Capítulo 15

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— Você se meteu em uma situação bem desagradável — Judy diz, e dá mais uma mordida em sua barra de cereal.

Estamos na escada, no horário do intervalo. Contei para Judy tudo o que estava acontecendo e também sobre Eric, e nossa pequena rixa.

— Às vezes tudo parece um grande pesadelo — choramingo, jogando a cabeça para trás e a encostando na parede.

— Pelo que eu pude notar, agora não tem mais volta.

— Ter até tem, mas quero acabar logo com isso e não ter mais dor de cabeça.

— Boa sorte, então.

— Vou precisar, e de muita paciência também.

Judy sorri, balançando a cabeça.

— Olha, não querendo te deixar mais desanimada, mas, é que os amigos dele não são, de acordo com o que eu pude perceber, pessoas as quais você se enturmará — Judy diz, hesitante.

— Eu já havia notado isso desde o início. Mas eu não quero sair com eles e depois ser amiga deles, depois que tudo terminar, vai ser cada um para o seu lado. Eu espero.

— Tudo isso é icônico.

— Muito icônico — digo, arrastando a voz. — Mas, então, mudando de assunto. Os seus poemas. — Abro um sorrio para Judy.

— Ah, sim. Eu trouxe esse meu caderno pra você ler, pode levar para ler tudo mais tarde, tem muita coisa. — Judy me entrega um pequeno caderno azul. Botões, pedaços de tecido, pequenas pedrinhas em formato de flores e corações colados na capa.

— Tem certeza que quer deixar comigo? — pergunto, relutante.

— Se você prometer cuidar bem dele — Judy diz, e me olha com um olhar ameaçador.

— Pode deixar, ele está em boas mãos — digo, e começo a folhear algumas páginas.

Meu olhar para em um determinado poema, mas não chego a lê-lo por completo, apenas alguns versos.

''Seus olhos carregam a noite,

junto as estrelas''.

''Os longos fios de seu cabelo

sendo tocados pelo vento''.

''Seu sorriso radiante

que dificilmente se cessa''.

''Tudo em você é alheio a mim.

Mas eu te noto.

Assim como gostaria de ser notada''.

Mesmo lendo aqueles poucos versos, já sabia a quem a ele se referia. Dou um sorriso, apesar daquilo ser clichê demais. Judy é uma garota doce e aquilo combina com ela.

— Judy — a chamo, desviando o olhar do caderno e a encarando.

— Sim? — ela indaga, e me encara.

— Você escreveu isso pensando no Miles? — pergunto direta, levantando o caderno e mostrando para ela o poema ao qual eu me referia.

Judy arregala de leve os olhos e percebo seu rosto ruborizar, ela olha para as mãos, e começa a brincar com os dedos.

— Por que você acha que é para ele? — ela pergunta, sem me encarar.

— Digamos que eu já percebi que você... sente algo por ele.

Uma confusa ironia do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora