Brother!

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Era sexta-feira e Olívia foi com Noro, Aurosa e Lália para as atividades na cidade. Deixou cada um em um lugar diferente e quando foi buscá-los, Noro não estava mais na escola. A professora de cerâmica havia deixado a turma sair mais cedo e elas não o acharam em nenhum lugar ali por perto. Nas muitas tentativas de contato, elas acabaram achando que seu celular estava desligado. Olívia e as duas meninas esperaram um pouco mais, mas passado meia hora, resolveram ligar para Turio que ficara em casa. Ele conseguiu ver onde Noro estava: ele estava na delegacia central. O coração de Olívia disparou, pois era o que ela mais temia: problemas com a polícia.

Ela parou a van na frente da delegacia e entrou com Lália. No balcão de recepção, ela perguntou para o guarda se Noro havia entrado lá:

– Um estrangeiro negro e alto! – Descreveu ela.

– Ele está aqui sim. Você é da família? – Perguntou o guarda que era um homem de vinte e poucos anos, muito simpático e com feições bonitas, o rosto redondo muito branco e bem corado, quase caricatural de uma criança grande.

Ela explicou quem era e ele a levou até a sala do delegado. Lália ficou na recepção e Aurosa, no carro.

– Senhor, a jovem aqui diz que é a responsável pelo gringo bêbado. – Disse o guarda ao homem sentado atrás de uma escrivaninha.

O delegado Lopes era um homem forte e baixo, de quase sessenta anos, que tentava manter-se em forma. Usava uniforme bem alinhado e tinha uma sala impecável na organização e na limpeza. Ele levantou para receber Olívia, deu-lhe um aperto de mão e Olívia se apresentou:

– Olívia!

Ao que ele respondeu

– Delegado Lopes!

Ele continuou:

– Então a jovem é responsável pelo homem bêbado, chamado Noro... sobrenome: Rivier, que meus homens precisaram carregar do bar? – Disse ele, lendo o nome no passaporte de Noro.

Ao ver o passaporte de Noro na mão do delegado, Olívia teve um calafrio: primeiro porque ainda tinha esperanças que não fosse Noro quem estivesse ali; segundo por estar o delegado com uma falsa identidade, que Olívia nem tinha certeza se era de boa qualidade.

– Senhor, eu não sei direito o que aconteceu com ele. Ele estava bebendo em um bar? Causou algum problema?

– Sim. – Respondeu o delegado de forma direta.

Então Olívia explicou que era professora e tutora dos alunos em intercâmbio e tudo aquilo que ela já havia dito para várias pessoas do local.

– Isto não dá o direito de um camarada beber tanto e incomodar outros no bar. – Disse ele, demonstrando que não iria ceder muito facilmente.

– Claro que não, Senhor! Eu só gostaria de lhe falar que Noro não costuma beber. Talvez por isso, ele tenha ficado bêbado. – Tentou justificar ela.

– E drogas? – Perguntou ele.

– Não, senhor! Nada de drogas! Ele é desportista. Ele é campeão de natação, senhor. – Disse ela já bem nervosa, percebendo que o delegado estava complicando o caso.

– O que justifica o tamanho do homem! Achei que era jogador de basquete... – Falou ele de um jeito sincero, meio rude e preconceituoso. – Foi preciso dois de meus homens para carregar...

– O senhor desculpa o transtorno. Ele é um bom rapaz. Ele causou algum dano ao bar? – Perguntou ela, já querendo resolver o caso com dinheiro.

– Não. Mas ele agiu de forma muito estranha...

Olívia ficou apavorada, pois somente agora percebia que Noro bêbado poderia ter dito coisas que estragariam todo o Programa.

– Como assim, senhor?

– Conforme o dono do bar, ele entrou e pediu uma garrafa de algo para beber. Quando o garçom perguntou o quê, ele apontou para uma garrafa de uísque. O garçom serviu uma dose, que ele tomou direto. Não satisfeito, ele pediu outra dose... Depois desta segunda, ele tentou levantar e não conseguiu. Então o garçom achou que havia algo errado com ele e perguntou se precisava de ajuda. Ele então começou a falar em outra língua. Falar alto e, conforme o homem, ficar exaltado demais. O garçom entendeu umas palavras na nossa língua, mas sem sentido.

O delegado olhou um papel, que Olívia percebeu ser o depoimento de quem contou a história.

– Hélio, selênio, zinco... altrosa... – Ele ia continuar, e Olívia interrompeu:

– São elementos químicos, Senhor! Noro é formado em química. Na verdade é um químico muito bom. – Explicou ela, percebendo que a última palavra era muito parecida sonoramente com o nome de Aurosa, mas não fazia muito sentido pensar naquilo naquele momento ou comentar com o delegado.

Ele fez um momento de silêncio e perguntou:

– Químico... Nada a ver com drogas?

Olívia percebeu que o delegado devia ter alguma paranoia com drogas e a coisa toda poderia se complicar a partir do que dissesse a seguir. Porém foi somente o tempo dela falar um "Não, senhor!" e o guarda da recepção pediu licença anunciando:

– Senhor, outro responsável pelo gringo!

Atrás do guarda estava Naitan. Olívia tremeu. Porém Naitan foi certeiro na primeira palavra que usou:

– Sir! – Disse ele, com o sotaque do mais elegante lorde inglês, ao delegado.

O Delegado Lopes chegou a vibrar de orgulho, e tentando ser o mais simpático possível, levantou e falou:

– Please... queira sentar!

Olívia ficou indignada com a diferença de tratamento que Naitan recebeu do Delegado, apenas pelo "Sir". Ele disse ao delegado que também era responsável por Noro, pois era o mais velho do grupo e que era formado em direito. – O que fez Olívia reparar que ele estava realmente parecendo mais velho pela postura e seriedade.

– Eu não ser advogado, mas estar aqui neste beautiful país para estudar leis internacionais, e estar muito feliz em conhecer o senhor, autoridade local... Embora não ser boa hora. Meu brother bebeu... estar aqui...

O Delegado Lopes esqueceu o caso de Noro e fez um silêncio por alguns instantes para sentir-se importante e valorizar seu momento de autoridade. Depois retornou ao assunto:

– O senhor me perdoe a situação... nós precisamos manter a ordem local e seu brother passou do limite. Mas, pelo visto, é só mais um caso de um jovem que bebeu demais. O importante é que não teve grandes consequências, visto que ele é muito forte. – Disse o Delegado.

– Forte e um good brother. Se permitir, eu levar ele para casa e eu dar... Como se diz? ... Moral a ele. Ele não fazer mais isto! Aborrecer a ordem... – Disse Naitan.

Olívia não acreditou quando o delegado levantou e deu ordem para buscar Noro. Naitan precisou carregá-lo até o carro, enquanto Olívia preenchia alguns papéis para liberação. Lália que havia permanecido na recepção, ainda estava lá e conversava com o guarda, que estava com as bochechas bem mais vermelhas. Quando as duas saíram da delegacia, ela deu um sorriso para o guarda e ele abanou dizendo um "até logo".

Naitan foi deixado no meio do caminho, onde havia amarrado o cavalo que o levou até perto da cidade. Quando ele chegou em casa, Aurosa já havia cuidado para que a ressaca de Noro não fosse grande no dia seguinte dando-lhe algo para beber e colocando-o para dormir.

A janta foi o momento de reflexão sobre como um gole de bebida poderia causar um grande prejuízo ao Programa. Olívia comentou que o delegado havia insistido no assunto de drogas e que se ele continuasse com esta ideia, muito provavelmente, ele viria até a casa para inspecionar. E seria o fim deles aqui na Terra. Lália disse:

– Estúpido, estúpido, estúpido!

E Aurosa defendeu o amigo:

– Poderia ter acontecido com qualquer um de nós... tomar uma bebida errada!

Olívia concordou e pediu para que os outros não culpassem Noro. Quando acordasse, ela iria conversar com ele. 

Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos MestresOnde histórias criam vida. Descubra agora