- Alice Narrando -
Uma semana se passou e as coisas aparentemente estavam normal, percebi o Renan estranho porém esperei que ele viesse até mim conversar para não parecer invasiva, né? Hoje ele e a Júlia saíram mais cedo da ONG e pediram pra eu fechar.
- Tá indo pra casa, Douglas? - perguntei quando estava trancando a ONG e o mesmo parou pra falar comigo
- Sim - falou me olhando - Por que?
- Deixaram uns documentos urgentes pro Renan e eu preciso entregar - falei explicando
- Te levo lá - falou e eu subi na moto, não demorou muito e chegamos, quando íamos bater no portão escutamos vozes altas, mais precisamente do Renan e da Júlia
- O que tá acontecendo? - perguntei preocupada
- Não sei - falou pegando a chave no bolso
- Você tem chave daqui? - perguntei olhando pra ele
- Sim, ele também tem da minha - falou abrindo o portão e entramos
- Tia, isso é um absurdo - Júlia falou chorando - Fala pra ela, Renan
- Eu já falei, não tenho como obrigar - falou socando a parede - Ela não pensa no futuro, não tá pensando na gente
- O que tá acontecendo? - Douglas perguntou já que eles nem tinham nos notado - Lá de fora ouvimos vocês
- O que tá acontecendo? - perguntou irritado e eu vi as lágrimas descerem pelo rosto dele - Acontece que a minha mãe simplesmente resolveu que vai largar o tratamento, o médico falou que já está em um estado avançado e ela não quer - Renan falou inconformado - Eu não posso perder minha mãe
- Eu quero viver o que resta da minha vida bem e não sofrendo com o tratamento - dona Renata falou explicando e fungou - Não quero ficar doente com um tratamento que não vai me fazer bem já que não tem mais jeito
- Ué, mas tem que confiar no tratamento - Douglas falou calmo
- O atestado de câncer não é uma sentença de morte, por mais que pareça - dei uma pausa - É um convite irrecusável para a vida, dona Renata, a senhora tem que lutar
- Como? - falou e começou a chorar - Não mais jeito, a minha sentença está assinada
- E você vai simplesmente desistir? - Renan falou e ela ficou quieta - Você me ensinou a nunca desistir e está desistindo - limpou o rosto e eu respirei fundo - Você não pode fazer isso, não pode, mãe, eu estou te pedindo! O seu filho está implorando pra você lutar e não desistir - conforme ele falava o choro dele aumentava e a minha cabeça parecia que ia explodir
- Se você se recusar a fazer o tratamento a senhora não vai viver bem e simplesmente morrer dormindo - falei deixando algumas lágrimas caírem - Seu corpo com tempo vai perdendo as forças, a senhora vai ficar cada vez mais fraca e vai sofrer muito antes de simplesmente morrer
- Isso que ela não quer entender - Renan falou com raiva
- Se não for minha hora Deus não vai me levar - falou limpando o rosto
- Deus? - ri e neguei com a cabeça, olhei para o alto para impedir que as lágrimas caíssem mas não rolou
- Alice - Renan repreendeu - Eu sei que não acredita mas não precisa falar assim
- Vamos supor que Deus exista e ele tenha algum poder - falei e eles me olharam meio chocados pela forma que eu falei de algo que eles acreditam - A senhora acha que ele vai preferir salvar a senhora ou alguém que tá se cuidando e lutando pra viver? A senhora tem que lutar pra conseguir algo
- Eu conheço inúmeras pessoas que morreram ou ficaram em um estado muito triste com a quimioterapia - falou chorando - Eu não quero que meu filho e meu neto me vêem assim, não quero que eles sofram
- Até porque se você morrer não vamos sofrer - Renan falou debochado
- A quimioterapia funciona, pessoas vivem bem quando o tratamento da certo - falei baixo - Minha mãe vive bem, eu vivo bem, meu tratamento funcionou
- Como assim, Alice? - Júlia perguntou rápido
- Eu tive câncer - falei passando a mão no rosto e ficou um silêncio na sala
- Como assim você teve câncer? - Júlia perguntou se sentando no sofá
- Quando foi isso? - Renan perguntou me olhando
- Eu tinha 15 anos quando descobri - falei calma
- Mas você está bem? - Dona Renata perguntou e eu assenti
- Eu segui o tratamento, é difícil mas eu fiz ele todo - falei olhando pra ela
- Eu preciso deitar, minha cabeça tá explodindo - dona Renata falou indo pro quarto
- Por que você nunca me contou isso? - Júlia perguntou me olhando
- Foi uma fase muito difícil pra mim, Júlia, depois que eu fiquei bem só quis seguir minha vida - falei baixo
- Por isso você leva a vida tão saudável? - Renan perguntou tentando entender
- Sim, não que o que faço evite eu ficar doente mas também me tira do grupo de risco - falei explicando
- Que loucura - Douglas falou passando a mão na cabeça
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Meu Ébano
FanfictionAlice é uma carioca de 22 anos que levava uma vida tranquila e sem muitas emoções ao lado da sua família e amigos, mas mudanças acontecem quando decidi fazer um trabalho voluntário.