10. A carta

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DEZEMBRO DE 1837,

A CARTA DA MARQUESA.

Enquanto Tessa dormia sobre a cama dos dois, Henry fitava a imagem da esposa e tinha o envelope que recebera mais cedo em mãos. Já era noite, os dois tinham passado o dia todo em família e se recolhido depois de colocarem as crianças na cama, Henry sentia-se tão feliz quanto se era possível estar com tudo que acontecia em todas as áreas da sua vida, ele amava aquela mulher que dormia há poucos metros dele e sabia também ter o amor dela, nada poderia ser melhor que aquilo.

Curioso em descobrir as palavras escritas naquela carta que, pela espessura do envelope, devia conter várias páginas, Henry rompeu o lacre delicado em cera cor-de-rosa e abriu-o, tirando de dentro dele várias páginas com escrita dos dois lados. A luz do fogo da lareira era a única companhia do marquês para aquela viagem ao passado que a esposa lhe prometera sobre aquela carta.

Ele sorriu, lendo as primeiras palavras.

Querido Henry,

Não sou tão boa quanto você com as palavras, então já vou começar me desculpando. Acho que não sei expressar tão bem meus sentimentos em palavras, prefiro gestos, mas as cartas que me entregou como presente de casamento me motivaram a fazer o mesmo.

Sempre soube sobre seu lado da nossa história juntos, mas ler aquela narrativa detalhada me fez sentir ainda mais especial e quero poder contar também algumas coisas para você sobre o nosso passado.

Eu cresci e fui criada para ser não só uma boa esposa, mas uma lady de excelência, minha mãe se encarregou pessoalmente de imiscuir em mim as suas regras e ideais para que eu tivesse um bom casamento quando chegasse a hora. Eu nunca imaginei que teria algo mais do que um casamento que seria vantajoso para a minha família, não sonhava com uma grande paixão ou algo do tipo, e já estava conformada com isso quando fomos para o continente no meu début.

Naquele primeiro baile em que nos encontramos, eu realmente não acreditava que você estivesse me dedicando sua atenção. Eu estava ciente de todos os olhares femininos sobre você e parecia absurdo que um futuro marquês, tão jovem e bonito, estivesse dedicando sua atenção à filha de um simples comerciante. Mas você estava ali, sorrindo, dançando e flertando comigo, me prometeu uma visita no dia seguinte e tudo que eu pensei foi que isso não iria acontecer, não quis criar expectativas.

Mas eu criei. Esperei por você o dia seguinte todinho, sentada na sala de visitas da casa alugada. Você já sabe disso, mas eu o odiei naquele dia. Eu o odiei por não ter aparecido, por não ter cumprido sua promessa. Mas isso foi só até você aparecer e me ver ao piano, me aplaudir e me dar seu sorriso tão confiante em si mesmo.

Acho que, desde o primeiro momento em que você sorriu para mim, eu já deixei de pertencer totalmente a mim mesma, mas uma das regras da minha mãe era que eu só podia me apaixonar depois de já ter um pedido de casamento. Eu não queria me apaixonar por você, sabia que era jovem e que provavelmente não se casaria tão cedo, além de que deveria estar cortejando várias outras senhoritas.

Nós saímos para um passeio e, logo naquele primeiro encontro, você disse que nos casaríamos um dia. Eu o achei um louco, mas no fundo estava torcendo para aquilo não ser apenas da boca para fora, pois de alguma forma eu já sabia que estávamos destinados a sermos um do outro.

Entre encontros em eventos sociais e visitas em minha casa, eu acabei lançando mão de qualquer conselho da minha mãe. Meu coração já lhe pertencia totalmente em poucas semanas e, mesmo com vários outros pretendentes que surgiam, eu só conseguia esperar por você, ansiar pela sua próxima visita e torcer para que pudéssemos avançar mais com aquelas perguntas que, segundo a sua promessa, terminariam com o pedido de casamento. Eram perguntas demais e, antes da metade delas, eu já estava pronta para responder à última, pronta para dizer sim ao seu pedido de casamento.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora