2. A despedida

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DEZEMBRO DE 1837,

A FAMÍLIA SE DESPEDE PARA AS FESTIVIDADES.

Ansiedade era uma boa palavra para definir o que Tessa sentia naquele momento.

A família Hildegart toda estava reunida na frente de Baker House, prontos para se separarem e cada um seguir seu caminho para as celebrações de fim de ano. Margot, Nate, Elisa e as crianças seguiriam para Hovedan com Sam, para um natal juntos no qual as coisas podiam piorar ou melhorar muito na relação de mãe e filho; Henry e Tessa com os filhos iriam para Drake Ridge, onde passariam o natal e o ano novo, e Charlote, Levi e os quatro filhos iriam junto deles, enquanto Sarah seguiria com eles até Gruffin, onde fariam uma parada, e passaria o fim de ano junto da família de Simon para reencontrar o marido depois de anos sem vê-lo.

Toda a ansiedade de Tessa se devia ao fato de que aquela era a primeira vez que ela iria para Drake Ridge, a pequena ilha particular há dois dias de viagem de Gruffin, depois que começara a construção da casa que Henry planejou como presente pelos vinte anos de casamento dos dois. Ela tinha visto os projetos naquela semana do aniversário, quando recebera do marido as cartas narrando o passado dos dois e que fizeram-na reviver cada um daqueles momentos, mas ainda não conhecia a casa construída na propriedade e apenas Henry tinha ido até lá para verificar todo o andamento da obra.

- Já se despediu da mamãe? – Sam perguntou, parando ao lado dela enquanto o restante das malas era colocado na carruagem. – Pode ser que não a veja mais depois desse fim de ano.

Ela se virou para o caçula com a testa franzida.

- Pretende matar a nossa mãe, Samuel?

Ele lhe deu um sorriso amarelo.

- Eu? De forma alguma. Mas certa pessoa ainda tem suas diferenças com ela depois de todos os acontecimentos do último ano e o risco de os dois voarem nos pescoços um do outro sempre existe. – Ele deu de ombros. – Prometo tentar mantê-la viva.

Tessa riu.

- Certo, mas tome cuidado, ok? Tenha paciência com ela, essa coisa toda ainda é novidade para ela. – Aconselhou Tessa, tentando apaziguar tudo, como sempre. Ela tinha tido muito trabalho para abrir os olhos da mãe depois de tudo que acontecera entre ela e Sam antes do casamento do irmão. – Se tudo der errado, prometa alguns netos para ela e tudo ficará bem.

Sam assumiu uma careta que enrugou seu nariz.

- Acho que não é o momento. – Ele deu de ombros. – As coisas ainda são complicadas quanto a isso.

Com um assentir, Tessa concordou. Não queria pressionar o irmão. As coisas em Egleston podiam estar mudando, mas ainda não era tão fácil assim, não era só porque o nome do reino mudara e a monarquia não era mais absolutista que tudo ali era mil maravilhas.

- Vocês ainda podem se juntar à nós. – Tessa convidou outra vez. – Henry se encarregou em construir muitos quartos em Drake Ridge.

Sam sorriu, mas negou.

- Vamos fazer algumas ações importantes nos cortiços de Hovedan, há muitas pessoas lá que precisam de ajuda. – Relembrou ele. – Acho que o povo está gostando mesmo de mim por lá.

Tessa sorriu, com orgulho do irmão. No fundo, da forma que realmente importava, Sam ainda era o mesmo e nunca mudaria.

- Eles devem mesmo ficar felizes com o novo... como eu devo chama-lo, duque? – Brincou ela. – Consorte?

O irmão revirou os olhos.

- Segundo a princesa Eloá, sou apelas o Lord de Hovedan. – Explicou ele. – Não podem haver dois duques. Talvez eu seja um Sir ou algo cerimonial.

Tessa deu um tapinha no ombro dele.

- Decepcionante. – declarou. – Se você tivesse se tornado um duque, a mamãe aceitaria bem mais fácil.

Sam gargalhou enquanto Tessa se afastava dele.

- Você é péssima! – O irmão exclamou enquanto Tessa abaixava-se de frente para John e arrumava a roupa do menino e seus cabelos bagunçados.

Com uma expressão de nojo, o pequeno de cabelos loiros e olhos azuis limpou o beijo da mãe com uma mão. Aparentemente, o menino de seis anos já tinha chegado à fase de ter vergonha das demonstrações de afeto da mãe. Dalí para fugir de casa durante as noites e aprontar pelas ruas era apenas um passo.

Tessa estremeceu com o pensamento.

- Coloquem Alf na carruagem e subam também. – Ela mandou, terminando de arrumar a gola de Agatha também.

O minúsculo pug francês, de pelagem toda preta, estava aos pés do menino. Apesar de ser muito maltratado por John e Agatha, o pobre cão ainda assim não saía de perto deles.

- A tia Sarah pode ir com a gente? – Perguntou Agatha, com as mãos unidas à frente do corpo.

- Ela irá. – Tessa relembrou. – Mas ficará em Gruffin quando pararmos lá.

A menina pareceu feliz e, com a ajuda da sua babá, subiu na carruagem, o irmão indo logo atrás com pobre pug sob o braço como um pequeno saco de farinha.

Não adiantava quantas vezes ela dissesse para não fazerem aquilo com o cão, John sempre o carregava daquela forma.

Margot aproximou-se da filha com um amplo sorriso e seguiu o olhar de Tessa até a cena de John soltando Alf dentro da carruagem.

- Não repreenda meus pequenos. – Margot a repreendeu. – Está na cara que o cão gosta de ser tratado desta forma.

- Claro que gosta. – Ironizou Tessa. – Quem não gostaria de ser girado no ar e apertado por mãos serelepes vinte e quatro horas por dia, não é mesmo?

Margot revirou os olhos, ignorando deliberadamente as palavras da filha.

- Nos veremos em breve, certo? – Indagou ela. – Assim que voltarem do fim do mundo, escreva para mim e vamos marcar para passarem algum tempo em casa conosco.

Tessa assentiu, concordando, mesmo sabendo que a agenda de Henry seria um pouco apertada para o próximo ano. Ele estava cada vez mais engajado na situação política do reino e, por isso, trabalhava muito.

- Claro que sim. – Ela sorriu. – A senhora sabe que não vou fugir mais.

A mãe sorriu e concordou.

- Espero que se divirtam juntos no fim de mundo e que seja feliz, querida.

Ela riu das palavras da mãe. Margot claramente não gostava muito de Drake Ridge, ela dizia que era isolado e distante demais, apesar de ficar mais perto de Gruffin do que o continente.

Tessa abraçou a mãe e se despediu, fazendo o mesmo com toda a família logo em seguida e deixando-os para trás quando cada um assumiu sua carruagem. Eles e a família de Charlote, mais Sarah, seguindo para o porto, e Nate com sua família, Margot e Sam, para o norte. 

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora