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Fiquei até o final da minha sessão conversando com o Pedro, quando fui pra casa já estava me sentindo um pouco enjoada. De noite estava sentada na cama com meu pai passando a mão nas minhas costas, minha mãe tinha ido buscar água pra mim.
- Seria melhor se eu colocasse tudo pra fora logo - reclamei fazendo careta
- Vai passar, meu anjo - meu pai falou e quando eu achei que ia vomitar ele pegou o balde
- Ainda não - neguei com a cabeça
- Toma, filha - minha mãe falou entrando no quarto - Seu amigo chegou
- O que houve, Igor? - perguntei sem olhar
- Não sou o Igor - escutei uma voz e quando olhei era o Pedro, na hora me abaixei vomitando - Eu ganhei a aposta
- Acabou, filha? - minha mãe perguntou e eu assenti, me levantei indo pro banheiro e escovei os dentes várias vezes.
- Cadê meus pais? - perguntei quando voltei pro quarto
- Desceram com o balde - falou me olhando e me entregou um chiclete - Melhora a sensação
- Obrigada - falei comendo e ele me deu outro
- Vai por mim - falou e eu peguei
- Eu não disse aonde morava - falei me sentando e ele se sentou também
- E nem me deu seu celular também, mas sou muito esperto e olhei sua ficha no sistema - falou dando de ombros
- Isso deveria ser confidencial - falei e ele riu
- Na verdade é mas eu consegui acessar - falou e eu fiquei sem acreditar
- Pedro - falei chocada
- Alice - falou me imitando - Vai viajar no carnaval? - perguntou mudando de assunto
- Não tô em condições - neguei com a cabeça
- Para de dar desculpas - falou revirando os olhos - Não vai viajar mas vai fazer o que?
- Nada - falei e ele bufou
- Alice, não é porque você está doente que tem que desistir da vida - falou me olhando - Eu tento aproveitar minha vida do jeito que posso. É fácil? Nem um pouco mas tem que ser assim, eu sei que é difícil mas diagnóstico não destino, ok? Aceite esse convite irrecusável para a vida e tente
- Você acredita que vai se curar? - perguntei curiosa
- Eu rezo pra Deus, pra buda, pra qualquer entidade me curar - falou e eu ri - Sério, não me importo de qual sessão espiral venha ou se nada exista foco só na ciência e foda-se
- Eu não acredito em Deus - falei e ele me olhou na hora pedindo explicação - Na verdade nunca senti uma conexão com ele, sabe? Sempre questionei sua existência e caso exista deve ser um castigo
- Não existe castigo de Deus assim - opinou - É o que eu acho, né?
- É estranho - falei pensativa - Tanta gente ruim por aí vendendo saúde e crianças inocentes ou pessoas que foram boas a vida inteira sofrendo
- As coisas não tem explicação, lógico que seria melhor em um político corrupto ou em um bandido que tira uma vida mas infelizmente fomos os sorteados - falou calmo - Prefiro acreditar que se isso aconteceu comigo tem algum motivo
- É um bom jeito de pensar mas não acredito - falei e ele assentiu
- Respeito sua opinião - falou dando de ombros
Ontem tinha feito minha terceira sessão de quimioterapia, minha vontade é de ficar trancada no quarto mas meus pais, o Igor e o Pedro não deixam.
- Mãe - gritei me enrolando na toalha
- Aconteceu alguma coisa? - entrou correndo no banheiro
- Meu cabelo tá caindo - falei passando a mão e mostrando os fios
- Ele tá bem ralo, filha - falou pegando uma escova e começou a pentear - Se ficar saindo mechas
- Eu vou ter que cortar - falei segurando o choro - Vou parecer uma aberração
- Alice, não fala assim - falou calma e eu não consegui segurar as lágrimas
- Corta um pouco - falei abrindo a gaveta e pegando uma tesoura
- Não precisa ainda - minha mãe falou e eu limpei o rosto
- Só um pouco - falei confiante e ela pegou a tesoura
Eu sempre tive cabelo grande, confesso que me assustei quando vi ele no meio das minhas costas. Me arrumei e fui me encontrar com o Igor e o Pedro em uma lanchonete próxima a minha casa.
- Só pra constar que o amigo é meu - falei me sentando quando vi o Pedro no maior papo com o Igor
- Ih, não se matem por minha causa - Igor falou rindo
- Muito disputado você - Pedro falou rindo
- Estamos fechando o carnaval - Igor falou me olhando - Vários blocos pra gente ir
- E vamos fantasiados - Pedro acrescentou
- Vou de bailarina - falei me empolgando
- Vamos, querida - Igor falou afinando a voz - Adorei seu novo corte
- É tendência LLA - falei brincando e eles riram
- Ficou linda mesmo - Igor falou sorrindo
- Bem gatinha - Pedro falou me olhando
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Meu Ébano
FanfictionAlice é uma carioca de 22 anos que levava uma vida tranquila e sem muitas emoções ao lado da sua família e amigos, mas mudanças acontecem quando decidi fazer um trabalho voluntário.