Mirus foi embora, logo em seguida, levando com ele o material coletado na fazenda de Jorge para análise.
Assim que o grupo estava todo reunido na mesa de jantar, Olívia fez um resumo do que seria esta nova missão:
– Há algum tempo, uma velha senhora humana foi vista usando um colar com um objeto tangen como pingente. O objeto é um círculo de bronze, um elo com duas letras no centro – o brasão de uma das escolas elementares mais conhecidas de Tangen: a Escola dos Pequenos.
Ela fez uma pausa na fala para mostrar o brasão na tela de um computador. Todos conheciam a Escola dos Pequenos e seu brasão. Ela continuou:
– Como a joia em si é de pouco valor, o material é conhecido na Terra e as letras, símbolo da escola, não são comprometedoras, nenhuma atitude de resgate foi necessária ou prioritária. Por isto, o caso foi deixado de lado. Porém, há pouco mais de um mês, a diretora da Escola dos Pequenos relatou um acontecimento estranho à Agência Tangeniana de Informações. Ela contou que numa certa noite, todo o sistema de alarme da escola foi desligado. Na verdade, ele foi programado para desligar e voltar a ligar duas horas depois. Exatamente, de uma hora da manhã até às três horas, o alarme permaneceu desligado. Eles só perceberam este desligamento no outro dia, pois nada estranho aconteceu naquela noite.
A diretora não soube de nenhum problema de invasão, roubo ou outro problema qualquer que tenha ocorrido nestas duas horas. Ninguém entrou ou saiu pelas portas que dão para a rua. Então ela achou que era um caso de teleporte individual. Achou melhor relatar a Agência e pedir que alguém fosse lá investigar. Os agentes foram até lá e não conseguiram saber quem havia desligado o sistema, nem porquê. Como nada aconteceu no interior da escola, ninguém estranho foi visto nas câmeras internas da escola, tudo levou a crer que o alarme fora desligado não para alguém entrar, mas sim para sair. Isto pareceu mais suspeito ainda, já que todos, até mesmo as crianças têm permissão para sair do prédio durante o dia. Mas as crianças estão fora das suspeitas, pois nenhuma delas consegue se teleportar. A diretora e os agentes tangenianos entrevistaram todos, professores, funcionários e cooperadores informais que vivem ou frequentam a escola e não encontraram nada. No total foram duzentos e vinte quatro depoimentos. Depois que acabaram as possibilidades de investigação, eles já estavam desistindo, quando um dos agentes teve a ideia de tentar resgatar informações de um radar de fluxo de teleportes que está em teste perto da escola.
Olívia fez uma pausa, para um comentário particular:
– Precisei que Turio me explicasse sobre isto, pois não sabia que os tangens podiam ser rastreados...
– Nós não podemos ser rastreados, menina! Mas, uma tecnologia recente, está sendo testada... Ainda em caráter experimental. São radares que a segurança de tangen vem desenvolvendo para registrar fluxos de anjos. Não está dando muito certo ainda, pois eles ainda só captam dados de teleportes de tangens. Estes radares não identificam os tangens, só o fluxo: de onde nós saímos e para onde vamos. – Explicou Renus.
– Isto mesmo. Um destes radares experimentais está localizado muito próximo à escola e, pelo que entendi, por causa da hora e local de pouco fluxo, conseguiu registrar a saída do fugitivo e para onde ele se teleportou. Mas, exatamente como o Conselheiro Renus falou, não conseguiu identificá-lo. Só que... – Olívia fez outra parada na fala para enfatizar a informação que daria a seguir:
– eles viram que ele veio para a Terra, e não coincidentemente, para a casa onde mora a velha senhora com o colar que falei anteriormente.
Houve uma pausa que deu espaço para comentários cruzados entre eles, mas Olívia retomou a palavra:
– Eu e Turio analisamos alguns dados e levantamos algumas hipóteses... – e antes dela começar a expor as hipóteses, Lália interrompeu:
– Por que sempre Turio?
E antes que Olívia pudesse responder, Turio falou:
– Porque, se você não notou ainda, além de ser o mais inteligente, eu sou o queridinho da professora. – Disse ele provocativo e arrogante.
A competição entre eles era bem comum, só que Olívia não queria que Renus presenciasse no seu primeiro dia entre eles este tipo de briga infantil. Ela olhou de relance para o Conselheiro e ele exibiu exatamente a expressão que ela temia: a certeza de que eles eram um bando de crianças.
– Por favor... Não é nada disso, Lália. Eu preciso de Turio para ajuda nestas pesquisas iniciais. Ele sabe melhor onde obter informações... – Tentou explicar Olívia, sem criar grandes conflitos. E voltou a falar:
– Uma das nossas primeiras hipóteses é que este fugitivo tenha perdido este objeto na Terra. O objeto seria uma prova de que ele esteve aqui, e ele não quer que saibam disso, por isto ele foi até lá para resgatar a prova. Nós refutamos esta hipótese, pois o objeto ainda continua com a velha senhora. Então não era este o objetivo do fugitivo.
Olívia fez uma pausa para comentários, mas todos concordaram com a ideia. Então ela continuou:
– A segunda hipótese, ainda não refutada, é que ele conheça esta senhora e ele mesmo tenha dado o objeto como presente a ela. Esta relação entre os dois, qualquer que seja, não pode ser descoberta, então ele precisou vir escondido a Terra. O que não faz muito sentido, pois ele não precisaria todo o esforço em desligar o alarme para teleportar-se. Seria somente sair da escola. Ninguém é obrigado a permanecer na escola. Mas vamos manter este pensamento em alerta: ele conhece a velha senhora, de outra vinda a Terra. Pelos depoimentos, aparentemente, ninguém conhece a Terra. Mas achamos interessante investigar todos e ver se há alguma ligação entre eles e humanos.
– Acho que temos poucas informações para começar. Precisaríamos de mais dados e variantes. – Disse Lália, já querendo colocar tudo numa planilha e em tabelas.
– Acho que será preciso visitar a Escola dos Pequenos e a casa da velha senhora... – falou Naitan, tentando ser objetivo quanto ao próximo passo.
– Eu posso ir à Escola, – disse Noro – pois estudei lá e conheço a diretora Lotie.
– Eu não acho que devemos nos dividir. – Opinou Aurosa.
Olívia olhou para Renus querendo saber a opinião dele:
– Conselheiro? Você levaria todos?
– Sim. Mas quanto mais de vocês, mais chance de besteiras e erros...
Olívia sentiu vergonha pela grosseria dele. Reparando o desgosto de todos pelo comentário, ela não quis deixar por menos:
– Com a melhor babá de Tangen, isto não será problema!
Apenas Aurosa ainda ficou na dúvida sobre quem ela falava; os outros sentiram-se vingados. Renus apenas franziu a boca.
– Então vamos todos para Amsterdam, onde mora a velha senhora. O que sabemos sobre ela? – emendou Olívia, voltando ao assunto da missão.
Ao final do dia, o plano para o dia seguinte estava pronto. Além disso, Turio havia remanejado os quartos e Renus recebeu sua suíte, sem maiores confusões. Aurosa e Lália passaram a dividir a terceira suíte, enquanto todos os alunos tangens dormiriam nos quartos simples e dividiriam o banheiro.
Quando Renus foi pegar suas malas no quarto de Olívia, ela pediu desculpas a Renus pela explosão.
– Eu realmente queria que você tivesse sido mais bem recebido. E ficasse melhor alojado.
Ele a tranquilizou:
– Você não conhece Deserto Plano, menina! Você não sabe nada sobre ficar mal alojado... Em missões de dias sem dormir, e até sem comer... Você não sabe o que é aguentar as explosões de Tuolock... Você sabe muito pouco sobre Tangen.
Antes de dormir, Olívia sentou na cama, tirou o livro sobre o Mestre Tuolock de baixo do travesseiro e leu mais algumas páginas.
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Olívia Tangen - Volume I: O Jogo dos Mestres
FantasyOlívia é uma jovem que vive sozinha. Todas as suas tentativas de amizade e amor deram em nada. Aos 20 anos, ela quer muito provar que não é tão errada assim: que é alguém inteligente e capaz de continuar sendo independente. Para isto, arrisca uma mu...