Semanas e mais semanas de neve no jardim dos Malfoy, eu particularmente preferia a chuva.
Eu mal saia do meu quarto, o Lorde das Trevas pedia pela presença minha e de Tom todos os dias apenas para companhia, e por este motivo ainda não tínhamos ido atrás da Horcrux no Banco Gringotts.
Tudo que eu fazia quando não estava com Voldemort era ouvir o rádio e esperar que o locutor não falasse o nome de ninguém da Ordem da Fênix na lista de desaparecidos, era uma tortura.
Me isolei completamente de Draco e Tom, quase não os via a não ser em reuniões, o cansaço mental, a preocupação e a ansiedade estavam me torturando silenciosamente.
Naquele dia eu estava sentada no meu tapete felpudo observando a neve cair do lado de fora, pensei nas cartas que eu mandava para Remus e para os Weasley todos os dias, todas sem resposta, eu nem sabia se estavam recebendo as cartas.
—Precisa parar de se torturar assim.- Draco falou logo depois de entrar e fechar a porta de novo.- E se descermos pra tomar cerveja amantegada?
—Não, obrigada.-foi a única coisa que saiu da minha boca, apenas a voz do locutor do rádio voltou a ser ouvida.
—Tem que sair do quarto, Aly, mal te vi esses dias e nós moramos na mesma casa!- ele falou e minha cabeça voltou a doer.
—Você não sabe o que é sentar aqui todos os dias e ouvir dezenas de nomes de pessoas desaparecidas na esperança de não citarem alguém que você ama!- foi uma explosão repentina, nem eu mesma sabia porque eu estava gritando com o Draco.- Todos os seus amigos e família são partidários do Lorde das Trevas, você nunca vai saber o que é ficar parado aqui esperando pela morte ou pela vida!
—Tem razão, Alya, eu nunca vou saber!- ele falou no mesmo tom que eu e eu encolhi os ombros.- Mas eu to aqui porra, nós dois estamos aqui e estamos vivos! Estamos no meio de uma guerra tentando ajudar o lado certo a ganhar, não estamos? Então para de pensar no que pode ou não acontecer porque a gente tem que ganhar essa merda de guerra!
Uma lágrima finalmente escorreu do meu rosto, eu precisa ouvir aquilo. Malfoy se sentou do meu lado e me abraçou, o abraço que era capaz de esquentar até meus órgãos internos apesar da pele de Draco ser sempre gelada.
— Potter vai matar o Lorde das Trevas e tudo vai voltar a ser como era antes.- ele falou baixo dessas vez e eu só assenti enquanto ele limpava minhas lágrimas.
Voltamos para o silêncio, dessa vez um silêncio confortável que me fez finalmente perceber a música que tocava na rádio. Eu tinha o disco de vinil com aquela música, meu pai adorava ouvir.
O Children.
Malfoy levantou para aumentar o volume, aquela música me trazia tantos sentimentos que era impossível não sorrir.
—Vem.- ele estendeu a mão para mim.
—Não é uma boa ideia.- falei tentando esconder o sorriso.
—Pode fingir que não gosta de dançar o quanto quiser, mas eu sei que isso vai te deixar melhor.- eu abri ainda mais o sorriso e segurei na mão dele.
Senti a mão de Draco encolver minha cintura enquanto nos preparávamos para dançar. Os olhos tão brilhantes e as bochechas coradas pelo frio, eu poderia passar horas olhando para ele sem me cansar.
"Hey, little train, wait for me, I once was blind but now I see"
Rodávamos pelo quarto, rindo e dançando enquanto a neve caía do lado de fora.
"Hey, little train, we're jumping on, the train that goes to the Kingdom"
Sorríamos ainda mais.
"We're happy, Ma, we're having fun, the train it ain't even left the station"
Eu precisava daquilo tanto quanto precisava de Draco, só paramos de dançar quando ouvimos quatro batidas na porta e Narcisa entrou.
—Crianças.- era engraçado quando ela nos chamava assim.- Vocês tem visita.
—Não me diga que estavam dançando aquela música brega.- Blaise entrou no quarto com uma mochila.
— Qual é, se esqueceram que a gente vinha?- Pansy veio logo atrás dele.
—Caramba, o que estão fazendo aqui?- abracei os dois surpresa pela visita.
—Não sabíamos que vocês viriam.-Malfoy também os abraçou.
—Se tivessem nos avisado que não iriam voltar para Hogwarts esse ano, nós teríamos avisado que viríamos.- Pansy piscou para nós.
—Afinal, porque vieram?- perguntei, talvez iriam passar o natal conosco.
—Nao é óbvio? O lago congelou.- Blaise abriu a mochila e dentro haviam patins, eu sorri com a ideia.
••••
—Vamos logo, Aly.- Pansy gritou. Ela, Blaise e Draco já estavam no gelo, deslizando e rindo como nos velhos tempos, como se nada tivesse mudado nos últimos quatro anos.
—Vamos logo, Tom, estou te obrigando a vir patinar.- cruzei os braços por cima do meu casaco verde.
—Eu não sei patinar, Black, é melhor não.- ele falou com um pouco de vergonha.
—Vamos, Riddle, eu também não sabia até Pansy e Aly me ensinarem.- Draco veio perto de nós falar.
—Parkinson, é um trabalho pra você!- Blaise gritou e ela veio patinando nos seus patins prateados.
—Você não tem a opção de não patinar, Riddle.-Ela puxou Tom para o gelo e o ajudou a para em pé, eu e Malfoy ríamos silenciosamente, saímos que se ele nos visse rindo estávamos ferrados.
Eu patinava muito bem, fazia isso desde que eu era pequena no lago do orfanato onde eu morava, então quando eu descobri que havia um lago na casa dos Malfoy foi uma enorme alegria.
Eu e Pansy ensinamos Draco e Blaise a patinar, e agora nós quatro patinávamos muito bem, fora que eu e Parkinson sabíamos vários saltos que apenas patinadores profissionais conseguiam fazer.
Dei meu primeiro salto do dia antes de chegar perto de Draco e Blaise, enquanto Pansy ainda estava ensinando Tom a como parar os patins.
—Como está Hogwarts?- Malfoy perguntou.
—Pra falar a verdade, não é mais a mesma coisa.- a voz de Blaise chegou a falhar.- Não é mais a escola que nós crescemos e amamos.
Meu coração apertou, mesmo que não tenha sido surpresa nenhuma saber aquilo.
Pensei de novo em como as coisas estavam difíceis. Pensei nas horcrux, em Harry, na Ordem da Fênix e principalmente no meu padrinho e amigos que eu não fazia ideia se estavam bem ou não.
"Nós dois estamos aqui e estamos vivos" Me lembrei das palavras de Draco. Observei o sorriso em seus lábios enquanto conversava com Blaise sobre quadribol, os anéis em seus dedos e o modo bruto como patinava. Se alguém me manteria firme durante esses tempos, esse alguém era Draco Malfoy.
—Vocês vão passar o Natal com a gente?- Malfoy perguntou para nossos amigos.
—Claro, nunca iríamos perder um baile de Natal organizado pela tia Cissa.-Blaise riu.
O mundo estava praticamente em ruínas fora dos portões da Mansão Malfoy, mas ali naquele momento e naquele lago eram só nós cinco. Pansy, Blaise, Draco, Tom e eu, como se nada tivesse mudado, como se nada de ruim pudesse acontecer à ninguém.
Eu sorri com o calor no peito que aquilo me fez sentir.

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Only One - Draco Malfoy
Fiksyen PeminatAlya não era tão invisível como ela pensava, talvez ser melhor amiga de Draco Malfoy e ter uma inteligência espantosa fossem fatores importantes para chamar atenção em Hogwarts. A vida sendo uma sonserina com poucos amigos era simples antes de se me...