Para onde vamos?

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      O maior problema para ser resolvido passou a ser o local onde iriam morar na Terra. Mirus explicou que a principal ideia era não chamarem a atenção. Outras expedições haviam falhado pela indiscrição. Olívia não teve grandes informações sobre estes outros grupos e viu que Mirus sabia apenas parte das histórias, pois eram de outros tempos ou foram planejadas por outras instâncias de poder. Ele deixou escapar que uma delas, planejada por um antigo Mestre dos Elementos, nos Lagos Luminosos, havia sido abortada após um pequeno desastre que os humanos acharam ser um desastre natural, mas que na realidade havia sido uma falha química de um aluno incompetente do Mestre. Estas informações permaneceram por décadas arquivadas nos Lagos Luminosos e somente há alguns anos haviam sido passadas para o Conselho. Pelo que Olívia entendeu, havia muitas outras tentativas de contato com os humanos que ainda permaneciam escondidas em arquivos secretos de sabe-se lá quem ou onde.

     Por este motivo, o grupo precisava ser discreto e muito responsável; e reportar tudo aos conselheiros. O Conselho estabeleceu um prazo de poucos meses para esta primeira tentativa do grupo. Eles seriam muito bem monitorados por todos do Conselho; principalmente Mirus, que seria o responsável pelas notícias e por levar, trazer e transportar o grupo, onde eles precisassem ir, pois a habilidade de teleportar-se no espaço era restrita aos Conselheiros, Mestres e alguns poucos tangens. Assim, Mirus levaria o grupo para a Terra, diretamente ao local onde ficariam por aqueles poucos meses, apenas fazendo pesquisa simples e adaptando-se à vida na Terra. Talvez o Conselho pedisse algum trabalho específico ou extra ao programa de pesquisa que eles já haviam planejado, mas isto só se daria sob ordens e cuidados de Mirus. Para o momento, eles seriam como alunos de universidade, fazendo pesquisa de campo naquela comunidade que escolhessem.

     Após alguns dias pensando, Olívia, Mirus e todos os alunos conseguiram escolher um local.

     Olívia pediu para Turio ajudar com os globos, tal qual naquelas aulas sobre geografia e idiomas. Olívia começou com a sua teoria por eliminação.

– Se queremos ser discretos, precisamos pensar que não passaremos despercebidos quando em grupo em um país asiático. Vocês são muito altos e, tirando Turio que não tem os olhos tão arredondados, nós todos seremos sempre, mesmo de boca fechada, marcados como estrangeiros. Eliminei do mapa países que estão em guerra, países que criam problemas para estrangeiros, países com grandes densidades populacionais... Pois não quero ver vocês perdidos nas multidões. Também excluí países muito frios, que estarão com previsão de neve para os próximos meses... E outros com secas... Ficaram ainda muitos...

     O grupo olhava espantado para o globo, vendo, a cada coisa que ela falava, muitos países desaparecendo do mapa. Somente ela achava que "ficaram muitos".

– Também pensei que alguns destes países que estão aí são muito vigiados por câmeras, por polícias, por regime rígido de controle de alfândegas...

     Sobre o sistema de controle de entrada e saída dos países, ela já havia falado em uma aula. Eles demoraram a entender este controle, pois Tangen era minúsculo se comparado à Terra, sua população era muito pequena, e eles nunca haviam sido proibidos de transitar em qualquer parte que fosse. Havia limitações de espaço em várias escolas, por motivos de segurança, principalmente com relação aos anjos, ou em lugares em que não eram permitidos estudantes ainda sob tutela de algum Mestre, os menores de idades de Tangen.

     Ela continuou:

– Eu quero as menores probabilidades de haver algum caso de polícia para resolver. Se isto acontecer, teremos muito provavelmente que abortar toda a expedição e voltar para a casa, sem chances de retornar.

     Naitan e Mirus sorriram, e ela perguntou:

– Que graça há nisso?

– A cada dia, você confirma que sua casa é Tangen! – Disse Mirus.

     Ela riu meigamente, embora aquela fala tenha manifestado algo que a deixou preocupada. Mas não era o momento de pensar nisso. Então continuou com sua teoria, agora com apenas uns poucos países aparecendo no globo terrestre:

– Por outras questões, até mesmo pessoais, eu não quero levá-los a certos países, se não for necessário. Então olhem no globo e vocês verão que restaram estes poucos.

     Depois de muito debate o grupo chegou ao número de cinco países já com localidades específicas. O debate já ia longe, quando ela tomou a decisão:

– Sorteio!

     Mirus pediu licença, dizendo que voltaria logo depois. Todos entenderam que ele não deveria participar do método não lógico e que o Conselho consideraria subversivo às regras. Ele não compactuaria, porém não proibiu, nem atrapalhou.

     O sorteio deu resultado positivo, acharam todos. Eles iriam para um dos lugares mais afastados dos centros, com clima muito parecido com o de Tangen, rico na fauna, flora e minérios para a pesquisa: uma cidade pequena, no sul da América do Sul, não muito distante de uma cidade maior e do litoral do oceano atlântico.

     Turio e Aurosa acharam uma casa para alugar, sem grandes dificuldades. Era um sítio com  espaço e conforto para todos os seis, a cinco quilômetros de uma cidade de aproximadamente dez mil habitantes, que tinha uma boa infraestrutura.

     Naquele final de dia, Olívia deveria estar feliz, pois tudo parecia estar dando certo. Contudo, alguma coisa a estava preocupando. Noro, Aurosa e Lália saíram rumo ao refeitório em clima de comemoração. Turio ficou finalizando algo nos equipamentos, e Naitan, percebendo a preocupação da professora, foi lhe falar:

– Alguma coisa está te incomodando, Liv?

– Nada muito importante. Uma coisa que me passou pela cabeça. – Disse ela fazendo segredo, mas no fundo querendo falar isto com alguém.

– Você quer falar? Talvez eu possa ajudar... – disse, solícito como sempre.

– Hoje quando falei em voltar para casa... Eu percebi que na verdade não tenho mais casa... Entreguei meu apartamento antes de vir pra cá. E se o Programa der errado e eu tiver que voltar para a minha vida de antes, o Conselho de Tangen não me dará uma carta de recomendação para um futuro emprego. Na verdade, se eles me dessem, de nada valeria... Você entende? Não terei mais casa, nem emprego para recomeçar...

     Naitan estava visivelmente comovido com a declaração da professora e nem percebeu quando pegou a mão de Olívia e disse:

– Você não está sozinha, Olívia!

     Para os dois aquela demonstração de carinho foi normal, porém para Turio, que ouvia e via tudo, não pareceu muito correto Naitan tocar na professora. Nenhum aluno, pelo menos os das cidades, tocava assim em seus professores. Ele então interrompeu o momento, aproximou-se dos dois, e disse:

– O Conselho nunca lhe mandaria de volta assim... Nós não deixaríamos. Ainda mais para passar necessidade. Na Terra ou aqui, se algo assim acontecer, nós estaremos do seu lado.

     Naitan largou a mão de Olívia, um pouco constrangido por ter esquecido que o colega ainda estava ali, prestando atenção na conversa. Porém a reação de Olívia, totalmente espontânea, quebrou o mal estar entre os dois, que ela não percebeu. Ela abriu os braços, e abraçando os dois alunos a sua frente, disse sem pensar:

– Já amo vocês! Eles que não me mandem embora!

– Já amo vocês! Eles que não me mandem embora!

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Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos MestresOnde histórias criam vida. Descubra agora