Enquanto olho as agendas das crianças, vou observando eles brincando com a recreacionista, nem todos participavam das atividades, mas eu tinha um combinado com eles, todos estariam presente nas aulas, se eles quisessem participar, ótimo, se não quisessem, tinham que pelo menos ficar ali vendo os outros, não tinha de ''ai, eu não quero fazer essas atividades, vou pro meu quarto'', comigo, não.
Eu era a dona e diretora, comigo trabalhavam a Ana, a cuidadora, ela dividia comigo as funções de cuidar das crianças, tinha também a Margarida, que era da limpeza e o Alfred (sim, o antigo cozinheiro do outro abrigo), ele e Ana moravam no abrigo e juntos eles tomavam conta das crianças quando eu não estava. Dona Suzy, a diretora do abrigo que eu trabalhava havia falecido há cerca de um ano após sofrer um acidente de carro, com isso o abrigo foi fechado, e quanto as crianças, algumas foram adotadas, como a Malu, outras conseguiram serem reintegradas na sua família de origem, claro que com pessoas que não apresentassem perigo para elas, e outras crianças foram levadas para diferentes abrigos, algumas até para o meu. Já Alfred, como eu gostava dele e era de confiança, acabei chamando para trabalhar comigo, afinal, estava precisando de um cozinheiro mesmo.
Eu olhava para eles e sonhava com o dia que eu conseguiria a guarda dos meus tão sonhados filhos, pois mesmo trabalhando em abrigo com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, eu não podia tirar proveito disso para me beneficiar com a adoção, até porque seria ilegal, como se eu me aproveitasse disso para passar na frente de dezenas, talvez centenas de pessoas que aguardam há anos na fila.
Eu estava no meu carro voltando pra casa, quando paro em um semáforo, de repente escuto uma voz vindo da janela do meu carro, que me pega de surpresa, me assustando
- E aí gata, rola uma carona?
- Ai, que susto! - Digo ao vê-lo. - Nem te vi chegar. Entra aí.
Ele entra e senta no banco do carona.
Era Maxwell, ou como nós chamávamos, Max, ele tinha 20 anos e ele era um dos meus melhores amigos, nos conhecemos através de amigos em comum, e criamos uma forte amizade desde o primeiro instante.
Ah, acho que não contei para vocês, mas depois de tudo o que aconteceu, eu acabei percebendo que os garotos não são nenhum bicho de sete cabeças e que posso ser amiga deles sem medo, claro que não confio 100% em todos, mas posso dizer que minha lista de amigos aumentou bastante, eles já não me assustavam como antigamente, acho que eu havia amadurecido muito nessa parte.
- Como você me viu? - Pergunto. - Onde estava?
- Ah, vinha passando pela rua e te vi, claro que essa música alta chamou minha atenção, pensei ''quem tem o gosto musical tão ruim assim?'' Afinal, dá pra tirar essa porcaria?
- Hey, não fala do Luan. - Digo.
- Tá bom, mas se puder colocar um rock, te agradeço. - Fala Max.
Olho para ele com cara de reprovação, mas resolvo atender o pedido, até porque a regra do meu carro era clara, ele tocava qualquer tipo de música exceto funk, como rock não é funk, tive que aguentar aquelas porradas que pareciam que iam destruir minha cabeça.
- E o trampo? - Pergunta.
- Tá bem. - Respondo. - Vai lá pra casa?
- Adoraria, mas não vai dar, tenho treino de futebol mais tarde. Me deixa em casa?
- Ah, não sei, não tô de bom humor hoje, acho que vou te deixar aqui mesmo e você vai andando, dá só duas horas a pé. - Brinco.
- Ha ha ha, como amo teu senso de humor.
- Eu sei! - Digo com um sorriso forçado.
Deixo Max na casa dele e depois vou para a minha. Estava exausta do serviço, pois por mais que eu amasse meu trabalho, eu era ser humano e tinha dias que eu me cansava como qualquer outra pessoa ao voltar do trabalho.
Estaciono meu carro na garagem e assim que saio dele sinto um vento forte.
''Como esfriou.'' - Penso.
Noto diversos pássaros voando, fecho a porta do meu carro com uma leve batida, e quando me viro dou de cara com Rose, que acaba me assustando.
- Ai, Rose! - Falo ao colocar minha mão no coração.
Rose era uma mulher de 35 anos e ela era a nossa secretária do lar, afinal, uma família tão grande precisava de pessoas trabalhando na casa, e além da Rose, também tínhamos a Bárbara, que vinha só 3X por semana pra dar uma força pra Rose e tinha também o Edgar, que era o cozinheiro, mas ele só vinha algumas vezes por semana.
- Desculpa, menina Luna, eu estava organizando umas coisas aqui. - Ela diz. - Não queria te assustar.
- Tá tudo bem, Rose. - Falo. - Eu estava distraída, nem te vi aí.
Entro em casa e logo vejo Louise e Naomy correndo, como sempre, aquelas duas parece que não sabiam caminhar.
- Meninas, não corram. - Peço.
- Ah, mana... - Diz Louise fazendo ''beicinho''.
- Eu estou vacinada contra as chantagens emocionais de vocês. - Falo em tom de brincadeira. - Por que vocês não brincam nos quarto de vocês?
- Tá bem. - Falam ao mesmo tempo enquanto se retiram.
Largo minha bolsa no sofá mesmo e me sento um pouco, enquanto tiro minhas botas, já não aguentava de dor nos pés, porque no trabalho eu quase não paro.
- Oi, meu amor. - Fala Bryan ao me dar um selinho.
- Oi. - Digo. - Vou tomar banho pra repor minhas energias.
- Bom, eu estava pensando em fazer o mesmo, também cheguei há pouco do serviço. O que você acha de tomarmos banho juntos?
Ele fica me olhando com um olhar meio malicioso, o que me dá vontade de rir.
- Sabe que eu não gosto de tomar banho com você quando as crianças estão em casa.
- Eu sei. - Ele diz. - Mas vai ser rapidinho. As gêmeas foram pro quarto delas ver Frozen pela milésima vez e sabe que quando elas estão vendo esse desenho, elas não saem nem se a casa tiver pegando fogo. May recém começou a ler um livro novo e já disse que não é pra ninguém interrompê-la até a hora do jantar, e Fred e Analu foram na casa de uma amiga e ainda não voltaram. Então, partiu banho?
- Partiu. - Digo com um enorme sorriso.
Bryan e eu tomamos um banho tão gostoso juntos, e acho que fazia tempo que eu não conseguia tomar um banho completo sem alguém bater na porta por também querer tomar banho ou pra usar o banheiro, e se era alguma das meninas, Bryan ou Nick eu ainda tinha que parar meu banho pra abrir a porta pra (o) bonita (o) entrar e poder usar o banheiro, essa era uma das desvantagens de uma família grande, e na nossa casa só tinha três banheiro, o nosso, o dos empregados e um que era na suíte dos meus pais e só eles podiam usar, essa era uma das regras que foi criada após Fred entupir o vaso deles.
Enquanto a água cai sobre a gente, Bryan e eu nos beijamos e aproveitamos para fazer uma rapidinha, já que só conseguíamos transar quando íamos para o apartamento dele, pois uma vez estávamos no quarto dele na nossa casa, e estávamos começando a transar, nisso Analu entrou no quarto pra falar com a gente e foi por muito pouco, ainda bem que eu estava de sutiã, pelo menos, e deu tempo de eu me cobrir.
Assim que Bryan e eu terminamos de nos arrumar, eu escuto o grito de minha mãe, um grito alto, na hora eu senti que algo ruim havia acontecido. Bryan e eu corremos para o local de onde vinham os gritos.
- O que houve? - Perguntou Bryan.
E então percebemos o motivo de mamãe ter gritado. Era horrível.
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O Drama de Luna (2° temporada)
Mistério / SuspenseE aí, quem já estava com saudade da Luna, do Bryan e de toda a turma? Pois é, eles estão de volta. Cinco anos se passaram desde que Luan morreu. Agora Luna tem 21 anos, é formada em Serviço Social e tem seu próprio abrigo, ela cresceu e amadureceu b...