- Renan Narrando -
Estava no serviço de plantão e terminando o relatório de um incêndio grande que teve mais cedo quando o comandante entrou na salinha que eu estava.
- Renan - chamou e eu tirei os olhos dos documentos - Vem até minha sala, por favor
- Aconteceu alguma coisa? - perguntei me levantando
- Vem, meu filho - falou e minha cabeça já estava trabalhando a mil, segui o mesmo até a sala e me surpreendi quando vi o Douglas
- O que aconteceu? Foi o Gabriel? - perguntei rápido mas deu um estalo na minha cabeça - Foi a minha mãe?
- A tia passou muito mal e a vó Aurora precisou chamar a ambulância, Renan - falou e parece que meu coração parou na hora
- Ela..ela - eu não conseguia completar a frase
- Não, eu consegui falar com a Alice e ela falou que a tia está sendo examinada - falou me tranquilizando - Estávamos tentando te ligar mas você não atendia
- Meu celular descarregou - falei pensativo - Eu posso ir? Depois eu cubro alguém - falei rápido pro comandante
- Vá e só se preocupa com sua mãe - falou e eu assenti
- Vamos - Douglas chamou me despertando e eu fui pegar minhas coisas
Eu não estava conseguindo raciocinar, parece que meu cérebro desligava do nada. Sempre que minha mãe passa mal é como se eu tivesse perdendo ela aos poucos, como se cada momento ao lado dela fosse uma despedida. E eu posso afirmar com toda certeza do mundo que essa é a pior sensação. Quando cheguei no hospital fui com o Douglas pra sala de espera e encontrei a Alice sentada junto com a minha avó.
- Cadê ela? - falei chamando atenção delas e minha avó se levantou
- Ela tá bem - falou calma mas eu percebi que ela tinha chorado - O médico está fazendo uma bateria de exames
- É só reação, né? - perguntei e minha avó me abraçou
- Eu não sei, meu filho - falou e eu senti as lágrimas dela molhar minha camisa
- Ela vai sair dessa - Alice falou baixinho me abraçando quando minha avó me soltou
- Você acha mesmo isso? - perguntei segurando o choro
- Prefiro acreditar que sim - falou baixo
- Eu não posso perder minha mãe - falei e percebi as lágrimas descendo
- Shiu - falou tapando a minha boca e limpou meu rosto
- Alice Narrando -
Depois que minha sogra passou por todos os exames ela foi levada para o quarto, a dona Aurora entrou e o Renan foi conversar com o médico, deixei eles sozinhos e avisei o Douglas que estava indo pro quarto.
- Não vai ficar mais? - perguntei quando esbarrei com a dona Aurora saindo do quarto
- Preciso descansar, é duro vê a Renata nessa situação - falou e eu entendi, ela tem minha sogra como filha
- Vai lá - falei abraçando a mesma e entrei no quarto - Sogra
- Alice - falou baixinho e eu reparei que ela estava muito abatida
- Como você está se sentindo? - perguntei me sentando na ponta da cama
- Como se um ônibus tivesse me atropelado - falou baixo
- Daqui a pouco essa sensação passa - falei segurando a mão dela
- Alice, eu conversei com o médico, ele me contou que meu caso não tem mais jeito - falou e eu assenti - Eu preciso que você me prometa que vai continuar cuidando dos meus meninos
- Não fala isso - pediu negando com a cabeça
- É a verdade - falou e eu percebi as lágrimas dela caindo
- A senhora sempre disse que tinha muita fé, eu não sou a melhor pessoa pra falar sobre isso mas você me parecia muito certa no que falava - falei e ela sorriu apertando minha mão
- E eu tenho ainda, mas eu aceitei o que Deus tem preparado pra mim. Não pensa que sou tão evoluída, não sou, mas eu consegui entender que passei coisas maravilhosas aqui e criei um homem maravilhoso - falou dando uma pausa - Eu sei que quando eu partir vai doer pra algumas pessoas mas você e a dona Aurora vão cuidar dos meninos
- Não fala isso - falei limpando meu rosto e escutei barulho na porta
- Promete - pediu mais uma vez
- Prometo - afirmei beijando o rosto dela - A senhora ainda vai acompanhar muita coisa linda por aqui, vai ao nosso casamento, vai ver outro bebê nosso e vai curtir muito com o Luís
- O que eu mais quero - falou baixinho
- Eu vou cuidar deles, prometo - falei baixinho
- Eu sei que vai - falou sorrindo
A minha conversa com a minha sogra foi interrompida com a chegada do Renan. Era nítido que ela estava se despedindo, tínhamos noção do quão grave era o quadro dela mas a esperança estava sempre presente. Andei pelos corredores do hospital e quando vi estava em frente a capela, fiquei meio receosa mas entrei. Estava vazia, me sentei e fiquei em silêncio tentando organizar meus pensamentos até que eu ouvi um barulho.
- Desculpa! - uma freira e eu reparei que ela era bem senhora
- Não foi nada - falei sorrindo fraco
- Atrapalhei sua conversa com Deus, minha filha - falou me olhando - Sou muito desastrada
- Eu não estava falando com ninguém - neguei com a cabeça e ela me encarou confusa - Nem deveria está aqui
- O que está acontecendo com você, menina? - perguntou tão doce e eu já sentia as lágrimas caindo
- Eu não acredito em nada disso - falei apontando pra uma imagem e ela entendeu
- E o que te trouxe aqui? - perguntou segurando minha mão
- A minha sogra está internada, com câncer, e está bem grave, ela e o meu noivo acreditam demais nessas coisas. Eles têm muita fé em Deus - falei dando uma pausa - Minha mãe diz que quando se ama alguém é muito ruim vê a pessoa sofrer e as vezes queremos pegar aquela dor pra gente
- Sua mãe tem razão - falou e eu assenti
- Não tem mais jeito o caso da minha sogra mas eu sei que meu noivo espera um tipo de milagre, eles realmente acreditam nisso - falei limpando meu rosto
- E mesmo não acreditando você veio aqui? - perguntou me olhando
- Sim, porque eu sei que ele gostaria de sentar e conversar com o Deus dele - falei explicando
- Essa sua atitude vale mais do que qualquer oração, você veio aqui por amor e mesmo você achando que não sabe o que falar Deus sabe tudo que passa no seu coração - falou calma fazendo carinho na minha mão
- Será? - perguntei e ela respondeu sem titubear
- Ele sempre sabe - falou se levantando - Vou deixar você falar com ele
- Mas eu não sei - estava falando e ela me interrompeu
- Só fala - falou me olhando e saiu
Eu fiquei um tempão olhando pro nada, eu realmente não acreditava em nada daquilo mas eu sentia que tinha que fazer isso pelo Renan. O motivo? Por que eu sei que ele ora, eu sei que mesmo sabendo o estado da mãe ele tinha tanta fé em deus que eu deveria fazer isso já que o mesmo nem raciocinando direito estava mais.
- Ele acredita e precisa de você - falei olhando pra um quadro de Jesus que tinha ali, as lágrimas já desciam sem controle nenhum e eu nem fazia questão de segurar mais - Aparece pra ele? Por favor! Aparece pro Renan. Ele ama você. Ele precisa de você. Por favor, aparece pra ele - finalizei soluçando e fiquei observando algumas velas que queimavam ali enquanto chorava em silêncio.
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Meu Ébano
FanfictionAlice é uma carioca de 22 anos que levava uma vida tranquila e sem muitas emoções ao lado da sua família e amigos, mas mudanças acontecem quando decidi fazer um trabalho voluntário.