8. A aventura

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DEZEMBRO DE 1837,

HENRY LEVA TODOS PARA UMA AVENTURA NA NEVE.

- Proteja bem essas orelhas! – Tessa advertiu o futuro marquês de Dempster, que lhe deu um olhar de tédio bem típico dele e saiu correndo outra vez, agora com a touca protegendo as orelhas que já estavam vermelhas.

Ela se levantou, ao lado da irmã, e fitou a grande bagunça à sua frente. Henry tinha insistido em levar as crianças para andarem de trenó na neve e, naquele momento, eles escorregavam em uma grande descida coberta de branco, as crianças aprontando a maior algazarra. Tessa não fazia ideia de onde Henry tinha tirado aqueles trenós para, no máximo, duas pessoas, mas era fato que estava sendo bem divertido observar a felicidade dos filhos.

A respiração se condensava na frente dos seus olhos e todos estavam muito bem agasalhados para o frio, a pobre Olívia parecia uma pequena bolinha de agasalhos, mas até mesmo Charlote estava se controlando para não se preocupar tanto com possíveis resfriados naquele momento. Henry tinha razão em dizer que as crianças precisavam daquela experiência com a neve.

- Como você acha que estão as coisas em Hovedan? – Charlote indagou, ainda olhando para a frente.

Tessa deu de ombros, sem saber bem o que ela poderia dizer sobre aquilo.

- Acho que todos nós somos órfãos agora, ou então Sam é viúvo. – Sugeriu Tessa.

Sua irmã rira, ponderando aquilo.

- Não podemos dizer que a mamãe não está tentando. – Opinou Charlote.

- Isso é o que importa. – Tessa concordou com a irmã. – Sam é um Hildegart, mas também é um Bismarque, assim como a mamãe, e foi o que mais herdou algo dela nesse sentido. Os dois estão felizes e, aos poucos, vão acabar se entendendo e voltando a ser como eram antes, só que com esse pequeno detalhe que sempre vai estar ali.

Antes que o assunto pudesse continuar, Tessa notou a aproximação do seu marido, com um sorriso muito grande nos lábios. Aquilo não indicava coisa boa, ela sabia bem.

Henry agarrou a mão dela, puxando-a para perto de si, mas Tessa tentou resistir.

- Vem, Tess... – pediu ele. – Você não pode ficar só parada aí olhando.

- Ah, mas eu posso sim. – Contrapôs ela. – Essa aventura toda não é para mim, é muito... natalina.

Tessa morria de medo de fazer aquilo. E se tombassem e ela saísse rolando pela neve até lá embaixo? Quando ela chegasse na base da colina poderia já ser uma pedra de gelo em meio à uma bola de neve.

- Deixe de inventar desculpas. – Insistiu o marquês. – Será só uma vez e eu estarei com você. Se não gostar, não precisa ir de novo.

Buscando por ajuda, Tessa lançou um olhar para a irmã, mas Charlote apenas encolheu os ombros e lhe deu um sorriso de desculpas.

- Henry tem razão, você precisa se divertir também. – A traidora falou. – Você, por acaso, está doente?

- Vamos, Tess! – Henry insistiu, segurando-a pela cintura e erguendo-a do chão.

Tessa soltou um gritinho, assustada.

- Henry, não, por favor. – Pediu ela, desesperada. – Nós vamos cair. Não me solte. Por favor.

Ele ria do desespero da esposa. Se Henry, por um acidente, escorregasse em toda aquela neve... Tessa não gostava nem de pensar nos estragos que seriam causados.

Quando os pés dela voltaram a tocar o chão, estavam bem no topo da pequena colina pela qual eles escorregavam e Tessa viu, lá embaixo, seus filhos chamando por ela. Seu olhar voltou-se para o marido, ao seu lado, e todo aquele brilho contido em seu olhar e o sorriso cheio de expectativas não a deixavam negar, aquele era o homem com quem ela iria para qualquer aventura que ele lhe convidasse, não tinha como dizer não a ele, ainda mais quando ele lhe dava aquele sorriso tão confiante.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora