Capítulo 19 - Chácara

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Renan escutou e ficou preocupado sobre tomar banho de rio.

— Vocês as capturaram? — quis saber.

— Não! — respondeu. — Mas, sinceramente, eu nunca vi uma de perto.

— Elas devem estar bem grandes a essa altura, não acha? Deve ter mais de duas, pela época em que seus tios as viram.

— Não acho que sucuris possam viver tanto assim.

— Mas elas podem ter filhotes. E filhotes crescem e se tornam adultos.

— Então você pode evitar o banho de rio, já que é essa a sua preocupação.

— E você não vai? — preocupou-se a raposa.

— Claro que não — o leão deu risada. — A água é bem fresquinha.

Renan continuou preocupado com as sucuris na água do rio enquanto Atlas ria e dirigia pela estrada. A raposa apreciou a vista do campo aberto que, vez ou outra, se transformava em mata.

Em um momento, entrou na parte de mata e dirigiu rumo a uma abertura que deu para uma estrada de terra batida. Pelo carro ser pequeno, dirigiu devagar. Os galhos das árvores grandes às margens da estrada formavam um arco, deixando o caminho sombreado. O fim do caminho era visível, sendo anunciado pela porteira de madeira.

— Seu tio deve ser bem rico, não é? — comentou a raposa.

O leão deu uma risada, virou-se para a raposa e a expressão no rosto do felino lhe dizia o contrário. Parou o carro em frente à porteira, desceu, foi até a lateral, onde puxou o gancho que prendia a porteira, abrindo-a. Depois a prendeu em outro gancho para deixa-la aberta. Voltou ao carro e avançou um pouco mais à frente, em seguida, saiu do carro para fechar a porteira e retornou.

— Que trabalhão — comentou a raposa.

Atlas dirigiu só mais um pouco e já conseguiram ver as casas. Uma casa grande na ponta esquerda e outras menores como se fossem quartos de uma pousada. A última da ponta direita era apenas um amontoado de tijolos com peças a serem colocadas. O leão estacionou o carro em frente à casa maior na ponta esquerda.

A casa possuía uma varanda pequena à frente, onde um leão alto como Atlas estava em pé, tomando um copo de café, observando-os parar. O rosto estava sério e a juba negra, cortada devido ao calor. Dava-lhe certo charme, pois era curta sobre a cabeça e se alongava conforme descia do pescoço para o peito — mas não muito — e depois voltava a ficar curta. O peito nu devido ao calor que fazia. O braço esquerdo repousando sobre o tecido azul da tipoia enquanto o outro moveu-se para deixar o copo de café sobre a mesa que havia na varanda e depois acenou para os recém-chegados. A perna direita envolvida pelo gesso.

O carro parou em frente à varanda. Atlas desligou-o e os dois rapazes saíram do carro. O leão sobrinho deu um aceno ao leão tio, que sorriu e acenou em resposta, avisando que havia café na mesa.

Os rapazes andaram até o tio, que os abraçou calorosamente com o braço bom.

— Quem é esse rapaz? — quis saber, olhando para a raposa de cima a baixo, sorrindo.

— Me chamo Renan, senhor — falou a raposa.

— Pode me chamar de tio, rapaz — falou o leão machucado, acariciando a cabeça da raposa com a mão grande.

O tio se sentou à mesa em uma das cadeiras, os rapazes se sentaram nas outras que estavam disponíveis. Havia alguns copos limpos e a garrafa térmica que guardava o café ainda quente. Atlas pegou a garrafa e serviu o café em dois copos.

— Há quanto tempo, sobrinho — falou o tio. — Sua tia deve ter falado para a sua irmã e...

— Foi o José — corrigiu Atlas.

Coração Quente (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora