Ao amanhecer, Olívia demorou a sair da cama. Havia dormido mal, e não se sentia muito descansada. Porém acordou na mesma hora de sempre. Ao abrir as janelas da cozinha, viu Renus no gramado, praticando alguns movimentos de luta. Eram movimentos simples e lentos, que qualquer leigo no assunto conseguiria entender como serviriam para defesa ou para atingir alguém. Porém em determinados momentos, Renus mudava de posição e começava a girar e saltar com uma rapidez impressionante, circulando em torno de um eixo imaginário que deveria ser seu inimigo. Ele fazia gestos com as mãos e braços que não eram de ataque – mais parecia que ele fingia segurar algo reto e firme e que, de repente, transformava-se em algo maleável.
Ela ficou ali parada alguns instantes admirando a luta e o lutador, até que foi surpreendida por Naitan que abriu a porta dos fundos e entrou com uma cesta de laranjas. Olívia não tentou disfarçar o que ele flagrou: ela apreciando o treino de Renus. Ela perguntou:
– Você aprendeu a lutar?
– Eu aprendi algo melhor. Aprendi a fugir de brigas. – Disse isto, largando a cesta no chão; e jogando uma laranja em Olívia, saiu correndo pela sala.
Ela se sentiu provocada e entrou na brincadeira: pegou outra laranja e quando ia jogar, viu que Turio estava parado na saída do corredor, que já prevendo o arremesso, aguardava o momento seguro para entrar na sala.
– E você, Turio, prefere lutar ou fugir? – perguntou ela, já se armando de mais laranjas.
Turio querendo se esquivar da brincadeira disse:
– Eu evito as brigas...
Mal acabou de falar, recebeu uma laranja na altura do estômago. E daí por diante, eles começaram uma guerra com as frutas, que não tardou a ter mais lutadores, pois Lália, Noro e Aurosa também entraram na brincadeira.
A luta só acabou quando Renus entrou na casa. Haviam esquecido totalmente dele. A cena que ele viu ao entrar, com toda certeza, poderia ser considerada brincadeira de jardim de infância. O chão estava coberto por laranjas e todos paralisaram diante do Conselheiro, Lália sentindo necessidade de explicar a situação infantil, disse:
– Estávamos praticando luta humana.
Renus apenas fez aquele rosnado e, afastando as laranjas que estavam no seu caminho, seguiu para seu quarto. Ninguém viu, mas quando ele entrou no corredor, ele esboçava um sorriso nos lábios.
Naquele dia, eles iriam até a Escola dos Pequenos ainda pela manhã. Embora com tantas informações conseguidas no dia anterior, quase nada mudara quanto a visitação à escola.
– Eu e Lália estivemos pensando ontem antes de dormir em algumas novas possibilidades. – Disse Aurosa, que agora dividia o quarto com a colega. – Uma delas é que Martin fosse uma criança da Escola dos Pequenos que ia brincar com Evelien quando pequeno. Como ele ia a Terra e saía de lá? Não sabemos. Mas alguém pode ter descoberto e ido buscá-lo: os dois tangens grandes...
– Ou seja, agora precisamos procurar por Martin, que pode ou não ter estudado na Escola há mais de 80 anos atrás; por tangens com mais de 100 anos possam ter vindo a Terra e que tinham ligação com a Escola na época. – Disse Olívia desanimada. – Parece que a visita à Evelien não esclareceu nada e até complicou mais...
– Não desamine, Liv. Nós vamos encontrar mais coisas por lá. Eu te prometo que vou descobrir algo nos arquivos da escola. – Disse Turio, tentando ser otimista e provocando olhares enciumados nos outros, pela certeza de sua competência.
Antes de saírem, Naitan não passou muito bem e Olívia preferiu que ele ficasse no sítio. Não querendo que ele ficasse sozinho, ela pediu a Lália que fizesse companhia à Naitan. Ela ficou contrariada, mas aceitou quando Aurosa falou que talvez fosse importante ter alguém para ajudar Naitan na catalogação das imagens de construções holandesas.
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Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos Mestres
FantasyOlívia é uma jovem que vive sozinha. Todas as suas tentativas de amizade e amor deram em nada. Aos 20 anos, ela quer muito provar que não é tão errada assim: que é alguém inteligente e capaz de continuar sendo independente. Para isto, arrisca uma mu...