Capítulo 8 - O Convite: A vida não é um piquenique

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A vida não é um piquenique

No campo, à sombra de uma grande árvore, sentados em toalhas retangulares, ainda vestindo seus pijamas, eles mais pareciam um bando de hippies, sem compromissos, do que extraterrestres numa missão. Eles riam enquanto conversavam banalidades e comiam sanduíches e frutas. Lália começou a tocar algumas músicas no violão e os outros tentavam acompanhar cantando. Ao longe, Seu Luiz capinava uma parte do terreno e via os jovens se divertirem. A casa, distante uns cem metros, estava toda aberta e iluminada pelo sol da manhã. 

Quando chegou perto das dez horas, alguém lembrou que Mirus deveria estar chegando e resolveram entrar. Vinham ainda cantando e rindo, Lália pulava na frente, atrás dela Noro fazia malabarismo com as cestas vazias e Turio e Aurosa seguravam as toalhas abertas ao vento, fazendo movimentos de ondas. Depois de todos, Naitan carregava Olívia em suas costas muito facilmente, como que brincando de ser um cavalinho. Ela tapava os olhos do condutor para atrapalhá-lo. Antes mesmo de chegarem a casa, Mirus surgiu na ponta da pequena escada da varanda.

– Bom dia! Estavam passeando? – Perguntou ele sorrindo. Ao se dar conta da cena, ficou sério de propósito e arregalou os olhos num aviso, para que todos vissem, e completou: – Temos uma visita...

O Conselheiro Renus surgiu de trás dele, ainda a tempo de ver o grupo brincando. Enquanto cada um fazia esforço para se recompor da forma mais rápida, Renus disse rispidamente:

– Parece que o circo chegou!

Olívia sentiu uma raiva tão grande por aquela observação desnecessária. Todos viram por sua expressão e vermelhidão no rosto. Naitan revidou:

– Ainda não somos um circo, nos falta um...

E antes que ele pudesse completar o pensamento com "palhaço" ou algo mais ofensivo, Noro, demonstrando-se mais rápido com a fala, do que com as mãos, falou:

– Malabarista...

E Aurosa compreendendo a gravidade de uma ofensa à Renus, mudou o assunto:

– Quanta honra, Conselheiro... O senhor nos visitando...

Olívia continuava parada, sem saber direito o que fazer e o que pensar. Foi Mirus que a chamou a razão:

– Olívia, viemos lhe falar!

Os outros entraram, percebendo olhares de canto de olhos cheios de raiva entre Renus e Naitan.

– O Conselho quer te ver hoje à tarde. É possível? – Falou Renus para Olívia.

– Sim, senhor! – Respondeu ela. E pensando um pouco perguntou de uma maneira desconfiada: – O senhor veio até aqui somente para isto?

Renus deu uma olhada para Mirus, que repentinamente lembrou que precisava falar algo com Turio, dando um jeito de deixá-los sós.

– Não. Eu vim verificar como realmente está o grupo e as atividades do Programa. – Disse ele deixando Olívia preocupada.

– Eu não entendi! Nós estamos fazendo os relatórios... E Mirus também deve estar contando que está tudo bem. Eles viram alguma coisa errada? – Perguntou ela.

– Eles, ainda não. Mas eu fiquei sabendo de coisas que não estão em seus relatórios...

– O quê? – perguntou ela, sabendo que tinha omitido algumas ocorrências.

– Ah, menina! Que você é irresponsável, nós todos já sabemos. Mas esconder a má conduta de Noro, que além de ter bebido, foi parar numa delegacia...

Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos MestresOnde histórias criam vida. Descubra agora