado em uma juntos.

"O que eu fiz foi pelo Rei e o reino. Eu faria por qualquer castelo ou qualquer pedaço de terra que pertence ao nosso povo. Comemoramos a vitória esta noite, mas amanhã precisamos vencer de novo, meu irmão", ele disse ao senhor da guerra enquanto se desvinculou do abraço. "A morte de um Rei desestabiliza o reino. O povo sente medo, os lordes perdem o rumo e o conselho trama pelo futuro. Mesmo os outros reinos podem ver nesse momento uma fraqueza para atacar. Pelo deuses, somos melhor do que qualquer um deles porque nós temos a Profetisa ao nosso lado. Ela certamente saberá que caminho devemos tomar. Esperava vê-la na távola para me guiar agora que Solidor se foi, mas me deparo com sua ausência. Onde ela está?"

"Morta", respondeu o maege mascarado. Seus olhos eram distantes e suas mãos estavam juntas atrás das costas. "Assassinato. Um presságio obscuro que já trilha sua própria lenda através das bocas dos plebeus."

Isandra viu as nuances no rosto do marido. Foi surpresa, medo, indecisão, aceitação. Ele era devoto do Carniceiro, o que o fazia um homem religioso. A perda da Profetisa era uma dor sentida por muitos dos primeiros homens, então não seria diferente mesmo com os mais rígidos deles.

"Tempos terríveis, sem dúvida. Um povo sem Rei e sem o apoio dos deuses não é um povo, são apenas pessoas vazias que não têm nada", ele lamentou. "Mas eu sinto que a bênção do deus vermelho está conosco. Essa vitória, nesse momento tão obscuro... o que vivemos agora já foi escrito pelos deuses antes. Era para ser assim."

"É a mais pura verdade, são eles os que traçam a linha do destino. Nós a seguimos, assim como o reino deve seguir também. Precisamos de um novo Rei e uma nova Profetisa. O grande sacerdote esteve com o conselho antes de sua chegada, vossa alteza, devido às nossas delicadas perdas recentes", disse lorde Undo Dermon, o senhor da lei. "Ele convocou o Septágano à cidade real."

"Para a provação", deduziu Rojo prontamente.

"As tradições são o que temos de mais importante. Mesmo que seja o único homem que possa assumir o trono de pedra, os deuses precisam testá-lo antes", Undo continuou.