Carta 2

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Querida Tessa,

Eu a assisti ser apresentada a cada homem daquele salão.

Vi sua mãe carrega-la para os lados e introduzi-la em conversas que pareciam entediá-la mais a cada segundo.

Notei cada olhar que recebeu e pareceu não notar. Você era linda, que homem em seu juízo perfeito não a olharia?

Mas você seria minha e nenhum deles poderia fazer nada para mudar isso, eu só não sabia ainda como fazer para conquista-la.

Por um segundo, desejei ter experiência, ter feito as coisas diferentes quando meu pai me levou para aqueles bordéis baratos da cidade. Mas eu sabia que aprender tudo com você seria ainda mais especial e eu sabia que conseguiria isso.

Você foi a única que pareceu não me notar naquele salão, a única que não conferiu em sua lista de pretendentes se eu estava mesmo nela, e aquilo me instigou ainda mais.

- Quem é aquela? – Perguntei ao meu pai, depois dele ele chegar no encalço do rei e seus bajuladores.

Meu pai seguiu meu olhar e notei algo em sua expressão quando seus olhos verdes voltaram a se focar em mim.

- Aquela é a Srta. Hildegart, filha de um comerciante daquela ilha. – Disse ele, com o desdém que todos que conviviam com a família real tinham por Gruffin. – Dizem que seu pai tem uma grande vinícola e é um grande produtor, bom e rico comerciante, mas apenas um barão sem ligações ou influência.

As entrelinhas diziam o bastante, meu pai não a aprovava. Mas eu mudaria a visão dele, sabia como manipulá-lo quando queria.

- Ela tem um bom traquejo social e parece encantar muitas pessoas. Além de ser muito bonita. – Disse despretensiosamente.

- Não se deixe ser encantado por ela também, então. – Meu pai foi ácido.

Tarde demais, eu pensei, mas não disse isso a ele.

- Não estou. – A mentira saiu fácil. – Mas talvez ela seja uma boa opção. Gruffin pode ser recente, mas o senhor não pode negar que a influência da terra e do povo está crescendo muito, seria bom para os negócios. E talvez o dote dela inclua uma parte da tal vinícola.

Eu jogava na frente dele as palavras que meu pai queria ouvir, como uma pessoa que dá milho às galinhas para atraí-la e cortar seus pescoços.

Algo mudou em sua postura. Ele estava considerando.

- Pode ser uma opção. – Ele disse com um mínimo sorriso. – Tire-a para uma dança. Se a achar realmente boa, pode fazer uma visita amanhã. Vou tentar conversar com seu pai.

Eu apenas assenti, como se não me importasse, e a assisti indo para a pista de dança com outro cavalheiro.

Tudo para o meu pai eram negócios, boas alianças e o melhor futuro para Dempster. Eu precisava fazê-lo enxergar que, assim como o meu futuro, o de Dempster também era com aquela senhorita que nem havia me notado ainda.

Perdi Maitê de vista, só conseguia olhar para a tal Srta. Hildegart, você, na pista de danças. Seus acompanhantes tinham idade para serem seus pais, em sua maioria, e eu agradeci por os jovens serem poucos e a concorrência para mim ser baixa por enquanto. Lady Hildegart certamente não tinha boas ligações com jovens cavalheiros para apresentar a filha, uma falha que só me favorecia.

Eu dancei com algumas outras senhoritas, à mando do meu pai, e encontrei defeitos em cada uma que sabia que ele não perdoaria. Uma era facilmente intimidada pelo poder, outra era tímida demais para ser uma marquesa, outra tinha os quadris estreitos demais para parir – o que para mim não era um problema, mas usei aquilo para convencer meu pai de que não era ideal, analisando cada moça como se fosse um cavalo, como meu pai fazia.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora