Chegou mais cedo do que imaginava. O trânsito cheio do dia anterior das pessoas que queriam aproveitar o fim de semana ocasionou em ruas limpas dos carros que poderiam lhe dar algum atraso.
Vestiu uma camisa regata vermelha e um short. Pensar em uma fêmea enquanto dirigia até a casa de Renan fez o leão ficar rígido em seu íntimo.
Parou o carro em frente a um conjunto de casas pequenas. Número... seis. Desligou o carro, saiu e foi até a campainha. Pressionou o botão e a voz de Renan veio um instante depois.
— Já chegou? — estava surpreso. — Ainda estou me arrumando— informou. — É melhor você entrar, pois vou demorar mais um pouco.
O estalo no portão indicou que estava aberto para que o leão de juba escura pudesse entrar. Casa número seis, pensou para si mesmo enquanto caminhava pela curta rua com as casas ao lado, havia uma garagem ao lado para os carros serem guardados. A casa de Renan era a última e não havia carro nenhum ali.
Andou até a porta da casa número seis e bateu. Uma voz abafada soou do outro lado da porta, mas não entendeu nada. Girou a maçaneta e a porta se abriu em seguida. Destrancada? Encontrou uma raposa macho arrumando a mochila, vestindo short e calçada com seus chinelos havaianas, igual ao leão — apesar do leão estar calçando Ipanema, mas tudo bem.
— Tem almoço em casa, moço? — perguntou o leão, sorridente em ver seu amigo raposa pela primeira vez. Não esperava que fosse conhecê-lo assim. — Se você está querendo dormir lá em casa, eu receio lhe informar que amanhã eu trabalho — avisou o leão.
— É só pra... deixa pra lá — a raposa deixou a mochila sobre uma cadeira de plástico que estava na sala. Não havia um sofá na sala. Uma mesa pequena que sustentava a TV e outra cadeira ao lado servia como apoio para alguma outra coisa (talvez um notebook).
A cozinha ficava ao lado, separada da sala por uma mureta. Viu um armário de tamanho médio, um fogão pequeno e uma geladeira pequena. Renan não era uma raposa pequena, mas o tamanho de seus móveis indicava o tamanho de seu pagamento. Atlas sentiu um aperto no coração e o desejo de que a raposa não estivesse passando por grandes dificuldades.
— Vou sentar-me aqui no seu sofá — o leão entrou na casa, falando em tom de deboche leve ao se direcionar na cadeira de madeira.
— Ah, fique à vontade — falou a raposa dentro da casa. — Eu só vou pegar uma coisa aqui e já vamos.
Observou a casa da raposa e refletiu se não seria melhor fazer um almoço na casa dela, já que ambos estavam lá e, com certeza, com fome. Contudo, a raposa estava tão animada para sair de casa que o leão não quis estragar a felicidade dela.
Assim que a raposa voltou, Atlas conseguiu vê-la melhor. Era uma raposa jovem, macho, de belo pelo avermelhado e ligeiramente curto. A cauda felpuda abanava suavemente, revelando sua animação para dar um passeio. Em suas costas, uma mochila azul desbotada e surrada, volumada pelos itens dentro dela. O tórax agora estava vestido com uma camisa amarela da seleção brasileira, com o característico brasão ao lado esquerdo e as cinco estrelas na parte de cima que indicavam a quantidade de copas ganhas.
A jovem raposa parou por um momento, soltando uma bufada, para finalmente virar-se para Atlas e vê-lo como é. Renan ficou com os olhos arregalados, boquiaberto, surpreso ao ver que o leão, mesmo sentado na cadeira de plástico colocada na sala.
— Você é bem maior do que eu tinha imaginado, moço — falou a raposa. — E sua juba também é... — os olhos brilhavam acompanhando cada detalhe que o leão possuía. — Eu posso tocar na sua juba?
Atlas deu uma risada de deleite e acenou com a cabeça, concordando. Renan se aproximou e acariciou a juba do grande leão, que sentiu a mão da raposa afagá-lo.
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Coração Quente (Volume 1)
RomanceAtlas, um grande leão de juba escura, torna-se amigo de Renan, uma raposa, depois de jogarem um jogo de fantasia que jogam online. Ao se conhecerem pessoalmente, Atlas descobre as dificuldades do amigo e tem a ideia de acolhe-lo.