Sexta-feira. O grande dia. Nosso voo para Nova York sai às sete e meia da manhã, e meu pai fez questão que acordássemos às cinco da madrugada. Passamos o restante da semana empacotando coisas e se desfazendo de outras, papai disse que a nova casa é toda mobiliada, então nossa mudança não será trabalhosa. Cortesia do novo emprego de papai.Minha mãe trabalha com sua loja virtual de artesanato, então a mudança não a prejudicará tanto, segundo ela, esse será um momento para tentar expandir seu negócio.
Encaro meu quarto quase vazio, as prateleiras vazias onde antes se encontravam livros e pequenos porta retratos, minha cama apenas com o colchão totalmente exposto, meu guarda-roupa preenchido pelo nada, e minha pequena escrivaninha onde deixei apenas um abajur velho que não coube em minhas caixas.
Apesar de ter ficado esperançosa e eufórica nesses últimos dias, ver a casa tão vazia e sem vida me deixou um pouco tristonha, pois foi aqui que vivi minha infância inteira, vou sentir saudades dessa casa, do quintal e do pequeno jardim.
— Amelie, querida. Vamos! — minha mãe grita, do andar de baixo.
— Estou indo — grito de volta.
Passo meu olhar uma última vez pelo meu quarto, solto um sorriso aberto, saio e fecho a porta. Ando até a sala, onde papai termina de levar a última bagagem para o táxi.
Varro todo o espaço com o olhar, e dou um sorriso mínimo, antes de finalmente sair. Oliver segura a mão de mamãe, enquanto ela tranca a casa, e caminhamos até o carro.Hoje o dia está frio, então estou usando um casaco de lã branca, minha touca rosa, uma calça jeans que não protege direito minhas pernas do frio e minhas botas de inverno que — por ser velha e eu não querer me desfazer dela —, já estão apertando meus dedos.
— Bom, família, vamos nessa! — papai diz, animado.
— Vamos! — Oliver e eu dissemos em uníssono.
Seguimos para o aeroporto.
Ainda no táxi, passei o caminho todo olhando a paisagem afora, pela janela, sentindo que definitivamente é real, estou me mudando para A cidade que nunca dorme. O carro de papai será levado até lá por uma transportadora, assim como nossas demais coisas, e nossa casa ficará fechada até que uma decisão seja tomada, não sabemos como será nossa nova vida.
***
Chegamos no portão de embarque meia hora mais cedo, ficamos esperando até nosso voo ser chamado. Oliver fica brincando com seu carrinho de corrida favorito pelos assentos vazios, meus pais estão ocupados lendo os panfletos que pegaram na entrada do aeroporto, e eu estou observando cada pessoa que passa pelo meu campo de visão, o homem todo bem vestido em um terno bem alinhado, correndo apressadamente entre as pessoas, uma mulher andando de forma despreocupada carregando apenas uma mala, enquanto verifica algo no celular, um casal chorando vendo seu filho — creio eu que seja o filho —, sumir pelo portão de embarque, e o rapaz andando de costas, distribuindo beijos para os pais aos prantos.
Meu celular vibra em minhas mãos e vejo uma notificação:
''Eric Bennett postou uma nova foto.''
Mesmo relutante, entro na notificação.
A foto que Eric postou é um pouco curiosa, nela mostra apenas seus pés, mas precisamente seus tênis brancos, marca registrada dele, e parece que ele está andando, e na legenda está escrito: ''Lá vou eu''. O que estranhei um pouco.
Apesar de não manter contato com as pessoas a minha volta, eu sempre gostei de estar por dentro de tudo que o pessoal está fazendo, mesmo que seja só pelas redes sociais, quando estava prestes a ver os comentários, vejo uma nova notificação, dessa vez do aplicativo de mensagem. Verifico.
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Uma confusa ironia do destino
Teen FictionAssim que recebe a notícia de que se mudará para Nova York com a família, Amelie finalmente viu uma oportunidade de se livrar de sua antiga vida em Nova Orleans, longe de pessoas indesejadas e amigos inexistentes. Mas a alegria da garota acaba assim...