Renan escutou e ficou preocupado sobre tomar banho de rio.
— Vocês as capturaram? — quis saber.
— Não! — respondeu. — Mas, sinceramente, eu nunca vi uma de perto.
— Elas devem estar bem grandes a essa altura, não acha? Deve ter mais de duas, pela época em que seus tios as viram.
— Não acho que sucuris possam viver tanto assim.
— Mas elas podem ter filhotes. E filhotes crescem e se tornam adultos.
— Então você pode evitar o banho de rio, já que é essa a sua preocupação.
— E você não vai? — preocupou-se a raposa.
— Claro que não — o leão deu risada. — A água é bem fresquinha.
Renan continuou preocupado com as sucuris na água do rio enquanto Atlas ria e dirigia pela estrada. A raposa apreciou a vista do campo aberto que, vez ou outra, se transformava em mata.
Em um momento, entrou na parte de mata e dirigiu rumo a uma abertura que deu para uma estrada de terra batida. Pelo carro ser pequeno, dirigiu devagar. Os galhos das árvores grandes às margens da estrada formavam um arco, deixando o caminho sombreado. O fim do caminho era visível, sendo anunciado pela porteira de madeira.
— Seu tio deve ser bem rico, não é? — comentou a raposa.
O leão deu uma risada, virou-se para a raposa e a expressão no rosto do felino lhe dizia o contrário. Parou o carro em frente à porteira, desceu, foi até a lateral, onde puxou o gancho que prendia a porteira, abrindo-a. Depois a prendeu em outro gancho para deixa-la aberta. Voltou ao carro e avançou um pouco mais à frente, em seguida, saiu do carro para fechar a porteira e retornou.
— Que trabalhão — comentou a raposa.
Atlas dirigiu só mais um pouco e já conseguiram ver as casas. Uma casa grande na ponta esquerda e outras menores como se fossem quartos de uma pousada. A última da ponta direita era apenas um amontoado de tijolos com peças a serem colocadas. O leão estacionou o carro em frente à casa maior na ponta esquerda.
A casa possuía uma varanda pequena à frente, onde um leão alto como Atlas estava em pé, tomando um copo de café, observando-os parar. O rosto estava sério e a juba negra, cortada devido ao calor. Dava-lhe certo charme, pois era curta sobre a cabeça e se alongava conforme descia do pescoço para o peito — mas não muito — e depois voltava a ficar curta. O peito nu devido ao calor que fazia. O braço esquerdo repousando sobre o tecido azul da tipoia enquanto o outro moveu-se para deixar o copo de café sobre a mesa que havia na varanda e depois acenou para os recém-chegados. A perna direita envolvida pelo gesso.
O carro parou em frente à varanda. Atlas desligou-o e os dois rapazes saíram do carro. O leão sobrinho deu um aceno ao leão tio, que sorriu e acenou em resposta, avisando que havia café na mesa.
Os rapazes andaram até o tio, que os abraçou calorosamente com o braço bom.
— Quem é esse rapaz? — quis saber, olhando para a raposa de cima a baixo, sorrindo.
— Me chamo Renan, senhor — falou a raposa.
— Pode me chamar de tio, rapaz — falou o leão machucado, acariciando a cabeça da raposa com a mão grande.
O tio se sentou à mesa em uma das cadeiras, os rapazes se sentaram nas outras que estavam disponíveis. Havia alguns copos limpos e a garrafa térmica que guardava o café ainda quente. Atlas pegou a garrafa e serviu o café em dois copos.
— Há quanto tempo, sobrinho — falou o tio. — Sua tia deve ter falado para a sua irmã e...
— Foi o José — corrigiu Atlas.
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Coração Quente (Volume 1)
RomanceAtlas, um grande leão de juba escura, torna-se amigo de Renan, uma raposa, depois de jogarem um jogo de fantasia que jogam online. Ao se conhecerem pessoalmente, Atlas descobre as dificuldades do amigo e tem a ideia de acolhe-lo.