Carta 5

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Querida Tessa,

Todas as vezes em que eu pensei no dia do meu casamento ao longo daqueles dezoito anos de vida, eu imaginava que não seria um dia grandioso – ao menos não para mim –, pois eu sempre soube que a união que eu teria seria um acordo comercial que fosse vantajoso para o meu pai e para o marquesado, nunca tinha tido a esperança de contrariar aquilo.

Mas naquele dia, o dia do nosso casamento, eu descobri que estava muito enganado. Dormir tinha sido difícil naquela última noite e eu tinha saído para uma volta pela casa, que estava cheia de coisas para a recepção do casamento. Eu estava tenso, ansioso e muito cheio de expectativas para o dia seguinte, não parava de fantasiar com o momento em que você entraria na igreja e nós dois seriamos declarados como casados.

Durante o meu passeio noturno, tinha encontrado Maitê pela casa, ela estava na cozinha, tomando leite morno com mel que a cozinheira havia preparado, ela dizia que aquilo ajudava a dormir e então eu acabei me juntando a ela na cozinha. Eu havia notado naquelas últimas semanas que a minha irmã estava tensa e um pouco afastada de mim, mas não a havia pressionado sobre nada daquilo.

E enquanto estávamos ali, na cozinha, com Maitê sentada sobre a mesa de trabalho, como a boa moça rebelde que era, ela me disse que estava receosa em ficar sozinha com nossos pais depois do nosso casamento, pois era eu quem a protegia das tentativas do nosso pai de vendê-la como um animal e, quando eu não estivesse mais em Dempster House, todas as atenções dos nossos pais estariam sobre ela. Apesar de parecer sempre muito rebelde e confiante em si mesma, minha irmã ainda tinha uma insegurança quanto a tudo aquilo, pois sabia que nunca poderia contrariar uma ordem do nosso pai e, se ele decidisse casá-la, ela teria que aceitar aquilo.

Confesso que fiquei um pouco mal pela minha irmã, apesar de termos nossas diferenças e desavenças, Maitê ainda era minha gêmea, tão parte de mim quanto um braço ou uma perna, mas eu não deixaria de estar ali para ela e continuaria defendendo-a, protegendo-a de qualquer tentativa do nosso pai de usá-la como moeda de troca. E quando Maitê se tranquilizou quanto àquilo tudo, me confessou com um sorriso que estava feliz em ter você na nossa família, como uma irmã que ela sempre sonhou em ter. Aquilo só me fez ter mais certeza ainda de que éramos perfeitos um para o outro, pois Maitê me conhecia muito bem e ver que ela gostava de você e a aprovava era a confirmação que eu não sabia ainda precisar.

Nós passamos aquela noite quase toda conversando, primeiro na cozinha e depois no meu quarto, como quando ainda éramos pequenos. Maitê sempre gostou de parecer forte e não deixar que ninguém visse suas fraquezas, mas no fundo ainda era uma menina inocente e com receio de muitas coisas, corria para a minha cama a qualquer sinal de tempestade até os doze anos e não podia ver um inseto em seu quarto que acordava qualquer pessoa em um raio de milhas de distância. Aquela noite me fez ver que ela ainda era aquela mesma menina.

E eu pensava sobre isso, com um sorriso no rosto, enquanto me arrumava para o casamento. Eu estava mais tenso do que nunca e o criado que me auxiliava não conseguia me fazer parar quieto. A gravata estava totalmente torta e minhas mãos transpiravam, trêmulas.

Meu pai apareceu no meu quarto com sua expressão neutra e séria. O vi pelo espelho enquanto ele dispensava o criado e se sentava na cadeira da minha escrivaninha sob a janela do quarto, virada para que ele pudesse manter seus olhos de águia sobre mim.

- Quando pretende me contar? – Ele perguntou, monótono, como se nada o abalasse.

E eu, sem entender, me voltei na sua direção.

- Contar o que? – Indaguei, sem entender.

A expressão séria dele caiu por terra e eu vi um olhar diferente do que ele sempre me dirigia. Meu pai nunca era nada além de sério e, quando fazíamos algo errado, repreensivo, mas naquele momento eu via compreensão e até mesmo carinho em seu olhar. Aquilo me surpreendeu de um modo estranho.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora