Capítulo 20

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Perdi o sonho em plena manhã de domingo, o que me deixou frustrada, fiquei virando de um lado para o outro na cama na tentativa de fazer o sono retornar, mas não estava adiantando em nada. Então, fiquei mexendo em meu notebook a fim de me entreter com qualquer coisa, não queria levantar, o que também não estava adiantando. Minha mente parecia se encher de questionamentos.

    Fico pensando no que deve ter acontecido entre Miles e Paul, e o que isso, de alguma forma, se voltou para mim, os olhares quase ameaçadores de Paul estavam se tornando algo comum nos meus dias, no colégio, o que não deixa de ser preocupante.

    Minha mente também se preenchia sobre ontem, quando Eric e eu nos encontramos na rua, do seu olhar que por um instante ganharam um brilho diferente, do seu toque em minha mão, que irradiou um sensação diferente pelo meu corpo, algo que me deixou desconcertada e ao mesmo tempo confusa, por poucos segundos não parecíamos os mesmos Eric e Amelie, havia algo diferente ali, naquele momento.

    Fecho meu notebook, assim que meus pensamentos começam a ganhar uma proporção alarmante. Definitivamente meu sono havia se esvaído, o que não me restava muitas opções, e ficar ali, parada, não está contribuindo muito.

    Enquanto calço meus chinelos, olho de relance para o meu guarda-roupa que está com uma porta escancarada, e vejo um pouco, ao fundo, em meio a escuridão, o verde chamativo do meu patins, o fico encarando, até um sorriso se formar em meu rosto.

***

Desço as escadas apressadamente, com meu patins em mão, os jogo em cima do sofá, assim como minha mochila, e vou direto para a cozinha, onde encontro meu pai tomando seu café sentado no banco alto da bancada, enquanto parecia analizar alguns papéis.

    — Bom dia — digo, chamando sua atenção.

    Meu pai levanta o olhar, e me encara com a testa franzida, não acreditando que estou acordada numa manhã de domingo, bom, nem eu mesma acredito.

    — Bom dia — ele diz, deixando seus papéis de lado. — Não sei se você sabe, mas hoje é domingo, não tem aula.

    — Eu sei.

    Pego um cereal de dentro do armário e uma tijela, sento de frente para o meu pai, pego a jarra de leite que está em cima da bancada, o despejando na tijela assim como o cereal.

    — Então? — Ele me encara, ainda confuso.

    — Só perdi o sono — digo, começando a comer meu cereal.

    Meu pai arqueia os sobrancelhas.

    — Eu sei que hoje não tem aula.

    — Muito difícil de acreditar quando você já acordou umas cinco vezes cedo em final semana, achando que tinha aula — ele diz, voltando a atenção para os papéis.

    — Mas hoje eu sei que não tem aula, e aquilo só ocorreu em época de provas — digo, me defendendo.

    Ele dá de ombros.

    — A mamãe ainda está dormindo? — pergunto.

    — Sim, essa semana foi bastante corrida para ela, com as encomendas — ele responde, se atrapalhando um pouco com os papéis.

    Apenas concordo com a cabeça, mas duvido que ele tenha visto, continuo comendo meu café da manhã, o observando.

    — O que é tudo isso? — pergunto, apontando para os papéis com a colher.

    — Algumas coisas sobre a rendimento dos setores da empresa, preciso analisar até hoje.

    Meu pai suspira, deixando aquela papelada de lado, voltando a tomar um gole de seu café, que posso apostar ser um café forte e amargo, como ele sempre toma.

Uma confusa ironia do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora