No dia do aniversário da irmã de Atlas, Dona Maria quis saber o horário de saída do trabalho da raposinha para que os leões fossem buscá-la. Renan arrumou uma muda de roupas para poder tomar um belo banho e se trocar na casa de Atlas para irem à casa da irmã dele.
Terminado o expediente, pegou suas coisas e foi para o estacionamento do mercado, onde Atlas o esperava. Por algum motivo irônico do destino, hoje era feriado e, devido a isso, Atlas tinha o dia livre já que em seu trabalho não se trabalha em feriados — nem em fins de semana.
Dona Maria, na cozinha da casa de Atlas, terminava de assar o bolo que havia preparado. O cheiro do bolo assando no forno fez as orelhas da raposa estremecerem de excitação e sua boca encheu d'água ao imaginar aquela massa saborosa em sua boca.
Renan tomou um banho quente e vestiu-se com as roupas que separou para este dia. Uma camisa azul e um short laranja. E sua cueca confortável de cor cinza.
Dona Maria incrementou o bolo com calda, granulado e alguns doces. Esperaram o bolo esfriar para irem à casa da irmã de Atlas. Dona Maria não removeu o bolo da forma de aço a qual o havia preparado.
— Não tinha um carro menor na concessionária? — ironizou a mãe leoa ao entrar no carro do filho no banco de trás com o bolo em mãos.
Atlas revirou os olhos ao entrar no veículo. Renan entrou em seguida no banco do carona. Com os três no carro, o portão automático se abriu e o carro seguiu de ré até chegar à rua. O portão se fechou e eles seguiram viagem até a casa da irmã.
A raposa teve que alertar o leão algumas vezes do sinal vermelho. A mãe leoa contou histórias para a raposa sobre a infância do leão, o que o deixou com as bochechas coradas e rígidas de vergonha.
— Seu amigo não vai falar para ninguém, pode ficar tranquilo — falou a mãe. — Não é mesmo? — deu um tapinha no ombro da raposa.
Renan ficou um pouco desorientado, de orelhas abaixadas, tímido, e rindo para disfarçar sua preocupação ao olhar para o leão e ter como resposta um olhar ameaçador.
Na casa da irmã do leão, o carro foi estacionado do lado de fora. A casa era bem grande, com muitos cômodos e um fundo bem grande com gramado e uma piscina. Leona era o nome dela — um nome engraçado para uma leoa (talvez para qualquer leão). O bolo foi guardado dentro da geladeira, onde ficaria até chegar a hora de dar os parabéns — o que não iria demorar, pelo que ela dissera.
Mais leões foram chegando, o que foi deixando a raposinha receosa, pois eram muitos felinos grandes. Contudo, sua preocupação se transformou em alívio ao sentir que eles eram extremamente amigáveis, até mesmo os mais encrenqueiros. Um deles, um leão de pelos brancos, se comunicava através de gestos e os outros leões se comunicavam com ele de volta da mesma forma.
Ele é surdo, percebeu Renan.
Atlas ficou ao lado de Renan para apresentar a família. Quando o leão branco se aproximou e fez gestos, Atlas os traduziu e traduziu as respostas que Renan dava a ele.
— Ele disse "oi" — informou Atlas logo após o leão branco fazer um sinal com a mão. — E ele quer saber quem é você. — Atlas fez gestos indicando que a raposa era um amigo. O leão branco fez gestos. — Ele está dizendo o nome dele — informou. — É Renato — Atlas fez gestos com a mão soletrando o nome de Renan em libras.
Renato fez alguns gestos e Atlas o respondia com gestos. Eles ficaram um tempo nisso e Renan observava curioso a conversa que utilizava mãos e expressões faciais. Algumas coisas ele entendeu, outras, não. O leão branco foi até outra pessoa.
— Conversamos sobre minha prima que foi fazer faculdade e reprovou um ano — explicou Atlas após Renato partir. — Por conta disso, ela atrasou a faculdade e só terminou esse ano. Ela vai pegar o diploma no começo do ano que vem.
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Coração Quente (Volume 1)
RomanceAtlas, um grande leão de juba escura, torna-se amigo de Renan, uma raposa, depois de jogarem um jogo de fantasia que jogam online. Ao se conhecerem pessoalmente, Atlas descobre as dificuldades do amigo e tem a ideia de acolhe-lo.