Capítulo 2 - O Serviço

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- Querida, quer alface? - Me perguntou papai durante o almoço.

- Não, obrigada. - Respondi.

- Você sabia que o alface possui baixíssimo índice calórico, o que ajuda a emagrecer e ainda possui nutrientes essenciais para a saúde e também tem vitaminas, minerais e fibras que equilibram o organismo e fortalecem o corpo, isso sem mencionar o fato de que a alface melhora a saúde dos olhos, previne a anemia, fortalece o sistema imunológico, entre outras coisas... - Diz Maytê.

Todos nós ficamos boquiabertos com ela. May era praticamente um dicionário ambulante, e acreditem se quiserem, mas uma vez o Fred que está dois anos adiantado da May no colégio, estava com dificuldade em matemática, num conteúdo bem chato e a gente não soube resolver a questão, a May leu os exemplos da professora e em cinco minutos resolveu tudo.

- Maytê, você precisa ser estudada urgentemente. - Falou meu irmão.

- Não, você que precisa estudar mais. - Disse May com um sorriso forçado.

- Alguém me passa coca cola? - Pediu Bryan.

- Eu convivo com vocês há quase 6 anos e ainda não entendo como vocês conseguem tomar esse veneno todos os dias, querem se matar, é? Um revólver seria mais rápido. Sabiam que isso aí é quase como tomar um copo cheio de açúcar e isso ainda é ácido, o que prejudica o esmalte dos dentes, podendo surgir até cáries, e por conta do grande índice de cafeína, isso pode tirar o sono e causar ansiedade, e nem vou mencionar o fato que isso é ótimo para quem quer ficar obeso e ainda pode causar problemas na pele, doenças sanguíneas e cardíacas e insuficiência renal. Por isso que eu prefiro o meu suquinho natural. - Disse Maytê.

- Você é tão estranha. - Falou Louise.

- May, você não acha que é muito novinha pra se preocupar com alimentação? - Perguntou papai.

- Talvez, mas melhor agora do que depois que for tarde demais.

Confesso que as vezes a inteligência da May me cansava um pouco, embora eu gostasse de aprender com ela, se bem que era pra ser o contrário, mas Maytê dava um banho em todos nós. Eu não lembro muito bem quando isso começou, se não me engano foi quando ela tinha uns 7 anos, nessa idade ela passou a pegar um gosto enorme pela leitura, e lia de tudo, desde um livro de poucas páginas até aqueles que parecem a bíblia, com 8 anos ela leu Harry Potter e a Ordem da Fênix em cinco dias, e o livro possui 703 páginas, tem noção do que é isso? Acho que eu demoraria no mínimo um mês pra ler um livro desse tamanho. Aos poucos, May foi começando a ler livros sobre filosofia, astrologia, e curiosidades em geral, claro que sempre controlamos o que ela lê para evitar que ela não lesse algo que não é para sua idade, pois apesar de tudo May ainda possuía sua pureza e inocência.

Ah, May não lembrava dos abusos que havia sofrido nas mãos daquele filhote do Diabo, apenas tinha pesadelos com ele, que eram uma espécie de flashback, achamos melhor deixar assim e não comentar que aquilo na verdade se tratava de lembranças, e a psicóloga da May falou que isso é perfeitamente normal quando uma criança sofre algum trauma, como se ela bloqueasse as lembranças que lhe causam dor. Eu queria ter passado por esse bloqueio também, acho que teria sido bem melhor.

Dou um selinho em Bryan, me despeço de todos e vou rumo ao meu serviço.

Assim que entro no meu carro, eu coloco o último CD do Luan Santana e pego estrada enquanto escuto o meu cantor preferido. Ah, eu tinha ganhado um carro do papai quando eu fiz 18 anos, eu quase não aceitei pois era um presente tão caro, mas ele insistiu tanto e a mamãe pagou minha auto escola, papai queria pagar, porém mamãe só deixou ele me dar o carro sozinho, se ela pudesse pagar minha auto escola, e aí ele acabou topando. Não demorei muito para aprender a dirigir, e quando aprendi, não parei nunca mais.

Logo que cheguei no meu trabalho fui recebida com um mega abraço da Madison.

- Você está atrasada! - Ela me diz ao cruzar os braços.

Olho as horas no meu relógio e percebo que ela tinha razão.

- Só cinco minutos.- Digo.

- Cinco minutos e meio. Que isso não se repita da próxima vez.

- Sim, senhora. - Falo me pondo a dar um beijo na testa dela.

Mad tinha 7 anos e eu achava ela uma figura, era esperta e ligeira. Ela estava no abrigo desde que eu inaugurei, foi uma das primeiras crianças a entrar, e eu praticamente a vi crescer. O pai da Mad, um rapaz de apenas 18 anos havia sido assassinado por traficantes quando a menina tinha apenas 3 meses, sendo assim, ela passou a viver apenas com a mãe, uma garota de programa e drogada que engravidou da Mad aos 15 anos, porém a jovem espancava a filha e um dia a menina foi levada quase sem vida para o hospital e por milagre conseguiu se recuperar, mas com isso, a mãe perdeu a guarda da filha, que acabou sendo levada para o meu abrigo.

De repente vejo Cauã em um canto, ele me olha seriamente, mas logo disfarça, achando que eu não percebi. Me aproximo vagarosamente dele.

- Oi. - Falo com um enorme sorriso.

Sem dizer nada, ele me olha seriamente e sai.

Cauã tinha 8 anos e estava conosco há seis meses. O motivo? O pai havia matado a mãe dele e estava preso, claro que o menino não sabia que o pai era o culpado e sonhava em um dia voltar a viver com ele. Desde que eu o conheci, nunca vi aquele menino sorrir, eu tentava de tudo, mas ele era muito fechado, quase não falava e nunca esbanjava um sorriso e nenhum outro sentimento.

Acho que esses casos são os piores porque a criança não diz o que sente e acaba guardando tudo pra ela, e isso não é bom, todo mundo precisa colocar pra fora o que seja, nem que tenha que chorar, gritar, quebrar tudo, mas precisamos demonstrar o que sentimentos de alguma forma. Mas algo me dizia que eu ainda conseguiria mudar essa história.

O Drama de Luna (2° temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora