Capítulo 28

752 108 14
                                    


Jogo minha mochila no chão assim que atravesso pela sala, e vou até a cozinha depois de mais um dia exausto e sem graça de aulas, com as provas finais quase chegando, tive que me dobrar nos estudos e ainda tinha me decidir logo sobre as universidades e sobre o que eu quero fazer.

Paro bruscamente assim que vejo minha mãe parada em pé perto da bancada, me olhando com um olhar sério, e de braços cruzados.

Ah, não.

Passo por ela como se não tivesse percebido nada e vou até a geladeira, pego uma caixa com trufas, paro perto de minha mãe, e como uma das trufas.

— Está tudo bem? — pergunto, de boca cheia.

— A diretora ligou para cá hoje — ela diz, e me encara, com o semblante ainda sério.

Engulo a trufa e suspiro, um pouco constrangida.

— Mãe...

— Por que não me contou o que aconteceu? — Ela agora me olha preocupada.

— Para a senhora não ficar assim — digo, apontando para ela.

— Mas é claro que vou ficar assim, o que eles fizeram com você é desumano — ela diz, com raiva.

— Mas eu já estou bem mãe, nem ligo mais para isso.

Ela me olha desconfiada.

— Isso não muda o fato de o que eles fizeram foi errado.

— Eles já estão pagando por isso.

Não quero continuar falando sobre isso.

— Nada mais justo. Você realmente está bem?

— Sim, mãe — digo, e deixo a caixa com trufas de lado.

Me aproximo de minha mãe e a abraço de lado.

— Se algo assim acontecer novamente, você tem que me contar, sou sua mãe e me preocupo com você — ela diz, afagando meus cabelos.

— Pode deixar — digo, e beijo sua bochecha.

Minha mãe me aperta mais contra seu corpo.

Estarmos assim é algo difícil de acontecer, mas quando acontece, é tão bom e satisfatório. Sentir seu perfume de flores, e seus carinhos em meu cabelo.

— Mas agora — ela diz, e nos soltamos do abraço. — Ainda não é hora para comer doce. — Ela pega a caixa com trufas, a guardando novamente na geladeira.

É, tudo que é bom dura pouco.

— Só unzinho?— choramingo, parecendo uma criança pidonha.

— Pode comer um dos meus doces orgânicos.

— Não, valeu — digo, emburrada. — Mas aceito isso. — Pego um pacote de bolacha recheada que está em cima da bancada, dou um sorriso para minha mãe e saio as pressas da cozinha.

***

Termino de comer a última bolacha e continuo fazendo as minhas anotações de química, olho de relance para alguns papéis em cima de minha mesa e vejo os panfletos das universidades que minha mãe me entregou, fico os encarando enquanto tamborilo meu lápis no caderno, totalmente indecisa.

Solto um suspiro em frustração.

Olha para o meu celular no momento que uma notificação aparece.

Eric: Estou aqui fora.

Minha respiração falha por breve segundos, havia me esquecido que conversaríamos hoje, algo parece se formar em meu estômago, e desejo não ter que falar com ele.

Uma confusa ironia do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora