Prólogo

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JUNHO DE 1837,

UMA SURPRESA.

O olhar de orgulho de Tessa e seu amplo sorriso não podiam ser escondidos enquanto ela observava os filhos na sala de música de Baker House.

Foram anos e anos sonhando com momentos como aquele e isso quase custou seu casamento, sua vida. As brigas com o marido, as armações que sofreram e cada mínimo detalhe daquela história traumática valia a pena ao ver aquele final feliz que conquistaram. Ela passaria por tudo de novo para ter Agatha e John ali daquela forma.

A menina de cabelos loiros como os de Tessa segurava o violino com um pouco de dificuldade, no auge dos seus seis anos de idade, Agatha ainda não tinha tamanho o suficiente para aquilo, mas insistia que queria aprender violino e que aquela era a sua paixão, não o piano, e ela dava o seu melhor para tocar o mais lindamente possível. Já John, idêntico à irmã na fisionomia e o completo oposto na personalidade, carregava um brilho diferente nos seus olhos azuis e se contentava com o piano como seu instrumento. E o menino também tocava bem, tão bem quanto a mãe, que sempre lhe ensinava as novas canções e o ajudava a alcançar perfeitamente as notas.

Naquele momento, os gêmeos tocavam em sincronia e o som inundava os corredores de Baker House além das portas abertas da sala de música. Tessa observava da porta enquanto eles ensaiavam com o tutor de música, sentindo o orgulho dominá-la por ver seus filhos, tão pequenos, mas já tão talentosos.

Tinham puxado à mãe, ela gabava-se.

Depois de ter passado anos sendo sufocada por tudo o que Dempster House significava e se sentindo infeliz lá, ela tinha finalmente cedido e, quando o casamento totalmente em ruínas começou a ser reerguido sobre uma nova base, Tessa confessara ao marido o seu desagrado quanto à propriedade ancestral da família dele. O casal ainda passava algum tempo na propriedade campestre não muito distante de Lamero, mas em geral era apenas para eventos oficiais ligados ao título, e eles residiam a maior parte do ano em Baker House, na cidade, pois assim poderiam ficar mais perto de Henry enquanto ele trabalhava no Delta da Coroa, no seu novo cargo como Secretário de Infraestrutura no governo de Eloá Campbell, um cargo que ele conquistara há não muito tempo, depois de todas as mudanças ocorridas no país.

Ainda com um sorriso no rosto, a marquesa de Dempster voltou a caminhar pelo corredor, seguindo em direção ao escritório do marido. A porta estava aberta e ela parou, vendo-o atrás da mesa enquanto analisava algum papel sobre o móvel, com um ar concentrado e a cabeça balançando-se levemente enquanto a música das crianças chegava até ali. Tessa se recostou no arco da porta e ficou parada ali, olhando-o, até que Henry percebeu a sua presença e, ao erguer o olhar, sorriu.

- O que faz aí? – Perguntou ele, cobrindo seus papéis.

Henry não era mais o mesmo, mas o que fazia Tessa pensar sobre isso não eram os mesmos motivos que no passado, quando via apenas distanciamento e frieza no marido. Agora ela via um homem maduro quando o olhava, um homem de quase quarenta anos, mas ainda conseguia ver aquele rapaz que a encantara quando olhava para o marido, via-o no seu sorriso e naquele brilho nos olhos negros, na forma como ele passava a mão pelos cabelos pretos e lisos quando estava irritado ou ansioso, na forma como caminhava com confiança ou naquele seu tom carinhoso quando falava com ela, tão decidido e confiante em si mesmo quanto quando lhe dissera, no primeiro encontro deles, as palavras: nós ainda vamos nos casar.

- Estava só o observando. – Ela disse, avançando para dentro do escritório. – O que está fazendo?

Henry deu de ombros e fechou uma caixa que estava sobre a sua mesa, colocando-a de lado. Os papéis aos quais ele analisava também foram cobertos por outras pastas.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora