- Renan Narrando -
Hoje tive que reunir todo mundo que trabalha na ONG pra dar um recado e eu não estava nada feliz com isso.
- Já estão todos aqui - minha prima falou entrando na minha sala
- Já tô indo - falei pegando os papéis e me levantei
- É muito sério? - perguntou preocupada
- Infelizmente - falei saindo da sala, assim que saí vi a Alice conversando com o professor de música e uma outra professora
- E aí qual o motivo da reunião? - perguntou o professor de capoeira
- Nós vamos ter que diminuir os dias na ONG - falei e começou um falatório
- Por que? - alguém perguntou e eu distribuí os papéis
- Todo mundo sabe que o país está enfrentando uma crise séria e na hora dos cortes a primeira coisa que os investidores cortam é as ajudas pra ONGs e afins - falei explicando
- Todo mundo aqui é voluntário - Júlia falou - É mesmo necessário diminuir os dias?
- É importante manter a mente dessas crianças ocupadas - o professor de música falou preocupado
- Gente, eu sei que todo mundo é voluntário mas pra manter precisa de dinheiro, né?Comprar material, comprar uniforme, o lanche que distribuímos para os alunos e fora outras coisas - falei explicando - Pode não parecer mas tudo isso de segunda a sábado é muito dinheiro
- Vamos ficar quantos dias? - perguntou a professora de ballet
- Três dias - falei suspirando e a Alice levantou a mão - Pode falar, Alice
- Eu acho que tive uma ideia - falou e todo mundo olhou pra ela e eu assenti pra mesma prosseguir - A escola que eu estudava permitia a cada final de bimestre fazer uma festa
- Que história linda de vida mas precisamos resolver um assunto sério - a professora de ballet falou interrompendo
- Eu posso terminar ou a mal educada vai continuar me interrompendo? - Alice perguntou arqueando a sobrancelha e escutei risadinhas dos outros, ninguém aguenta essa professora
- Continua, por favor - pedi segurando uma risada
- Enfim, eles permitiam mas os alunos que tinham que bancar. E mesmo todos tendo condições pai nenhum iria querer bancar festinha pra adolescente - falou dando uma pausa - Então era meio que uma tradição na escola, os alunos faziam coisas pra vender e assim arrecadavam dinheiro
- Na faculdade fazíamos pra arrecadar dinheiro pra formatura - o professor de música falou
- Eu acho que tô entendendo a ideia e é muito boa - Júlia falou se animando e os outros concordaram
- Aqui tem luta, ballet, música, desenho, teatro - Alice falou contando nos dedos - Imaginem um dia com apresentações de tudo isso
- É uma boa ideia mas precisamos de dinheiro - falei olhando pra Alice
- Podemos anunciar esse festival e tirar um sábado por mês pra vender coisas. Doces, salgados, artesanato - falou explicando - E o que mais quiserem
- Mesmo depois do festival podemos manter essa ideia do sábado, assim entra dinheiro pra ONG - a professora de teatro falou
- Temos instigar as pessoas a comprarem a ideia, seria frustrante ninguém aparecer no festival - o professor de música falou
- Marketing - Alice falou simples
- Publicações em rede social, espalhar panfleto e cartazes - falei e eles concordaram
- O ingresso poderia ser uma camiseta - Alice sugeriu - Tipo abadá de micareta
- Eu tenho um amigo que é dono de uma gráfica, vou falar com ele - o professor de capoeira falou
- Se cada um aqui correr um pouquinho atrás, procurar algum amigo que trabalhe com algo que pode nos ajudar poderia conversar. É a chance de salvarmos nossas crianças - a professora de teatro
- Vou passar tudo pro papel - Júlia falou me olhando
- Entrarei em contato com vocês - falei e eles foram saindo
Mais tarde fui no shopping com a Alice, fomos assistir um filme e depois fomos pra praça de alimentação lanchar. Ela amava esses programinhas de casal.
- Minha mãe foi liberada da quimioterapia - falei bebendo um pouco de refrigerante
- Sério? Isso é muito bom - falou sorrindo
- Graças a Deus o tratamento deu certo - falei e ela me olhou
- Graças aos médicos - falou mordendo o sanduíche e me olhou - Desculpa - riu fraco - Costumo brincar assim com o Igor
- Com a permissão de Deus - falei e ela revirou os olhos
- A maioria das pessoas que acredita em Deus só acreditam quando convém ou quando querem se agarrar a algo - falou me olhando - Mas no dia a dia mesmo poucos
- Nem todos - falei e ela comeu um pouco
- Não generalizei - falou dando de ombros
- Quero te perguntar uma coisa, tem tempo já - falei e ela comeu uma batata - Você me disse que não acreditava em Deus, não tinha religião e no início achei até que era onda mas você nem faz referência - falei olhando pra ela - Por que você não acredita em Deus?
- Não tem um motivo - dei de ombros - Eu nunca me senti conectada, próxima ou sequer acreditei em algo que faz parte dessa mitologia
- Alice - repreendi - Tem que ter motivo
- Que Deus é esse que dá doença, coisas ruins e tristeza para pessoas boas e muita gente ruim leva uma vida maravilhosa? - falou pensativa - A maioria das pessoas acredita em deus porque desde que se nasce está imposto na sociedade que precisa acreditar em algum Deus ou força superior. Tirando toda a parte não comprovada dos fatos, talvez esses seriam os motivos, não sei.
- Só isso? - perguntei confuso
- E porque você acredita? - perguntou me olhando
- Por que - comecei a falar e fiquei quieto - Ah, Alice, eu não sei
- Viu só? - falou rindo
- É complicado - falei encerrando o assunto - Não discuto crença ou falta delas até porque respeito cada uma mas entendo seu ponto
- Ainda bem - falou rindo baixo - Geralmente dizem que eu vou pro inferno
- Se você não acredita, você não vai - falei e ela assentiu
- E eu não sou uma escrota - falou bebendo - Se uma pessoa diz pra mim "fique com deus" ou "vou orar por você", eu aceito
- Por que? - perguntei e terminei de comer
- Se alguém me fala isso é porque acredita e mesmo que eu não acredite eu entendo que a pessoa está me desejando algo bom - falou simples - Ou seja, se você acredita em uma árvore e me fala "vá com a árvore" eu vou aceitar
- Entendi - falei rindo
- Tem religião, né? - perguntou e eu confirmei
- Católico - falei bebendo
- Sou batizada na igreja católica também - falou me olhando
- Frequentava a igreja? - perguntei curioso
- Missa de sétimo dia e batizado - falou e comeu um pouco
- Entendi - falou bebendo
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Meu Ébano
FanfictionAlice é uma carioca de 22 anos que levava uma vida tranquila e sem muitas emoções ao lado da sua família e amigos, mas mudanças acontecem quando decidi fazer um trabalho voluntário.