Carta 10

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Querida Tessa,

Estava com medo.

Estávamos voltando para casa depois de quase três meses fora e eu não sabia o que esperar. Tinha medo de estourar aquela bolha de felicidade em que estávamos e acabar descobrindo que tudo que vivemos era somente um sonho. Às vezes eu me pegava pensando sobre isso, se era possível alguém ser totalmente feliz daquela maneira ou se era somente um tipo de peça pregada pelo destino, um sonho muito louco do qual eu acordaria em algum momento e veria que ainda estava em Dempster House.

Naquele momento, enquanto eu me encontrava na popa do navio que nos levava para Fernsby de volta, com a noite estrelada sobre mim, eu me pegava pensando mais uma vez sobre isso. Havia um peso sobre o meu peito que eu nunca poderia esquecer, era como se, de alguma forma, eu sentisse que algo daria muito errado ao colocarmos os pés em Lamero e que eu deveria fugir o mais rápido possível.

Infelizmente, não fugi. Eu fiquei ali, olhando o mar e pensando sobre as últimas semanas, até que senti os braços esguios ao redor da minha cintura e o corpo colado às minhas costas, o queixo bem sobre a minha coluna.

- Você parece pensativo. – A voz feminina comentou, abafada contra minhas costas. – O que faz sozinho aqui?

Segurando-a pelos braços, a trouxe para a minha frente e a coloquei contra a amurada, virando-a de frente para mim e depositando um beijo na testa delicada.

- Estava apenas pensando. – Respondi com um sorriso tranquilo. – Não sei se quero voltar para casa.

Um riso baixo escapou de você enquanto eu colocava uma mecha de cabelos loiros atrás da orelha delicada.

- Falei para ficarmos em Edimburgo. – Falou você, com um suspiro meio desanimado. – Não quero nem pensar nas responsabilidades que nos esperam em casa. Eu ainda tenho que encontrar uma nova governanta. Por que a Senhora Anderson tinha que ficar doente e se aposentar?

- Peça a ajuda da minha mãe. – Aconselhei, virando-a de costas para mim e acomodando seu corpo contra o meu, meus braços envolvendo a cintura fina. – Tenho certeza de que, se ela não tem uma criada para indicar para o posto, poderá arranjar alguém disposta a assumir e que seja qualificada.

Sua resposta foi um assentir enquanto observávamos o mar estrelado que refletia o céu. Aconcheguei o queixo contra o ombro exposto pelo vestido. O céu noturno era a única companhia ali e o barulho do restante da tripulação estava distante.

- Por enquanto, vamos apenas apreciar o mar e aproveitar esse momento. – Sugeri, beijando a pele sensível sob a orelha.

O seu corpo relaxou, como o esperado por mim, e senti o volume do traseiro dançar lentamente contra o meu membro em um movimento que pareceu involuntário, mas que me excitou.

- Eu estava pensando em redecorar algumas salas de Baker House... – o comentário saiu despretensioso enquanto você observava o mar, apoiando as mãos na amurada, e deduzi que aquele movimento de quadril anterior não foi proposital.

- É mesmo? – Indaguei, apenas para ouvi-la falar. – E o que está pensando em fazer?

Coloquei os cabelos de lado, beijando delicadamente o pescoço lindo. Senti a pele arrepiar com o contato.

- Pensei em colocar um fortepiano na sala de música. Também quero trocar os papéis de parede da sala de música e da sala de visitas, redecorar o Salão Cinza... acho entediante demais, sabe?

- Uhun... – murmurei, chupando o lóbulo delicado da orelha. – O que mais?

O quadril roçou outra vez contra o meu. Nada despretensioso dessa vez, sem dúvidas.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora