Julie
Assim que vi Jack entrar no estabelecimento naquela noite senti um arrepio. As vezes que ele entrou lá, sempre cumprimentava alguns clientes e depois seguia em direção a sua sala, nem uma palavra se quer para mim ou as outras meninas.
Mas naquela noite ele me encarou e sorriu, sentou-se em uma das mesas e me chamou.
Como não iria, ele era me chefe.
— Boa noite Sr. Salt, o que deseja. — Me olhou de baixo para cima.
Quis me cobrir, me proteger daquele olhar nojento.
— Esse uniforme fica ótimo em você. — Não falei nada. — Nós, Salt, somos conhecidos na cidade, sabe disso, não sabe? — Assenti, lembrei que Ana havia comentado isso uma vez. — Eu e o meu pai, fizemos com que isso fosse possível, nunca saímos em polêmicas, cuidamos da nossa imagem, toda a vida zelei por ela. — Não estava gostando nem um pouco do rumo em que aquela conversa estava tomando. — John, apesar de sempre ter um gênio forte, nunca sujou a nossa imagem também, até você aparecer. — Cuspiu as palavras. — Já lidei com mulheres oportunistas, muitas, a minha adolescência toda, John ainda é muito imaturo, vou mostrar a ele quem você realmente é.
— Sendo ou não oportunistas, essas mulheres tiveram a sorte de não ter alguém como você ao lado delas, a Sra. Margareth merecia ter a mesma sorte. — Tenho certeza de que se apenas seu olhar tivesse o poder de matar, teria morrido ali mesmo, seus punhos se cerraram, me afastei da mesa, ele se levantou de forma brusca e saiu.
Soltei o ar preso e levei as mãos até a boca percebendo o que havia dito, os olhos de Ana estavam arregalados e seu semblante carregava preocupação.
Voltei a trabalhar, o fluxo estava intenso, apesar de me esforçar para esquecer aquela conversa, foi inútil.
Poderia estar a um passo de ser demitida, estava surpresa de não ter sido ali mesmo.
— O que foi aquilo? — Ana perguntou curiosa enquanto fechávamos o bar, Clarissa estava de folga.
— Uma tentativa insana da minha personalidade irracional de pedir para ser demitida. — Disparei preocupada.
— Dá para ser mais especifica? — Contei a ela o que aconteceu. — Você é louca, primeiro prende o filho dele no bar e agora ataca o patrão.
— Você é ótima em dar apoio. — Ironizei enquanto entravamos no carro.
— Desculpa, mas se ele não te colocou para fora na mesma hora, não acho que vá fazer isso em outro momento, afinal de contas ele precisa de você. — Me senti um pouco aliviada, mas ainda estava preocupada.
Durante o resto da semana, eu e John quase não nos vimos, recebi alguns olhares na rua quando eu e Ana fomos as compras, a cidade era atrasada ao ponto de ler aquela merda de jornal, a imagem perturbadora da minha cara inchada fez meu corpo aquecer a cada olhar que recebi.
— Relaxa, daqui a pouco esse assunto fica no passado e não precisará mais passar por isso. — Ana abriu um sorriso acolhedor.
Ficava imaginando como era com John, se eu estraguei a reputação dele, não comentou nada sobre isso, talvez já estivesse acostumado, era conhecido, mas mesmo assim fiquei me perguntando se aquilo não incomodou ou manchou a imagem dele de alguma forma, Jack plantou a sua semente maligna e ela estava desabrochando dentro de mim, mesmo sem eu querer.
Vivian mandou que eu parasse de pensar naquilo, até porque quando John viu o jornal e pareceu não ligar e pediu que eu conversasse com John sobre o que aconteceu no bar.
Mas tive medo, não queria fazer com que eles brigassem, pelo que havia visto, eles já faziam isso sem a minha ajuda, decidi esquecer aquele assunto, porém Jack não fez o mesmo.
Até parece que depois de revidar suas provocações ele ficaria quieto, fui uma tola por esperar isso, já que, ele sumiu outra vez durante a semana, mas quando eu menos esperava ele reapareceu, com o sorriso sujo dele, se sentou no balcão bem onde eu estava.
— Boa noite, o que deseja? — Tenho certeza que a minha voz saiu tremula, mas tentei ignorar.
— O que você tem a me oferecer? — Me afastei do balcão.
— Não sabe o que tem em seu próprio bar? — Tentei parecer calma, quando na verdade sentia as minhas pernas tremerem e uma vontade de pedir socorro.
— Perguntei o que você tem a me oferecer. — Deu ênfase no "você".
— Nada, me deixe em paz. — Ele riu.
— Vamos lá, tenho dinheiro, é o que mulheres como você almejam. — Nunca fui tão ofendida em toda a minha vida, nem mesmo Paul foi capaz de me ofender de tal forma. — O Sr. Hopper tinha bastante a te oferecer, não é?
— Não acha que eu teria continuado lá se realmente fosse do jeito que acha que sou? — Ele deu de ombros.
— Deve ter enjoado, resolveu procurar outro, não confio em você. — Ri de forma sarcástica. — Pode rir, mas não vai poder manter o personagem de boa moça por muito tempo, sua máscara vai cair. — Se levantou e ia saindo, quando voltou como se tivesse esquecido de algo. — Me coloque contra o meu filho e verá do que sou capaz. — Seu tom ameaçador me causou um arrepio na espinha.
Ana e Clarissa imploraram para que conversasse com John, mas fiz as duas prometerem que não contariam nada, não conhecia Jack, mas se ele fosse como Paul, seria capaz de qualquer coisa.
Na minha folga no domingo, passei o dia inteiro no apartamento de John, a Melanie também estava lá, conversamos brincamos, mas me sentia mal por não contar nada a John, ele me olhava preocupado e quando a irmã caiu no sono no final da tarde, foi a oportunidade perfeita para ele ir até mim e saber o que estava acontecendo.
— O que foi? — Neguei com a cabeça. — Você não está bem, seu olhar não brilha, parece assustada. — Quando aquele homem passou a me conhecer tanto eu não sei, mas eu realmente estava assustada.
— Não é nada, meu amor, só não é meu melhor dia. — Beijei seus lábios e ele retribuiu, mas logo se afastou.
— Não estou convencido. — Sorri e alcancei seu pescoço e o mordisquei. — E isso é golpe baixo, muito baixo. — Sussurrou apertando minha cintura.
Não poderíamos ir tão longe, tinha uma criança ali, mas aproveitamos um ao outro por um tempo até a Mel acordar, pedimos pizza e ficamos jogando "Quem sou eu?".
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Um Amor Em Meio Ao Caos
RomanceÉ capaz encontrar paz em meio ao caos? Julie encontrou calmaria em John e vice versa e juntos se sentiram mais fortes diante das adversidades. Julie Gonzales viveu durante 6 anos em um relacionamento abusivo, com Paul Hopper. Após uma briga mais sér...