Naquela manhã, Olívia decidiu finalizar a missão. Ela, Renus, Aurosa e Turio iriam novamente a Amsterdam entregar a carta de Evelien. Lália iria a sua aula de violão e Naitan e Noro iriam redigir um relatório para o Conselho que omitisse as visões de Olívia.
Depois do meio-dia, Turio, de capuz e sem óculos, bateu na porta de Evelien. Ela abriu a porta e ele disse:
– Correspondência para Evelien.
A velha senhora pegou a carta e antes que pudesse agradecer, o falso carteiro já estava de costas para não ser reconhecido. Haviam cumprido sua missão e não quiseram ficar para ver o desfecho desta história. Eles partiram pelas ruas de Amsterdam, levando Aurosa até o mercado de tulipas.
Caminhando pelas bancas de flores, Renus começou uma conversa com Olívia:
– Você terá de comparecer ao Conselho amanhã para encerrar a missão.
– Eu realmente sinto muito que solucionamos um caso em que os culpados não foram punidos. Os dois ladrões de crianças viveram uma vida confortável... – lamentou Olívia.
– Há bem mais coisas envolvidas neste caso, menina! – Disse ele.
– Como o quê?
– Você é tão burra! – Disse ele cruelmente. – Primeiro que estes dois ladrõezinhos fizeram parte de um golpe muito maior e que envolveu algo com o Departamento de Assuntos dos Anjos. Os anjos têm uma vida bem mais longa que os tangens. Com certeza, os envolvidos nestes raptos ainda estão por aí. E, com certeza, não devem ter mudado muito suas práticas. Segundo, que descobrimos uma falha no sistema de Tangen; mesmo que passado, isto ajudara o sistema presente e futuro. Terceiro que, você não perguntou sobre as cinco crianças da lista... Ainda há duas vivas. Elas terão seus passados revistos e justiçados e, assim como Martin, poderão descansar em seus últimos dias de vida... – Explicou Renus.
Olívia ficou surpresa e muito espontaneamente falou:
– Tudo isto? Nós fizemos tudo isto?
Para sua surpresa, Renus respondeu bastante agressivo e violento:
– Você é uma humana irresponsável que não sabe o que está fazendo.
Olívia sentiu o sangue aquecendo o seu rosto, não de raiva e nem de vergonha, mas de desilusão, pois ela achou que eles já haviam passado desta fase de troca de insultos. No fundo, ela esperava dele palavras de reconhecimento, pois se não fosse a visão das crianças, eles muito provavelmente não teriam desvendado o mistério. Mas não foi o que ele demonstrou. Sem entender direito a mudança de humor do Conselheiro, ela permaneceu calada o resto do caminho. Somente Turio percebeu que ela voltou a ficar triste e que era por causa de Renus.
Aurosa foi a única que realmente curtiu o resto do passeio. O mercado de tulipas ficava às margens de um dos tantos canais da cidade. Eram muitas bancas de flores que foram colocadas lado a lado em uma plataforma na água. Quando entraram em umas das maiores bancas, Olívia falou que queria montar um buquê.
– Deixa que eu escolho e monto para você! – Disse Aurosa, que pouco tempo depois entregava para Olívia o maço de flores composto lindamente com tulipas de diversas cores.
A professora humana pegou as flores, e o arranjo delas lembrou muito o dos cravos roubados que ela encontrou em sua casa, em Tangen. Principalmente pela variedade de cores bem distribuídas. Embora Renus estivesse bastante interessado em sementes de outros tipos de flores, ele também reparou o mesmo detalhe e fez uma expressão de dúvida para a humana. Ela respondeu a ele com uma negativa de cabeça, pois ela não tinha dúvidas: de todas as pessoas que ela conhecia em Tangen, Aurosa seria a menos suspeita de ter algo a ver com o caso dos cravos.
Aquela conversa silenciosa foi interrompida por Turio chamando Olívia para o outro lado da loja, querendo saber se aqueles tamancos de madeira que estavam pendurados aos montes em um painel enorme realmente eram usados como sapatos.
Olívia chegou na Escola dos Pequenos, com um grande buquê de tulipas. Desta vez pediu que Renus, Turio e Aurosa, que carregava quatro sacolas repletas de plantas e sementes, não entrassem com ela na sala da direção. Lotie ficou encantada com a delicadeza de Olívia ao lhe oferecer o buquê:
– Você pode ficar tranquila, Olívia. Tudo o que eu vi na enfermaria, eu não irei contar para ninguém. Mas você precisa contar isto para alguém de confiança e que saiba te explicar como lidar com esta habilidade.
– Eu não acho que seja uma habilidade. – Disse Olívia com sinceridade. – Acho que foi apenas um caso específico destes dois irmãos que queriam tanto uma comunicação entre eles. Não deve acontecer de novo...
– Bem, você é que deve saber. Só que se voltar a acontecer, eu te aconselho a procurar um Mestre. Você conhece o Mestre da Natureza? – perguntou Lotie.
– Não. Ainda não conheço. – Lamentou Olívia, omitindo que não havia conhecido nenhum Mestre.
– Ah, ele é fantástico! – Falou Lotie eufórica. – Vá procurar por ele!
– Eu ainda tenho tantas coisas para aprender em Tangen, Lotie! Essa missão... Eu nem imaginava o alcance que ela teria... até relação com o Mundo dos Anjos... – Olívia nem chegou a concluir o pensamento e foi interrompida por Lotie:
– Não fale em anjos, minha querida! Fique longe deles... Eles são falsos e desonestos... Eles mentem... Por isto queria tanto um professor de luta e movimento aqui na escola... As crianças precisam aprender a se defender. Mas aquele Tuolock é intratável. – Voltou Lotie, ao assunto, fazendo Olívia pensar que conseguir este professor era a grande prioridade dela.
– Eu não esqueci o que te disse. Não sei como, mas irei tentar te ajudar a conseguir este professor...
Ao se despediram, Lotie falou:
– Outra coisa, minha querida... Não confie neste Conselheiro que anda com você. Ele tem uma péssima reputação... Até de deslealdade. Já ouvi dizer que ele é partidário dos anjos... Qualquer coisa errada, venha me procurar.
Desta vez, Olívia concordou, pois as mudanças de temperamento de Renus estavam colocando a professora humana em dúvida sobre a participação dele no Programa.
– E não esqueça, querida! Você será sempre bem vinda nesta escola. – Disse Lotie bem alto já no corredor, fazendo com que Renus ouvisse.
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Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos Mestres
FantasyOlívia é uma jovem que vive sozinha. Todas as suas tentativas de amizade e amor deram em nada. Aos 20 anos, ela quer muito provar que não é tão errada assim: que é alguém inteligente e capaz de continuar sendo independente. Para isto, arrisca uma mu...