Capítulo 2

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- Alice Narrando -

Fomos o caminho inteiro conversando sobre várias coisas e o seu Manuel me contou várias histórias da Júlia quando era pequena, ela amou pra não dizer o contrário. Acabei descobrindo que a esposa do seu Manuel tem uma pensão perto da casa deles e todo mundo ama a comida dela.

- Amiga, ele pode ficar aqui e vamos sozinhas pra ONG - Júlia falou me olhando

- Ainda é chão até lá e tá muito sol - seu Manuel falou nos olhando pelo espelho

- Vamos pegar um moto táxi pra ela já acostumar - Júlia falou explicando

- Por mim tudo bem - falei dando de ombros

- Então vamos - falou e nos despedimos do seu Manuel que ficaria na casa dele até eu ligar pra ele

- Já andou de moto? - perguntou enquanto andávamos em direção ao ponto de moto táxi

- Uma vez mas tem anos - falei observando algumas crianças brincando

- Minha morena - um rapaz bonito até falou se levantando

- Já falei que sou preta e não morena, palhaço, respeita minha cor - falou e eu ri negando com a cabeça

- Minha preta - o cara falou e eu percebi ele me olhando - E você é a loira mais linda que eu já vi

- Você é rápido, já mudou de alvo - falei e minha amiga riu

- A vida é assim, jogamos pra todo lado e quem jogar de volta - falou deixando no ar

- Aí fechou - concluí e ele sorriu

- Deixa de ser ridículo, Douglas - Júlia revirou os olhos - Precisamos de duas motos pra ir na ONG, tá na vez de quem?

- Na minha e vou ver outro parceiro - falou se afastando

- Ele quer te pegar e quer com vontade - falei assim que ele saiu

- Só se eu fosse muito louca de me envolver com moto táxi - falou negando com a cabeça

- Não é pra casar - falei como se fosse óbvio - E ele é bem bonitinho e legal

- Alice, moto táxi enfia o pau em qualquer buceta - falou me fazendo revirar os olhos pelo termo - Eu sei todas que ele pegou e não foram poucas

- Não vi diferença nenhuma dele pra algum garoto lá da faculdade, ainda digo que ele é bem melhor - falei sincera e ela me olhou indignada

- Tá louca? - perguntou me olhando

- Não, com eles você sabe aonde tá se metendo, agora com os galinhas enrustidos da faculdade você vai ter uma péssima surpresa - falei vendo ele se aproximar com outro menino

- É, você tem razão - falou me olhando

- Pega então - falei como se fosse óbvio

- Pegar quem, minha preta? - Douglas perguntou e ela me fuzilou com os olhos

- A moto, demorou muito pro meu gosto - falou e eu neguei com a cabeça

- É, pega a moto - falei dando ênfase no pega

Não demorou tempo nenhum e chegamos na ONG, era toda pintadinha por fora e com grafite, entrei com a Júlia e ela já foi logo berrando.

- Para de gritar, Júlia - escutei uma voz grossa que me arrepiou todinha, quando olhei pra frente tinha um homem alto, negro, cabelo corte militar, barba por fazer e ainda parecia ter um tanquinho por baixo da blusa. Ele era lindo.

- Ué, tô chamando e não responde - minha amiga falou e eu parei de analisar o cara - Enfim, Renan, essa é minha amiga Alice que veio pra dar aula de desenho

- Você é professora? - perguntou sério me olhando

- Renan, eu expliquei que ela é - minha amiga estava falando mas foi interrompida

- Júlia, vai dar uma volta que eu vou conversar com sua amiga - falou e a minha amiga revirou os olhos

- Seja gentil - Júlia falou saindo e me deixando sozinha com o tal Renan

- Eu sempre sou - falou e a minha amiga soltou uma gargalhada - Vem comigo

Assim que ela saiu eu segui ele até uma salinha bem arrumadinha por sinal e eu logo entendi que era um escritório, me sentei quando o mesmo fez sinal e eu estava tentando esconder meu nervosismo.

- O que você veio fazer aqui? - perguntou se sentando

- Vim dar aulas de desenho mas eu já montei várias dinâmicas divertidas pra fazer com as crianças - me animei contando mas fui interrompida quando ele levantou a mão em um sinal pra eu parar

- Não, o que você quer aqui? - perguntou sério

- Eu não tô entendendo - falei confusa

- Serviço comunitário não é porque eu não recebi nenhum documento - falou e eu comecei a entender o que ele estava dizendo - Seus pais te colocaram de castigo e obrigaram você trabalhar aqui? Ou falaram que iriam cortar seus cartões de crédito e mesada?

- Que? Não! - falei alto negando com a cabeça - Eu tô aqui porque eu quero, sempre quis fazer trabalho voluntário e a Júlia em contou da ong

- Eu vou ser bem claro, Alice, isso aqui não é colônia de férias e muito menos shopping que você vem visitar. Você está aqui porque quer e vai ser tratada como todas as outras pessoas que estão aqui - falou e eu assenti

- Não tem porque eu ser tratada diferente - a minha voz saiu em um sussurro, ele falava tão sério e tinha a voz tão rouca e grossa que em junção com a altura dele estava me deixando com medo

- Ainda bem que sabe - falou sério

- Quando eu começo? - perguntei soltando a respiração que eu nem reparei estar prendendo

- Acabou a conversa, Renan? - Júlia perguntou entrando igual uma louca

- Bons modos mandou lembranças - sorriu de lado pra minha amiga e que sorriso ele tinha

- Cadê as crianças? - perguntou puxando uma cadeira e se sentou ao meu lado

- Hoje é dia de limpeza - falou e minha amiga resmungou - Você e a sua amiguinha vão limpar isso aqui direitinho

- O que? - perguntei assustada

- Isso aqui não é o país das maravilhas, Alice - falou em tom de deboche e se levantou

- Eu tô cansada, Renan - minha amiga reclamou

- A sua escala era na semana passada mas quis ser espertinha e não veio, só lamento por você - falou indicando a porta e quando ela ia retrucar eu me levantei puxando a mesma

- Vamos, Júlia! Quanto antes melhor - falei saindo da sala

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