Capítulo 11 - Aposta

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Chegando do trabalho, Atlas pegou o celular e ligou para Renan. Questionou o que haveria para o jantar.

— Quer que eu passe no mercadinho e...

— Bife, se possível — cortou a raposa. — Não acha que está gastando dinheiro demais com minha alimentação? Estou preocupado com isso.

— Com sua alimentação ou com meu dinheiro?

— Seu dinheiro, bocó — lançou a raposa. — Não precisa ficar assim tão preocupado. O que você me deu é o suficiente. Além do mais: e a gasolina? Está caro ficar andando para lá e para cá com o carro.

— Ah, você não mora longe, bocó dois — falou o leão. — Agora é sério: o jantar sai que horas?

— Na hora que eu terminar de preparar — houve um silêncio, mas conseguiu ouvir os passos da raposa pela cozinha, as portas do armário rangendo ao serem abertas e fechadas. — Tem arroz — tornou a falar. — Um pouco de feijão congelado e... carne... talvez mês que vem, quando eu for passar o Natal na sua casa.

— Vai ter bastante ave para comer — falou o leão. — Meu avô sempre faz uns dois perus de Natal para alimentar todo mundo.

— E alimenta? — a raposa pareceu surpresa aos ouvidos do leão.

— Sempre sobra um pouco — informou o leão. — Mas é porque há outras coisas para comer também. Ele não faz o peru de Natal. Faz uma panelada de arroz, um molho com bisteca, uma peixada e uns doces para a gurizada... — conseguiu ouvir os vários "hum" prolongados da raposa do outro lado da linha. — Deu fome aí? — questionou, abrindo um meio sorriso. — Quem sabe eu...

— Vem logo, caramba! — ordenou a raposa. — Você está atacando minhas lombrigas com isso.

O leão deu uma risada e foi para a casa de seu amigo. Levou consigo o amigo lobo-guará, Galgo. Atlas pegou o colchão dobrável e guardou-o no porta-malas do carro.

Sendo um carnívoro grande, Atlas parou no mercado e comprou algumas carnes. O lobo-guará aproveitou a parada para comprar algumas massas de pastel.

— Pastel? — Atlas observou, curioso.

— E por que não? Vai que um dia ele resolve fazer pastel. Teremos algo diferenciado para comer.

— Então você compra a carne moída — o leão falou, dando um riso malicioso, mas no fim, pagou tudo.

Na casa da raposa, os três prepararam o pastel que o lobo-guará tanto queria. Jogaram conversa fora e os dois visitantes decidiram que dormir.

— Mas eu tenho apenas um colchão — protestou a raposa. — Como vão fazer isso? — apontou para os dois machos mais altos.

— A gente dorme junto, oras — o lobo-guará colocou seu braço ao redor dos ombros da raposa que lançou um olhar desconfiado a seu amigo. — Eu sou magro. Você é baixo. Se combinar certinho, vamos caber no mesmo colchão.

— Ou podemos ir lá em casa — sugeriu o leão.

— Eu já deixei a casa muito tempo sozinha — protestou a raposa. — Se eu ficar saindo o tempo todo, vão pensar que a casa está abandonada.

— Quanto você paga de aluguel? — quis saber o leão. — Não é melhor você morar com alguém para amenizar dívidas? Com certeza ficará bem mais leve para o seu bolso — talvez fosse hora de falar sobre isso.

— Bom... — Renan ficou envergonhado, olhando de um lado a outro. — Uns trezentos reais.

— Trezentos? — desconfiou o leão, olhando ao redor da casa. — Pela minha pouca experiência, dá para ver que isso aqui nunca vai ser só trezentos reais. No mínimo, uns seiscentos. Julgaria uns setecentos.

Coração Quente (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora