Capítulo 41

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- Alice Narrando -

Nós chegamos na delegacia em 10 minutos e uns 5 minutos depois o Renan chegou desesperado e na hora o Gabriel saiu do meu colo.

- Pai, eu juro que não fiz nada - Gabriel falou e o chorou aumentou quando viu o pai - O senhor sempre disse que não pode pegar nada dos outros

- Eu sei, campeão - falou sentando e pegando ele no colo e a Júlia começou a explicar

- O que aconteceu? - escutei a voz do meu pai e me levantei rápido

- Um absurdo, papai - falei nervosa e comecei a falar o que tinha acontecido

- Cadê o delegado? - perguntou sério

- Terminando um depoimento - falei e ele assentiu

- Eu quero ir pra casa - ouvi a voz de choro do Gabriel e me segurei pra não chorar

- Nós vamos mas antes vamos resolver tudo - Renan falou tentando se manter calmo

- Ei, eu sou um advogado muito bom - meu pai falou se agachando na frente do Gabriel - E eu vou usar meu martelo contra ela

- Igual o Thor? - Gabriel perguntou e meu pai assentiu

- Os vingadores todos - falou e o Gabriel riu baixo

- Senhores, o delegado - nos viramos quando escutamos uma voz e a cara da mulher foi no chão quando viu que o delegado era negro

- Doutor Hartmann - o delegado falou apertando a mão do meu pai - Infelizmente não posso dizer que fico feliz em te ver

- Odeio te encontrar nessas situações, Monteiro - meu pai falou e ele assentiu

- Vamos resolver isso conforme a lei - o delegado estava falando mas foi interrompido pelo marido da mulher

- Senhores, isso foi só uma bobagem da minha esposa - antes que eu falasse o delegado tomou frente

- Não é bobagem quando se ofende uma pessoa por conta da pele, não é bobagem quando se julga alguém pela cor da pele, não é bobagem quando se acusa alguém pela cor da pela e não é bobagem quando se mata por causa da cor da pele - o delegado falou sério - Na minha delegacia eu decido o que é e o que não é bobagem

- Vamos resolver isso logo - a mulher falou de nariz em pé

- O que eu mais quero - meu pai falou assumindo a posição de advogado

O delegado conversou separadamente com cada um e foi super gentil com o Gabriel. Depois que eu saí da sala meu pai ficou conversando ainda um tempo com ele e logo saiu.

- E ai? - perguntei me levantando

- Ela vai responder por injúria e algumas outras coisas que eu joguei no processo - falou explicando - Pelo menos essa noite ela vai passar aqui

- Podemos ir embora? - Renan perguntou olhando para o meu pai

- Pode sim, meu filho - meu pai falou calmo

- Obrigado, por tudo - Renan falou olhando pro meu pai

- Nem ouse agradecer - meu pai interrompeu e eu sorri de lado - Vai pra casa, princesa?

- Não - neguei e ele entendeu - O policial que estava lá na praia foi super rude e teria agredido o Gabriel se não estivéssemos lá

- Vou resolver - falou firme e eu abracei ele

- Renan Narrando -

Dói vê o meu filho chorar, dói mais ainda vê-lo chorando por uma injustiça dessa. Quando cheguei em casa levei ele pra tomar banho e entrei no quarto que ele dividia com a minha mãe. Esperei ele se arrumar e percebi a Alice observando da porta.

- Senta aqui, filho - pedi me sentando na cama

- O que foi? - perguntou me olhando

- Escuta com atenção o que o papai vai falar, tá? - falei e ele assentiu - Infelizmente vivemos em um mundo aonde a cor da pele muitas vezes fala mais alto. Algumas pessoas levam isso muito em conta e tem reações absurdas simplesmente se baseando pela cor do outro

- Foi isso que aquela mulher fez, né? - perguntou me olhando e eu assenti

- Não tem nada de errado com a sua cor, o erro tá na cabeça deles - falei e ele ouvia tudo atentamente - Se um dia isso acontecer e você estiver sozinho não tenta fugir porque você não fez nada de errado

- E o que eu faço? - perguntou tentando entender

- Provavelmente algum policial vai se aproximar quando começar uma confusão, você vai avisar que vai pegar no bolso a sua identidade - falei já que eu sempre deixo a identidade dele com ele quando sai com outras pessoas - Se você tiver com mochila não deixa pegarem e nem abrirem. Pede para ir para delegacia e me liga, não fala com ninguém e nem coloca seu nome em nada. Nunca corra, Gabriel, nunca. Entendeu?

- Eu entendi - balançou a cabeça e eu respirei fundo

Depois que ele dormiu eu sai do quarto e fui atrás da Alice que estava na sala, ela estava sentada no sofá e com a cabeça baixa, estava com as mãos no rosto e quando eu me sentei ela me olhou, ela estava com o rosto vermelho.

- Ele é uma criança - falou me olhando e soluçou - Que mundo é esse que temos que orientar crianças como agir diante de um preconceituoso? Isso é horrível, Renan! Ele só tem 7 anos

- Me dói pra caralho - falei sentindo meus olhos arderem e passei a mão no rosto - Eu sei que muitos meninos na idade dele fazem coisa errada mas isso não justifica

- Eu nunca tinha vivenciado isso tão de perto, sabe? - falou e eu assenti - É horrível demais, imagina para quem sofre? Eu não sei nem como alguém é capaz de algo assim

- Infelizmente o preconceito tá em todo canto - falei e ela me olhou

- Você já sofreu? - perguntou limpando o rosto

- Toda hora, Alice - falei e ri sem humor - Quando estamos juntos o olhar de algumas pessoas, quando entro em uma loja de marca alguns olham meio incertos. No ônibus, no metrô - falei dando uma pausa - O preconceito tá em todo lugar

- Isso não é nem ser humano - falou irritada

- Um bando de lixo - falei simples

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