Capítulo 9

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Decido não entrar no refeitório. Por trás da porta eu conseguia ouvir as diversas vozes se amontoando entre si, então simplesmente sai dali e fiquei sentada em uma escada que levava ao segundo andar, enquanto comia uma barra de cereal que eu havia guardado no bolso de meu casaco.

Não estava sendo um dia tão ruim quanto eu pensei que seria, mas também não estava sendo um dia muito empolgante, nada muito diferente do que já estou acostumada. Mordo uma pedaço da barra de cereal, mesmo não estando com muita fome.

— Isso não é muito saudável — diz uma voz fina, em minha frente.

Encaro as sapatilhas roxas antes de levantar o olhar, sapatilhas essas que não me agradaram muito, digamos que era roxa demais para uma sapatilha.

Assim que levanto o olhar, vejo uma garota de braços cruzados. Ela é pequena, não muito menor que eu, mas mesmo assim é pequena, cabelos loiros e curtos, e olhos verdes que parecem fazer contraste com um tom de azul.

— O quê? — pergunto.

Ela aponta para a barra de cereal em minha mão.

— Comer isso não é muito saudável.

— Digamos que não estou com muita opção de escolha.

— Hum.

A garota não diz mais nada, apenas se aproxima e senta em um canto mais afastado da escada, um degrau acima do qual eu estou sentada. Me sinto um pouco incomodada.

— Aqui é o meu lugar — ela se explica, e penso que talvez esse seja o jeito mais amigável que ela decidiu usar, como forma de me mandar sair dali — Eu sempre venho aqui no intervalo — acrescenta.

Me levanto, na intenção de sair.

— Não, não precise sair por minha causa, não me importo em compartilhar o lugar — ela se prontifica a falar, enquanto estende a mão em minha direção como forma de um pare. — Quase nenhum aluno passa por aqui nesse horário, por isso venho aqui, é onde eu consigo escrever — ela diz, sorrindo mínimo.

— Escrever? — indago, e sento novamente no degrau, agora me virando na direção da garota.

— Sim, meus poemas. — Ela mostra um pequeno caderno, que notei só agora estar segurando.

— Legal — digo, e volto a comer a barra de cereal.

A garota por sua vez, abre seu caderno e começa a escrever rapidamente, como se a qualquer momento, o que quer que esteja passando em sua mente, fosse escapar. Ela murmura alguns versos, fazendo algumas expressões como interpretações. Eu dou risada quando a mesma faz uma expressão de melancolia, enquanto recita baixo um poema que parecia dramático.

— Acho que me empolguei — ela diz, e sorri aberto.

— Me desculpe — digo, cessando a risada.

— A propósito, me chamo Judy — ela se apresenta.

— Sou a Amelie — digo, me permitindo relaxar um pouco os ombros.

— Por que você não está no refeitório?

— Digamos que, lugares cheios de adolescentes conversando não é um dos meus favoritos.

— Compreendo, eles atrapalham qualquer tipo de pensamento e criatividade que tenho para criar meus poemas, por isso venho aqui.

— Uma ótima estratégia — comento.

— É — Judy diz, e assim o silêncio retorna entre a gente.

Ficamos assim por mais vinte minutos. Quando termino de comer minha barra de cereal, me levanto para finalmente sair dali.

Uma confusa ironia do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora