Capítulo 1 - Aniversário de Elisa

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Retornando para casa pela rua solitária e fria na noite que soprou sua juba com frescor, Atlas pisou em uma planta que o lembrou da cebolinha que utilizaria no seu jantar. Visualizar em sua mente o tempero que seria utilizado no jantar aguçou sua memória para o cheiro de comida na panela. Seu estômago roncou ao pensar em comida e uma pontada de dor veio em seguida.

Em suas orelhas, os fones tocavam a música que escolheu no celular. Na próxima, o volume estava mais alto e isso lhe incomodou, por isso, pegou o celular e baixou o volume até ficar confortável para sua audição.

Abrindo a porta de sua pequena casa, tirou a camisa suada pela caminhada e os fones pularam de suas orelhas com o puxão. Esqueceu-se de tirar os fones primeiro de tão imerso que estava na música que ouvia. Porcaria! Fechou a porta atrás de si e o fone continuou inteiro, então, só o ajeitou, enrolando-o no celular e deixando-o sobre a mesa da cozinha.

Abriu a porta da geladeira, pegou a garrafa d'água gelada e bebeu o líquido delicioso, deixando-o cair em sua pelagem mais peluda: a juba, que se estendia para sua barriga e chegava até às partes intimas, sendo mais volumosa no pescoço, cabeça — e também nas partes íntimas. Os pelos mais escuros da juba contrastavam com os pelos amarelos do resto de seu corpo.

Deixou a garrafa sobre a mesa assim que terminou de tomar todo o conteúdo que havia nela. Partiu para o banheiro enquanto despia suas roupas até ficar nu. As vantagens de morar só é que se pode fazer isso, pensou. O pelo grande da juba necessitava de uma boa quantia de shampoo para criar espuma. E ter o pelo maior no peito e na barriga também não ajudava a economizar.

Por que eu fui nascer um leão? pensou ao olhar a quantia de shampoos, cremes e aromatizantes presentes em sua prateleira e quantos deles estavam na lata de lixo. Sua higiene lhe custava dinheiro.

Pensava o tempo todo em tosar a juba, especialmente na parte do peito e da barriga. Contudo, lhe conferia certo charme. O gerente dizia que sua beleza encantava os clientes a ponto de fidelizarem com o banco. Os clientes passavam um bom tempo admirando o leão — principalmente as fêmeas.

Enquanto a água gelada do banho refrescava seu corpo e umedecia seus pelos, imaginou um corpo quente se refrescar junto a ele, acariciando-o e limpando-o. Fazendo espuma com o movimento das mãos em sua juba grande. Já fazia muito tempo que não se reconfortava junto a outro corpo. Tocar, abraçar, cheirar... amar... a última fêmea com quem se relacionou estava em uma viagem. Sentia falta de seus toques, de seus carinhos, de seus beijos... de sentir a umidade de uma língua em sua boca durante um beijo.

Tocou em si mesmo. Em seu corpo grande simulando outra presença debaixo daquele chuveiro enquanto a água fresca caía. Um leão grande e musculoso. A barriga sem gomos, lisa, larga e ligeiramente crescida.

Ser grande e forte deveria lhe dar vantagem para ter um encontro com uma fêmea, contudo, não atraía nada além de olhares e algumas conversas. Imaginou-se como um pedaço de carne em uma vitrine. Delicioso, saboroso e suculento. De dar água na boca. Inclusive, sua própria boca se encheu de saliva imaginando uma relação sexual. Seu membro enrijeceu com os pensamentos. Fez uma massagem no membro, excitando-se mais.

Antes que pudesse brincar consigo mesmo, ouviu o celular tocar na cozinha e precisou interromper a massagem. Sempre era coisa importante, então se secou o melhor que pode e, antes de abrir a porta, o telefone parou de tocar. Mesmo assim, foi até a cozinha pegá-lo. Precisou secar a mão mais um pouco na toalha que ficou amarrada à cintura.

Você vem?

Era uma mensagem de seu amigo, Tiago, questionando se iria ao aniversário de sua amiga, Elisa. Haveria comida e bebida, então, ele iria. Ela faria seu vigésimo nono aniversário e queria comemorar com os amigos já que estava longe da família. Ela gostaria de vê-los. Apressou-se.

Coração Quente (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora