Chegando do trabalho, Atlas pegou o celular e ligou para Renan. Questionou o que haveria para o jantar.
— Quer que eu passe no mercadinho e...
— Bife, se possível — cortou a raposa. — Não acha que está gastando dinheiro demais com minha alimentação? Estou preocupado com isso.
— Com sua alimentação ou com meu dinheiro?
— Seu dinheiro, bocó — lançou a raposa. — Não precisa ficar assim tão preocupado. O que você me deu é o suficiente. Além do mais: e a gasolina? Está caro ficar andando para lá e para cá com o carro.
— Ah, você não mora longe, bocó dois — falou o leão. — Agora é sério: o jantar sai que horas?
— Na hora que eu terminar de preparar — houve um silêncio, mas conseguiu ouvir os passos da raposa pela cozinha, as portas do armário rangendo ao serem abertas e fechadas. — Tem arroz — tornou a falar. — Um pouco de feijão congelado e... carne... talvez mês que vem, quando eu for passar o Natal na sua casa.
— Vai ter bastante ave para comer — falou o leão. — Meu avô sempre faz uns dois perus de Natal para alimentar todo mundo.
— E alimenta? — a raposa pareceu surpresa aos ouvidos do leão.
— Sempre sobra um pouco — informou o leão. — Mas é porque há outras coisas para comer também. Ele não faz só o peru de Natal. Faz uma panelada de arroz, um molho com bisteca, uma peixada e uns doces para a gurizada... — conseguiu ouvir os vários "hum" prolongados da raposa do outro lado da linha. — Deu fome aí? — questionou, abrindo um meio sorriso. — Quem sabe eu...
— Vem logo, caramba! — ordenou a raposa. — Você está atacando minhas lombrigas com isso.
O leão deu uma risada e foi para a casa de seu amigo. Levou consigo o amigo lobo-guará, Galgo. Atlas pegou o colchão dobrável e guardou-o no porta-malas do carro.
Sendo um carnívoro grande, Atlas parou no mercado e comprou algumas carnes. O lobo-guará aproveitou a parada para comprar algumas massas de pastel.
— Pastel? — Atlas observou, curioso.
— E por que não? Vai que um dia ele resolve fazer pastel. Teremos algo diferenciado para comer.
— Então você compra a carne moída — o leão falou, dando um riso malicioso, mas no fim, pagou tudo.
Na casa da raposa, os três prepararam o pastel que o lobo-guará tanto queria. Jogaram conversa fora e os dois visitantes decidiram que dormir.
— Mas eu tenho apenas um colchão — protestou a raposa. — Como vão fazer isso? — apontou para os dois machos mais altos.
— A gente dorme junto, oras — o lobo-guará colocou seu braço ao redor dos ombros da raposa que lançou um olhar desconfiado a seu amigo. — Eu sou magro. Você é baixo. Se combinar certinho, vamos caber no mesmo colchão.
— Ou podemos ir lá em casa — sugeriu o leão.
— Eu já deixei a casa muito tempo sozinha — protestou a raposa. — Se eu ficar saindo o tempo todo, vão pensar que a casa está abandonada.
— Quanto você paga de aluguel? — quis saber o leão. — Não é melhor você morar com alguém para amenizar dívidas? Com certeza ficará bem mais leve para o seu bolso — talvez fosse hora de falar sobre isso.
— Bom... — Renan ficou envergonhado, olhando de um lado a outro. — Uns trezentos reais.
— Trezentos? — desconfiou o leão, olhando ao redor da casa. — Pela minha pouca experiência, dá para ver que isso aqui nunca vai ser só trezentos reais. No mínimo, uns seiscentos. Julgaria uns setecentos.
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Coração Quente (Volume 1)
RomanceAtlas, um grande leão de juba escura, torna-se amigo de Renan, uma raposa, depois de jogarem um jogo de fantasia que jogam online. Ao se conhecerem pessoalmente, Atlas descobre as dificuldades do amigo e tem a ideia de acolhe-lo.