capítulo 6

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Os dias se seguiam em um cotidiano repetitivo para Ace. Estava resumido a ficar boa parte de seu dia em sua forma felina, até mesmo em seus momentos de descanso permanecia em sua metamorfose. 

Tal fato o deixava extremamente cansado e por consequência com fome. Mas de longe era a pior parte daquilo. Porque tudo pode piorar quando se trata de um vampiro que apenas ia para o mundo dos humanos para se alimentar e que agora tinha que comer, dormir e existir naquele lugar. 

Além de aguentar a fome, Ace tinha que acompanhar os inúmeros filmes que Marco colocava para assistir, sem contar os livros que passou a ler em voz alta pela presença do felino. 

Claro que, no fundo, o sardento gostara de um ou outro filme mais gore ou quando o loiro lia algum livro de terror ou suspense, mas isso não admitiria nem mesmo para si. 

Também não admitiria que a voz calma e levemente grave do outro por vezes o embalava suavemente em um sono tão bom e profundo que o fez relaxar demais quase a ponto de se metamorfosear de volta pela desatenção. 

Além disso, não se conformava com a ideia do loiro agir totalmente como um humano, — exceto quando precisava se alimentar — até mesmo tinha um emprego noturno em um pequeno restaurante da região. 

Para Ace, aquela rotina era totalmente sem sentido e desgastante demais para se querer por vontade própria. Já havia perdido a conta de quantas vezes o seguira até o restaurante e simplesmente pegara no sono enquanto o esperava em sua forma felina para ir para casa.

E tal acontecimento levava a alguns elogios e carinhos do loiro por lhe esperar para ir para casa, achando certa graça na atitude do felino em acompanhá-lo todas as noites como se fosse um cachorro. Óbvio que o sardento não se deixava abalar por aquelas palavras e afagos alheios, nem assumiria que olhava a cada dois minutos para o relógio que ficava do lado de dentro do restaurante, acreditando que quanto mais olhasse mais rápido o tempo passaria para poder voltar para casa e ouvir a voz alheia conversar consigo como se fosse lhe responder em algum momento.

Também não assumiria nem morto que depois de alguns dias naquela rotina já sabia exatamente o que o loiro faria ao chegar em casa: primeiro limparia alguma parte da casa, em seguida tomaria um banho e se sentaria no sofá para assistir um filme ou ler algo até pouco antes do amanhecer, quando se levantaria para fechar as janelas e tampar os vidros com as grossas persianas que não permitiam a entrada da luz solar. 

Ace até mesmo passou a ficar no sofá enquanto o loiro fazia seu processo de limpeza, claro que o fazia para apenas descansar o corpo, não para esperar o momento em que veriam um filme ou o escutaria ler para si. 

Contudo, teve uma noite em que foi diferente. Marco não o havia permitido sair consigo pela porta de entrada, a fechando logo que passou do batente. Tal fato fez o moreno sardento bufar irritado e seguir para a janela, notando que ela estava fechada com o trinco interno, o qual sua forma felina não alcançava. 

O moreno esperou longos segundos, acompanhando com seus instintos o loiro se afastar e quando teve a certeza de que estava longe o suficiente para ele não perceber sua presença vampírica, Ace se metamorfoseou em vampiro e abriu o trinco, empurrando as janelas para o lado em seguida. 

Assim que passou pelo beiral, voltou a se transformar em gato e seguiu os rastros da recente presença alheia. O moreno estranhou o fato do caminho não ser o de costume, o levando por ruas que não conhecia e das quais não saberia voltar caso não tivesse seus instintos e sentidos.

O sardento miou irritado ao entrar em uma rua movimentada, onde os cheiros fortes e as presenças humanas lhe deixavam um tanto confuso e perdido no meio de tantas informações. 

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