Tuolock e Olívia apareceram no galpão, no espaço dos sofás, dando um grande susto em Naitan que estava reclinado em uma poltrona com uma pilha de livros ao seu redor. Quando ele viu Olívia chorando, pulou da poltrona dizendo:
– O que aconteceu?
Sem se importar que era Tuolock que estava a carregando nos braços, ele parou diante do Mestre. Olívia esticou os braços para ele, procurando apoio para ficar em pé.
– Torci meu tornozelo...
– Como? – Disse ele já arrumando o sofá para ela sentar.
– Lutando. – Disse ela, sentando no sofá e ficando de braços dados com ele, que sentará ao seu lado.
Naitan ficou preocupado, imaginando alguma situação em que talvez ela tivesse realmente entrado numa luta.
– Foi um treino, na verdade! – Disse Tuolock, fazendo-se ver.
– Você não pode lutar com tangens, Olívia. – Disse ele com ar de reprovação, principalmente ao responsável por aquele treino. – Eu já te expliquei isto. Você é humana e tem a formação óssea muito diferente da nossa.
Tuolock olhou bem para ele e pareceu não gostar do tom que ele usava e nem do fato dele estar abraçado à Olívia. Naitan estava revoltado com a situação e disse:
– O senhor sabia que em humanos da idade dela, os ossos ainda não estão totalmente formados?
O Mestre não respondeu. Apenas olhou fixo para ele por um longo momento. Naitan teve medo do que o Mestre estaria pensando. Porém Tuolock desviou o olhar para os livros que Naitan estava lendo e perguntou:
– Você é quem está estudando a história de dons e de anjos?
– Sim, senhor! – Disse Naitan apreensivo com a mudança de assunto.
– Me procure mais tarde para conversarmos.
Aquilo era tudo que Naitan e Olívia não queriam que acontecesse. Mas antes que eles pudessem falar alguma coisa, os outros entraram correndo pelo galpão, querendo saber de Olívia.
Tuolock olhou triste e preocupado para ela mais uma vez, antes de dar as costas e sair do galpão. Assim que passou pela porta, encontrou Renus e perguntou:
– O que você sabe sobre este historiador do grupo?
Renus vendo Naitan abraçado em Olívia respondeu:
– É o namorado dela!
O Mestre olhou para Renus e foi embora rindo da resposta.
Olívia ficou deitada ali mesmo e acabou pegando no sono. Acordou bem depois e viu Naitan na poltrona lendo. Ele disse:
– Os outros foram almoçar. – E apontando para uma mesinha do lado do sofá, falou: – Eu fiz este sanduíche para você!
– Você não foi almoçar também? – Perguntou Olívia.
– Não. Para não te deixar aqui sozinha e por aquele outro motivo. – Respondeu ele.
– E agora esta ajuda do Mestre... – Disse Olívia. – Como vamos fazer para você e ele não terem uma conversa?
– Parece que a tal conversa foi adiada. Turio foi trabalhar no escritório do Mestre, e veio com a notícia que ele vai ficar à tarde fora da escola, numa pequena missão. – Falou ele bem tranquilo. – Talvez amanhã ele já tenha esquecido.
Olívia olhou para Naitan angustiada e comentou:
– Eu acho que cometi um grande erro vindo para cá. Eu torci o pé, você está se escondendo, Renus está sendo humilhado, e os outros andam sempre assustados com os arroubos do Mestre.
– Faltam poucos dias para irmos embora. Até lá, vamos tentar descansar. – Disse ele querendo não parecer preocupado para que ela não se sentisse tão culpada.
Olívia quis saber o que ele havia descoberto sobre seu dom e ele falou que mais um pouco e ele já teria algumas coisas para contar. Ele estava tomando notas e fazendo uma pesquisa sobre dons parecidos com o dela, porém os livros disponíveis em Tangen não eram completos e eles não teriam condições de ter este tipo de informação por algum anjo – mesmo porque isto levantaria muita suspeita.
Naquela noite, eles foram jantar no refeitório apenas com Renus.
– O Mestre ainda não voltou. Então vou levá-los até lá. – Decidiu o Conselheiro.
Ele achou melhor que Olívia e ele sentassem à mesa que o Mestre havia reservado para a turma naquela semana. Entraram discretamente, porém assim que os alunos viram Renus, levantaram todos. Na ausência do Mestre, professores e alunos já sabiam: ele era seu substituto. E isto era algo bastante constrangedor para Renus, pois ele não acreditava na possibilidade de um dia vir a ser o Mestre dos Movimentos.
Ela tentou puxar conversa com ele durante a refeição, mas ele estava bastante quieto. Só se interessou quando ela lamentou ser tão frágil e não conseguir enfrentar uma luta.
– Uma luta não se dá apenas como batalha corpo a corpo. Ela começa antes de um enfrentamento... E também não termina somente com alguém caído. – Disse ele.
Ela gostou deste ponto de vista:
– Você está sugerindo que eu posso ser uma boa lutadora por fora de uma luta corpo a corpo?
Ele olhou para ela com aquele jeito arrogante e disse:
– Eu não estou sugerindo nada... Ou talvez, que seja melhor ficar longe de confusão... Aprender a evitar uma briga seria a melhor opção para você.
Ela entendeu que preferia que ele fosse assim prepotente, a cabisbaixo e triste. Naquela noite, ele ficou com o grupo até a hora de dormir, ouvindo Lália e Naitan tocando, Aurosa cantando e prestando atenção em Noro e Turio que jogavam cartas, com um baralho bem diferente dos que Olívia conhecia.
Pela manhã do outro dia, Olívia levantou tarde e preferiu ficar no dormitório lendo, até que uma voz anunciou Renus na porta do seu dormitório. Ela mandou abrir e ele entrou:
– O Comandante de Operações no Fogo veio me chamar... Tuolock ainda não voltou da missão que ele foi ontem. Ele e os outros estão preocupados, pois ele não tentou nenhum tipo de comunicação até agora.
– Você acha que aconteceu algo com ele? – Disse ela também preocupada.
– Acho que sim! Ele não teria passado a noite fora sem avisar e com mais três do grupo de resgate. Incluindo o Comandante de Salvamentos. Nenhum deles enviou qualquer sinal. – Explicou ele. – Eu vim te falar, pois eles acham que seria melhor eu ir atrás do Mestre.
Olívia parou para pensar o porquê Renus estava dizendo aquilo para ela. Será que ele acreditava que ela era sua superior e precisava pedir permissão ou ele estava apenas comunicando que iria se ausentar. Entre dar uma liberação e parecer ridícula e apenas dar força para a tarefa, ela escolheu a segunda opção.
– Também acho que você deve ir! Mas você acha que pode ser perigoso? O que era a missão?
Renus não viu problemas em contar:
– Era algo simples, mas em um lugar complicado. Num pântano; um lugar em Tangen que é abandonado há anos. Um sensor que eles têm aqui captou um sinal de comunicação por lá, e isto é quase impossível. O Mestre achou que pudesse ser só alguém perdido e foi verificar se precisavam de resgate. Mas se não chegou aqui até agora é por que talvez tenha tido problemas para voltar. Não acredito que seja nada sério. Talvez estejam machucados ou incapacitados de teleporte...
– Eu posso ir junto? – Perguntou Olívia com certeza na resposta.
– Não. – Disse ele bem sério. – Eu só vim aqui avisar, pois não quero que vocês se metam em confusão enquanto eu estiver fora. Fui claro?
Ela nem respondeu. Antes dele virar as costas e ir embora, ela ainda disse:
– Toma cuidado!
Embora tenha gostado, ele fez que não ouviu.
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Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos Mestres
FantasyOlívia é uma jovem que vive sozinha. Todas as suas tentativas de amizade e amor deram em nada. Aos 20 anos, ela quer muito provar que não é tão errada assim: que é alguém inteligente e capaz de continuar sendo independente. Para isto, arrisca uma mu...