capítulo 19 • aparatar

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As horas de viagem entre Hogwarts e Londres talvez fossem as mais longas da vida de Andrômeda; não conseguia cochilar, nem ler, mal era capaz de manter seus pés parados no mesmo lugar, eles estavam sempre se sacudindo de nervosismo.

Se tivesse dormido na noite anterior poderia ter certeza que a viagem não seria tão ruim, mas sempre que seus olhos se fechavam as memórias do baile invadiam seus pensamentos, principalmente as de quando seus lábios descobriram serem incapazes de ficar muito tempo longe dos de Ted.

Os dois dançaram até não sentirem mais as próprias pernas, sorriram até as bochechas ficarem doloridas, e mesmo quando decidiram deixar o Salão Principal ainda enrolaram um pouco sentados no corredor, conversando sobre estrelas. Quando não havia mais escapatória a não ser cada um se despedir e voltar para suas comunais, Edward perguntou, com a voz baixa, também na tentativa de ganhar mais alguns segundos ao lado dela:

— Posso te mandar cartas?

Depois de fingir cogitar a proposta por um minuto, apenas pela diversão de vê-lo ansiar por uma resposta, Andrômeda assentiu, se aproximando para lhe dar um último beijo antes de seguir na direção de sua comunal.

Todos aqueles momentos foram escritos em seu diário nas primeiras horas em que esteve no Expresso de Hogwarts, e agora só lhe restava estudar a paisagem fora da janela, aguardando pelos acontecimentos que tanto temia. Férias em família nunca foram um presságio de coisas positivas, e sim de jantares constrangedores em sua maioria, lidar com suas irmãs "perfeitas" e sua mãe. Por sorte, seu pai era ausente o suficiente para mal ter que trocar algumas palavras com ele.

— Andrômeda, chegamos. Você está acordada?

A voz de Narcissa preencheu a cabine onde a irmã mais velha estava (por pura sorte) sozinha, já que a mais nova preferia outras companhias. Em um ressalto se levantou, encarando a irmã por um instante antes de pegar sua mochila e seguir com ela para fora do trem. Em silêncio, as duas seguiram para fora da estação até chegarem em um local privado o suficiente para poderem aparatar até a Mansão Cygnus. A única coisa que Narcissa abriu a boca para dizer foi um comentário sobre Bellatrix não estar presente durante as férias, o que fez Andrômeda tentar disfarçar um suspiro de alívio.

Assim que parou em frente ao portão da mansão, a irmã mais velha hesitou em dar um passo para adentrar no quintal forrado por uma grama que parecia estar em seus estágios finais de vida — o que a fez recordar de quando Ted ressuscitou uma plantinha com apenas um toque de sua varinha. Do seu lado, Narcissa pareceu aguardar por Andrômeda, mas quando percebeu que ela não iria estender sua mão até o portão e entrar primeiro, liderou o caminho.

O movimento fez Andrômeda perceber que se perdeu em pensamentos por um segundo, ajeitando rapidamente a mochila nas costas e seguindo o caminho de Narcissa. Talvez fosse apenas sua impressão, mas as nuvens eram sempre mais escuras naquele lugar, deixando a estrutura feita de madeira escura da mansão ainda mais intimidadora. Assim que puseram os pés ali dentro, foram recebidas por um silêncio absoluto e uma casa vazia. Estranho, mas ambas escolheram ignorar ao mesmo tempo, subindo até seus quartos.

Enquanto estudava o redor do seu cômodo particular, intocado desde o fim das férias de verão, Andrômeda imaginou se uma das cartas que Ted prometeu iria chegar logo ou se ele iria esperar alguns dias para lhe escrever; sabia que ele iria ficar em Hogwarts, mas provavelmente teria coisas muito mais interessantes a fazer. Tentando afastar os pensamentos, seus olhos se concentraram nas paredes pintadas em um tom escuro de azul, sem um único quadro ou adorno as enfeitando, a cama com apenas um travesseiro e um cobertor, e o armário contendo poucas roupas e apenas elas. Na verdade, nenhuma parte de seu quarto era adornada com objetos.

Andrômeda era totalmente o oposto de Sirius, que costumava preencher as paredes de seu quarto com pôsteres que deixavam Walburga com os nervos em combustão; já ela, tinha em mente que quanto menos coisas ela tivesse em seu quarto, menos iria parecer que ela morava ali. Consequentemente, seria mais fácil desocupar a casa caso fosse necessário eventualmente, o que, cedo ou tarde, iria acontecer.

Se algum dia aquilo tirou Druella do sério, Andrômeda nunca ligou para saber.

— Mamãe e papai estão na Casa Black, disseram que chegam amanhã cedo.

Narcissa apareceu na porta de supetão, fazendo a irmã mais velha virar-se em sua direção com a surpresa, ela estava ficando boa em pegá-la desprevenida. Assentindo, murmurou um "ok", e logo voltou a ficar sozinha naquele lugar tenebroso. E, como não havia nada mais interessante a ser feito ali, ela se deitou na cama e cantarolou todas as músicas do ABBA que conseguiu se recordar.

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No andar debaixo acontecia um misto de barulhos simultâneos, cadeiras rangendo no chão de madeira, tilintares de copos uns contra os outros e, por fim, vozes. Palavras aleatórias abafadas foram o que fez Andrômeda pular da cama em um susto, se dando conta de que havia caído no sono, mas não havia sentido em ter outras pessoas ali quando seus pais só retornavam no dia seguinte. Ela dormiu tanto assim?

Olhando pela janela, percebeu que a noite já havia caído provavelmente a um bom tempo, mas era impossível já ser o outro dia, ninguém ali tinha a liberdade de dormir por quase um dia inteiro. Mentalmente, a garota torceu para que as pessoas no andar inferior fossem apenas seus pais; Merlin sabia que ela não seria muito capaz de manter as aparências caso fossem outros parentes.

Respirando fundo, Andrômeda sacudiu a cabeça para terminar de despertar seus neurônios e se dirigiu à escada no final do corredor. Cada passo seu era lento, quase podendo ser confundido com preguiça, porém estava apenas adiando o inevitável. Ao passar em frente o quarto de sua irmã mais nova notou que ela não estava lá, e quando seus pés tocaram o térreo de sua casa, os barulhos que a despertou antes havia sido substituído por um silêncio imponente, diferente do silêncio vazio que se deparou ao chegar em casa mais cedo.

Narcissa estava saindo da sala de jantar assim que a irmã fez menção a caminhar até a cozinha, parando de caminhar ao percebê-la ali.

— Ah, você está aqui. — Quase sussurrou, a observando por um segundo. Atrás dela, Andrômeda pôde ver alguns movimentos do que pareciam ser duas pessoas. — Mamãe e papai chegaram mais cedo.

A postura meio desajeitada de Narcissa ao falar com Andrômeda sempre possuía entrelinhas, era o que acontecia em uma casa quando uma criança era mais afastada das outras; as duas não conversavam, não contavam nada uma para a outra, e consequentemente não sabiam usar palavras. Os olhos da mais nova diziam que ela precisava entrar naquele cômodo e falar com seus pais, mas também diziam algo que Andrômeda não conseguia entender.

Reunindo toda sua coragem, a garota deu os passos à frente enquanto Narcissa cruzava seu caminho de volta para o andar de cima. Assim que passou pela porta viu seus pais ali, seu pai de costas encarando a paisagem — se é que aquilo podia ser chamado de paisagem — através da janela, seus cabelos perfeitamente alinhados e as roupas escuras cobertas por um casaco de lã e sua mãe sentada à mesa, com a postura digna de alguém da realeza, os cabelos castanhos penteados para trás e presos em um coque sofisticado, sua pele branca coberta por uma maquiagem impecável e um vestido em tom de roxo, cobrindo praticamente todo seu corpo.

— Mãe. Pai. — Esse era seu cumprimento; sem "boa noite" ou "como foi seu dia?". Talvez estranhos na rua conseguissem extrair de Andrômeda mais carinho do que qualquer pessoa naquela casa.

Assim que Druella ouviu sua voz, ergueu o rosto para encará-la, enquanto seu pai apenas assentiu lentamente sem se virar. Ao parar seus olhos em sua mãe por mais que um instante, Andrômeda percebeu um selo vindo de Hogwarts solto em cima da mesa, e uma carta aberta nas mãos dela, o que fez suas mãos gelarem instantaneamente.

No melhor dos casos, não poderia ser o que estava imaginando, o problema era que: nunca acontecia o melhor dos casos sob o teto da família Black.

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oi pessoal! tudo bom com vocês? morri de saudades :( mil perdões pelo sumiço, as coisas andaram bem agitadas por aqui, mas eu estou voltando !!! espero que tenham gostado do capítulo de hoje, até mais <3

starry night - a tedromeda fanfic.Onde histórias criam vida. Descubra agora