DEZEMBRO DE 1837,
"NÃO HÁ NADA VELHO AQUI"
Tessa ainda estava deslumbrada com aquela casa toda. Tinha alguns dias que eles tinham chegado ali, mas a cada nova hora ela descobria algo que a encantava mais naquele lugar.
Henry tinha dado dicas sobre algumas coisas da decoração, fazendo perguntas sobre ela preferir uma coisa ou outra, pedindo ajuda com a cor de algum cômodo ou coisas do tipo, ela também tinha participado de uma reunião com a decoradora que estava cuidando de tudo, mas nada a preparara para aquele resultado final. A casa tinha um pé direito altíssimo e janelas amplas que permitiam a entrada de muita luz natural, todos os tons eram claros e os pisos das áreas sociais eram em mármore branco com cinza, haviam muitos lustres de cristais em vários cômodos e tudo ali exalava requinte, mas não era como em Dempster House, que a assustara quando ela entrara na casa pela primeira vez, no seu jantar de noivado, as coisas ali eram aconchegantes, apesar de amplas, e não tinham aquela sobriedade formal que a casa ancestral da família de Henry possuía.
Charlote parecera tão embasbacada com aquilo tudo quanto Tessa ficara. Era a casa de uma princesa, não de uma marquesa, e devia ter custado os dois olhos da cara para poder tornar aquilo real. Apesar disso tudo, Tessa estava encantada e ansiosa pelos momentos que viveriam em família ali e pelos anos de aposentadoria que teriam no futuro.
Os aposentos principais ficavam no segundo andar e, como Tessa vira na planta, não eram aposentos formais, apenas um amplo e elegante quarto com banheiro anexo e quarto de vestir igualmente amplo. Tessa chegou ali naquela noite e foi direto para o banheiro, a criada já estava saindo depois de preparar o banho, ela se oferecera para ajudar Tessa, mas ela dispensou os serviços, querendo ficar sozinha e relaxar um pouco ali. Eles tinham tido um ótimo jantar em família e todas as crianças já tinham sido postas na cama, sua irmã e seu cunhado também tinham ido para os seus aposentos e somente Henry ainda não tinha se recolhido, dissera ter um assunto a resolver antes de subir para o quarto.
Ela estava dentro da banheira, com espuma cobrindo-lhe até o pescoço, quando a porta do banheiro se abriu lentamente e Henry apareceu ali com um sorriso tranquilo e as mãos nos bolsos da calça, lançando um olhar demorado a ela.
- Onde você esteve? – Tessa perguntou, curiosa.
O seu marido avançou para dentro do banheiro que era revestido por mármore preto e aço polido, a banheira era ampla o suficiente para acomodar duas pessoas e Tessa entendeu as pretensões de Henry assim que ele soltou a gravata e começou a abrir os botões da camisa.
- Estava apenas resolvendo algumas questões com os criados. – Ele deu de ombros, deslizando a camisa pelos braços. – Será que agora eu posso me juntar a você nessa banheira ou vou ser interrogado? Eu estou precisando muito relaxar...
Tessa sorriu pelo olhar pidão do marido. Ele era um homem de quase quarenta anos agora, trinta e oito, para ser exato, e por alguns meses do ano, inclusive, Tessa era mais velha que o marido, e ver aquele seu olhar que o deixava com uma carinha de um menino de sete era muito engraçado. Apesar de John ter herdado muito de Tessa, fisicamente, ele era totalmente como o pai na personalidade, desde o seu primeiro passo já tinha aquela sua confiança nata e estava sempre com o queixo erguido e, mesmo sendo repreendido por uma arte, não se abalava.
- Acho que podemos deixar o interrogatório para depois. – Tessa respondeu, sabendo que Henry provavelmente estava organizando alguma surpresa para não querer falar sobre aquilo. – E talvez eu possa ajudá-lo a relaxar. Essa banheira ainda não foi batizada.
Ele sorriu, travesso, e Tessa assistiu enquanto Henry tirava os sapatos, as meias, as calças e todo o restante das suas roupas. Não importava quantos anos qualquer um dos dois tivesse, Tessa sempre seria afetada pela presença daquele homem, pela imagem do corpo dele diante do seu daquela forma – nem mesmo nos anos ruins deles ou quando sua mente se esqueceu de toda a sua vida de casada aquilo mudou – e quando Henry caminhou para dentro da banheira, ela indicou que ele se sentasse à sua frente, de costas para ela.
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As cartas do marquês
Ficción históricaConto especial de "Amor esquecido" - Os Hildegart. Em 1817, Henry Baker se apaixonou assim que colocou os olhos em Tessa Hildegart. Seus planos para uma vida mudaram por conta disso e ele se viu vivendo um conto de fadas ao lado da senhorita que o e...