- Alice Narrando -
Nós chegamos na delegacia em 10 minutos e uns 5 minutos depois o Renan chegou desesperado e na hora o Gabriel saiu do meu colo.
- Pai, eu juro que não fiz nada - Gabriel falou e o chorou aumentou quando viu o pai - O senhor sempre disse que não pode pegar nada dos outros
- Eu sei, campeão - falou sentando e pegando ele no colo e a Júlia começou a explicar
- O que aconteceu? - escutei a voz do meu pai e me levantei rápido
- Um absurdo, papai - falei nervosa e comecei a falar o que tinha acontecido
- Cadê o delegado? - perguntou sério
- Terminando um depoimento - falei e ele assentiu
- Eu quero ir pra casa - ouvi a voz de choro do Gabriel e me segurei pra não chorar
- Nós vamos mas antes vamos resolver tudo - Renan falou tentando se manter calmo
- Ei, eu sou um advogado muito bom - meu pai falou se agachando na frente do Gabriel - E eu vou usar meu martelo contra ela
- Igual o Thor? - Gabriel perguntou e meu pai assentiu
- Os vingadores todos - falou e o Gabriel riu baixo
- Senhores, o delegado - nos viramos quando escutamos uma voz e a cara da mulher foi no chão quando viu que o delegado era negro
- Doutor Hartmann - o delegado falou apertando a mão do meu pai - Infelizmente não posso dizer que fico feliz em te ver
- Odeio te encontrar nessas situações, Monteiro - meu pai falou e ele assentiu
- Vamos resolver isso conforme a lei - o delegado estava falando mas foi interrompido pelo marido da mulher
- Senhores, isso foi só uma bobagem da minha esposa - antes que eu falasse o delegado tomou frente
- Não é bobagem quando se ofende uma pessoa por conta da pele, não é bobagem quando se julga alguém pela cor da pele, não é bobagem quando se acusa alguém pela cor da pela e não é bobagem quando se mata por causa da cor da pele - o delegado falou sério - Na minha delegacia eu decido o que é e o que não é bobagem
- Vamos resolver isso logo - a mulher falou de nariz em pé
- O que eu mais quero - meu pai falou assumindo a posição de advogado
O delegado conversou separadamente com cada um e foi super gentil com o Gabriel. Depois que eu saí da sala meu pai ficou conversando ainda um tempo com ele e logo saiu.
- E ai? - perguntei me levantando
- Ela vai responder por injúria e algumas outras coisas que eu joguei no processo - falou explicando - Pelo menos essa noite ela vai passar aqui
- Podemos ir embora? - Renan perguntou olhando para o meu pai
- Pode sim, meu filho - meu pai falou calmo
- Obrigado, por tudo - Renan falou olhando pro meu pai
- Nem ouse agradecer - meu pai interrompeu e eu sorri de lado - Vai pra casa, princesa?
- Não - neguei e ele entendeu - O policial que estava lá na praia foi super rude e teria agredido o Gabriel se não estivéssemos lá
- Vou resolver - falou firme e eu abracei ele
- Renan Narrando -
Dói vê o meu filho chorar, dói mais ainda vê-lo chorando por uma injustiça dessa. Quando cheguei em casa levei ele pra tomar banho e entrei no quarto que ele dividia com a minha mãe. Esperei ele se arrumar e percebi a Alice observando da porta.
- Senta aqui, filho - pedi me sentando na cama
- O que foi? - perguntou me olhando
- Escuta com atenção o que o papai vai falar, tá? - falei e ele assentiu - Infelizmente vivemos em um mundo aonde a cor da pele muitas vezes fala mais alto. Algumas pessoas levam isso muito em conta e tem reações absurdas simplesmente se baseando pela cor do outro
- Foi isso que aquela mulher fez, né? - perguntou me olhando e eu assenti
- Não tem nada de errado com a sua cor, o erro tá na cabeça deles - falei e ele ouvia tudo atentamente - Se um dia isso acontecer e você estiver sozinho não tenta fugir porque você não fez nada de errado
- E o que eu faço? - perguntou tentando entender
- Provavelmente algum policial vai se aproximar quando começar uma confusão, você vai avisar que vai pegar no bolso a sua identidade - falei já que eu sempre deixo a identidade dele com ele quando sai com outras pessoas - Se você tiver com mochila não deixa pegarem e nem abrirem. Pede para ir para delegacia e me liga, não fala com ninguém e nem coloca seu nome em nada. Nunca corra, Gabriel, nunca. Entendeu?
- Eu entendi - balançou a cabeça e eu respirei fundo
Depois que ele dormiu eu sai do quarto e fui atrás da Alice que estava na sala, ela estava sentada no sofá e com a cabeça baixa, estava com as mãos no rosto e quando eu me sentei ela me olhou, ela estava com o rosto vermelho.
- Ele é uma criança - falou me olhando e soluçou - Que mundo é esse que temos que orientar crianças como agir diante de um preconceituoso? Isso é horrível, Renan! Ele só tem 7 anos
- Me dói pra caralho - falei sentindo meus olhos arderem e passei a mão no rosto - Eu sei que muitos meninos na idade dele fazem coisa errada mas isso não justifica
- Eu nunca tinha vivenciado isso tão de perto, sabe? - falou e eu assenti - É horrível demais, imagina para quem sofre? Eu não sei nem como alguém é capaz de algo assim
- Infelizmente o preconceito tá em todo canto - falei e ela me olhou
- Você já sofreu? - perguntou limpando o rosto
- Toda hora, Alice - falei e ri sem humor - Quando estamos juntos o olhar de algumas pessoas, quando entro em uma loja de marca alguns olham meio incertos. No ônibus, no metrô - falei dando uma pausa - O preconceito tá em todo lugar
- Isso não é nem ser humano - falou irritada
- Um bando de lixo - falei simples
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Meu Ébano
FanfictionAlice é uma carioca de 22 anos que levava uma vida tranquila e sem muitas emoções ao lado da sua família e amigos, mas mudanças acontecem quando decidi fazer um trabalho voluntário.