Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos Mestres

A Festa

Era sábado na Terra. Mirus avisou que tinha outro compromisso e chegou somente à tarde. Não trazia novidades de Tangen.

– Demorei por que fui fazer compras para vocês! – disse ele largando algumas sacolas da mesma loja de departamentos que Olívia e ele compraram as primeiras roupas do grupo.

Olívia reparou que Mirus estava com novas roupas; desta vez, bastante elegante e coerente para a ocasião do jantar.

Os outros correram para as sacolas e sem que Mirus precisasse explicar o que era de quem, eles mesmos foram identificando: ou por estilo ou por tamanho. Ao final, Olívia pegou a sua sacola e tirou de dentro um lindo vestido azul e uma sandália prateada. Ela precisou reprimir o impulso que teve em dar um abraço em Mirus e saiu correndo para vestir-se.

Ao entrar em seu quarto, Olívia levou um grande susto ao ver o conselheiro Renus parado diante da janela aberta, com as mãos para trás, olhando para fora. Ele virou, e vendo Olívia paralisada na porta, disse:

– Feche a porta. Eu quero falar com você.

Olívia fez o que ele havia dito e se aproximou, sentando na cama. Ele puxou uma cadeira para perto dela e começou a falar:

– Você me causou um grande problema, menina!

– O senhor não precisa aceitar, se não quiser... – disse Olívia rapidamente já se defendendo. – Eu irei ao Conselho e direi que não será mais necessário.

– Eu temo que isto não vá resolver a situação... – disse ele.

– Que situação? – perguntou ela com sinceridade, pois não entendia direito o que ele estava pensando.

– Como você vive no mundo da Terra, você não sabe o que se passa em Tangen... Como as histórias se espalham... Ontem pela manhã, a principal notícia de Tangen era que eu havia voltado a lutar... Que eu havia lutado para defender uma humana. À tarde, uma frase provocativa de Tuolock foi acrescentada a noticia, algo como "além de defender anjos, agora ele luta para os humanos". Duas horas depois, a notícia era que eu já estava na Terra por ordem de uma humana, com recomendação do Conselho. Você compreende?

– Eu darei um depoimento falando a verdade, então! Não se preocupe. Eles não podem fazer isto com o senhor. – disse Olívia tentando ser justa.

– Comigo? – falou ele bravo, e completou no mesmo tom: – eu não estou preocupado comigo, sua humana burra!

Olívia corou num misto de vergonha por não saber ao que ele se referia e de raiva pela falta de delicadeza do Conselheiro.

– Eu sou burra mesmo! – Falou ela, realmente se achando burra – Pois eu não sei qual o problema que causei.

– Você é o problema! Você apareceu na notícia... Este era para ser um Programa de Estudos, lembra? Agora é só algum tangen menos idiota pensar em porque o Programa precisa de mim, para saberem que estamos fazendo outras coisas na Terra. Como eu vou poder proteger vocês com todas estas luzes acessas em nós?

Olívia parou por alguns segundos em choque com o que acabara de ouvir: se Renus já estava se incluindo, era por que já havia aceito. Era isto. E só então ela reparou que ele estava usando roupas humanas. Desta vez ela precisou de muito mais força para reprimir seu impulso de alegria. Respirou fundo e numa atitude digna de uma tangen disse:

– Se um tangen menos idiota aparecer, mande-o falar com a humana burra, – disse ela aparentando estar irritada.

Três horas depois, o grupo chegava a fazenda de Julia e Jorge. Seus alunos estavam bem diferentes do que costumavam ser, e Olívia soube logo que era a presença de Renus que mudara seus gestos, falas, atitudes. Nada era espontâneo. Apenas uma coisa a havia deixado surpresa: ela achava que o maior problema seria Naitan, porém ele parecia o mais simpático com os conselheiros Mirus e Renus. Olívia sabia que ele não estava sendo sincero, mas assim era melhor.